Ana Laura Queiroz
Notícias Gerais
O primeiro dia de dezembro foi marcado por filas quilométricas e descaso com a população do município de São João del-Rei. Centenas de pessoas se aglomeraram em frente à Caixa Econômica Federal, no centro da cidade, por horas a finco, na tentativa de conseguir acesso ao dinheiro do Auxílio Emergencial e demais auxílios do governo federal.
Como mostra o tamanho das filas em frente ao banco, o mês natalino neste ano começa diferente. Por conta da pandemia e da crise econômica que assola o país, a população que em dezembro dos últimos anos costumava ir às ruas para fazer compras, agora enfrenta o sol quente do meio dia para sacar a última parcela de R$ 300 do Auxílio Emergencial.
O NG foi às ruas para saber mais sobre a realidade que boa parte da população de São João del-Rei enfrenta.
“Estou aqui desde às 8 horas da manhã. O pessoal não vem falar nada com a gente, deixa a gente no sol e não sabemos nem se vamos ser atendidos. Isso é uma falta de consideração”, comenta Geralda, que já estava na fila há mais de quatro horas.
A reportagem permaneceu no local por 5 horas e pôde observar a precariedade da estrutura, do atendimento e do suporte para a população. O estresse e o desgaste de permanecer em pé por tantas horas reflete nos rostos cansados na fila. Não há banheiro disponível fora do banco, a cobertura contra o sol é mínima e contempla uma pequena parte da fila. Não há, tão pouco, fiscalização do distanciamento social, nem do uso constante de máscara.
Para Tiago, de 28 anos, que vende água na fila em frente ao banco desde o começo da pandemia, a situação já se tornou comum. O jovem atesta que o tamanho das filas é o mesmo desde o início da crise da Covid-19 e que se sentiu motivado a vender seu produto ali por se solidarizar com as pessoas em espera. “As filas sempre foram iguais. Aqui tem bastante gente e imagina deixar o pessoal com fome, sede…então fico aqui. As pessoas me procuram.” diz.
Quanto à fila preferencial, a situação é preocupante. O atendimento é lento e idosos, gestantes e adultos com crianças de colo se colocam em risco com a aglomeração. “Já fiquei aqui por pelo menos 2 horas. A fila preferencial nem parece preferencial, é bem difícil”, conta Raruza, enquanto carrega seu sobrinho no colo.
Roubo do FGTS
Por conta da pandemia da Covid-19, o governo federal autorizou o saque emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Este dinheiro se tornou essencial para os trabalhadores e famílias atingidas pela crise. Entretanto, o sistema de saque do Fundo não se mostrou seguro e algumas pessoas tiveram seu dinheiro roubado.
“Eu vim aqui sábado (28), fiquei aqui na fila enorme, cheguei no caixa para receber e já tinham sacado meu FGTS.” relata Claudomiro, 50.
Com preocupação, ele conta à reportagem que buscou a Polícia Civil do município e registrou um Boletim de Ocorrência. Retornou, então, nesta terça, 1º de dezembro, para tentar negociar novamente seu Fundo de Garantia. “Isso aqui é uma falta de respeito com o ser humano.” completa.
Pandemia e isolamento social
A Caixa Econômica Federal mudou sua estrutura de funcionamento por conta do novo coronavírus. Agora as filas se formam do lado de fora da agência e a entrada é contada por senhas. Dentro do banco, a fiscalização do uso de máscaras e distanciamento social é feita pela equipe de seguranças que permanecem atentos a todo o movimento do local.
Já do lado de fora, a fiscalização é inexistente. Com o retorno do município à onda amarela do Programa Minas Consciente e o aumento de casos de Covid-19, a população se mostra preocupada. Mas sem alternativas, se vê obrigada a enfrentar o medo do vírus.
“Sobre a pandemia estamos passando por esse risco… Mas o que a gente pode fazer? A gente precisa, é o único recurso.” diz Geralda, na fila.
Já Tiago, vendedor de água, aposta sua confiança em sua espiritualidade. “Me dá medo, mas a gente confia em Deus”, afirma.