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SEM COVID-19, MAS COM DESEMPREGO EM ALTA, TIRADENTES SE DIVIDE SOBRE RETOMADA DO TURISMO

Foto: Daniela Mendes

Carol Rodrigues
Notícias Gerais

Tirantes foi eleito o sexto melhor destino turístico do Brasil em 2019, com base nos votos de mais de 25 mil leitores do guia Melhores Destinos. Mas abriu mão de sua principal atividade econômica e fechou as portas para o turismo em 23 de março, logo depois que a Covid-19 aportou no país e começou a fazer suas vítimas.

Os resultados foram positivos no enfrentamento à pandemia. O pequeno município de menos de 8 mil habitantes não possui nenhum caso confirmado de infecção pelo novo coronavírus. Entretanto, amarga a maior taxa de desemprego da região, conforme os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). E esta opção entre a saúde e o emprego agora divide a cidade.

Design: Lucas Maranhão

Segundo a Prefeitura, o município aderiu ao programa Minas Consciente, do governo do estado, para reabertura gradual do comércio a partir do próximo dia 19. O Governo do Estado, porém, não contabiliza o município entre os que já formalizaram a adesão ao programa, conforme relatório desta terça (2).

Em meios às dúvidas, a tensão aumenta no município. A decisão do Governo do Estado de incluir hotéis e pousadas como parte dos serviços considerados essenciais, divulgada na última quinta (28), tem levantado ainda mais discussões. 

Alvará Covid-19

Para a volta do funcionamento do comércio, a Prefeitura está organizando, junto aos comerciantes, uma série de ações preventivas. O objetivo, conforme a administração municipal, é que a reabertura possa ser feita de forma segura e sob fiscalização. 

Tiradentes adotou o chamado “Alvará Covid-19”. Os estabelecimentos só serão autorizados a voltar a funcionar se tiverem o documento. Durante a retirada, o comerciante deverá assinar um termo de compromisso com diretrizes e normas que devem ser seguidas rigorosamente. 

Além disso, de acordo com a Prefeitura, antes que o comércio seja de fato reaberto, todos os comerciantes irão passar por treinamentos. Assim, a organização municipal espera que essas pessoas estejam capacitadas quando as portas puderem ser abertas. 

Para parte da população, porém, o treinamento minimiza os riscos. mas não o neutralizam.

População se organiza 

Para tentar barrar a flexibilização do comércio, a população tiradentina tem se mobilizado. O principal medo é que a cidade receba muitos turistas, que podem espalhar o vírus da Covid-19 pela cidade. 

O grupo tem a intenção de manter diálogo com as autoridades e empresários do município. “Por que a opinião de um empresário que veio para cá abrir seu negócio vale mais do que a opinião de um idoso que nasceu aqui?”, questiona Tatiane Barbosa, que está a frente da movimentação popular. 

De acordo com a tiradentina, que trabalha como camareira em uma pousada, a maior preocupação do movimento é com a chegada de turistas na cidade após a reabertura. “Quem trabalha não vai ter saída…vai [trabalhar] com medo mesmo”, justifica. 

Representantes do grupo se encontraram na manhã desta terça-feira (2) com o prefeito de Tiradentes, Zé Antônio do Pacu (PSDB). Segundo Tatiane Barbosa, o prefeito prometeu incluir o movimento nas próximas reuniões do Comitê Gestor Covid-19.

A dona de uma pousada em Tiradentes, Gilmara Costa, comenta que, mesmo se o comércio for reaberto, ela não pretende, por enquanto, aderir e manterá as portas fechadas. A moradora é contrária a decisão de flexibilização e faz parte do movimento popular. 

Além do medo de receber turistas, a decisão também esbarra em questões financeiras para a equipagem do estabelecimento e funcionários. “Para reabrir, vc tem que está preparado com todo o aparato que se pede no protocolo [Alvará Covid-19]. Tem que ter dinheiro, vai ter que gastar, […] porque não pode reabrir de qualquer forma”, esclarece. 

O grupo também criou a hashtag #NenhumTiradentinoAMenos e abriu um abaixo assinado online contra a flexibilização do comércio na cidade, que já contava com mais de 400 assinaturas, até a publicação desta reportagem. 

Opinião do empresariado

Nesta segunda-feira (1), o Comitê Gestor Covid-19 se encontrou com empresários e comerciantes da cidade para debater acerca da reabertura do comércio, segundo nota publicada pela prefeitura. 

De acordo com a nota, o empresário Lúcio Barbosa, dono de um resort na cidade e membro da Associação Empresarial de Tiradentes (ASSET), se colocou a favor da decisão de flexibilização.

“O desemprego vai aumentar, precisamos abrir. A prefeitura cobrou o alvará e a capacitação e os empresários fizeram a sua parte, houve grande adesão”, defendeu. 

Procurada pela equipe do Notícias Gerais, a ASSET disse ainda não ter uma posição oficial do órgão sobre a flexibilização do comércio. Segundo a presidente, Rejane Cunha, uma pesquisa está sendo feita com os associados. 

Além disso, a presidente diz que a associação está trabalhando para que os empresários estejam “capacitados para iniciar o retorno ao trabalho com grande senso de responsabilidade”, mas não deu maiores explicações. 

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