Najla Passos
Da Editoria
Conhecida por fabricar os rocamboles mais gostosos de Minas Gerais, a pequena cidade de Lagoa Dourada, a 35 quilômetros de São João del-Rei, tem enfrentado um verdadeiro dilema para manter seus 12,2 mil habitantes em segurança nestes tempos de pandemia de Covid-19.
Situada às margens da BR-383, Lagoa Dourada atrai muitos turistas em busca dos quitutes que a fazem famosa. E muitos deles não parecem nem um pouco dispostos a cumprir as medidas de segurança para manter o isolamento social necessário à saúde do município.
Foi o que aconteceu nesta terça (21), feriado de Tiradentes, quando um grupo de mais de 15 motoqueiros decidiu visitar a cidade para comprar rocambole. E deixou a população de Lagoa Dourada em pânico.
Com as placas das motos identificadas como sendo da capital Belo Horizonte, área de contaminação comunitária de novo coronavírus, eles fizeram chacotas com os moradores que os alertavam para adotar medidas de segurança e manter o distanciamento social.
Por volta das 11 horas, os motoqueiros visitaram as lojas de rocambole de duas fábricas que ficam as margens da BR-383. E os moradores flagraram os donos dos estabelecimentos descumprindo a decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), que os obriga a atender os consumidores nos veículos.
Batalha judicial
O procurador-geral de Lagoa Dourada, Eduardo Henrique de Resende, afirma que o tumulto provocado pelos motoqueiros foi um caso pontual, mas ressalta que o episódio comprovou que os estabelecimentos não estão cumprindo as normas de segurança, o que coloca toda a população da cidade em risco.
De acordo com ele, já prevendo o problema, a Prefeitura de Lagoa Dourada emitiu, no dia 21 de março, um decreto emergencial proibindo as padarias da cidade de comercializarem o rocambole. Entretanto, os rocamboleiros entraram com uma ação na Justiça contestando o decreto e uma liminar emitida pela 2ª Vara Cível da Comarca de São João del-Rei revogou a decisão, autorizando a comercialização do produto.
No dia 16 de abril, a Prefeitura emitiu novo decreto emergencial, estabelecendo que as padarias só poderiam atender com entrega em domicílio ou com balcão na entrada do município, para retirada expressa. E recorreu da decisão liminar de 1ª instância ao TJMG.
O órgão manteve a decisão liminar da primeira instância, mas impôs restrições ao comércio de rocambole. Entre elas, a de que o produto só poderia ser vendido fora dos estabelecimentos comerciais, por meio de entregas delivery ou em sistema drive thru, quer dizer, entregue para consumidores que estivessem dentro dos seus veículos.
“O fato ocorrido na terça mostra que os vendedores de rocamboles não têm estrutura para cumprir as condições impostas”, afirma o procurador, que irá comunicar a Justiça sobre o ocorrido ainda nesta quarta (22).
Erro na confirmação do 1º caso
Para agravar ainda mais o pânico na cidade, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) confirmou a ocorrência do primeiro caso de Covid-19 no município, nesta quarta. A notificação, entretanto, diz respeito a uma mulher são-joanense que descumpriu o isolamento social e esteve no município visitando parentes, como informou o Notícias Gerais.
Mesmo assim, a população dividiu preocupação e pânico nas redes sociais. “Mesmo que a paciente seja de São João del-Rei, ela esteve no município, circulou por aqui e interagiu com as pessoas”, disse um morador que pediu para não ser identificado.