André Frigo e Carol Rodrigues
Notícias Gerais
O avanço da Covid-19 para o interior de Minas Gerais e o consequente aumento de casos da doença nas cidades das macrorregiões mineiras desperta vários temores entre a população. Um deles, que vem sendo destacado pela mídia nacional, é a questão da falta de vagas nos cemitérios para que as vítimas fatais do novo coronavírus tenha um enterro digno e evitar que sejam enterradas em valas comuns, onde os familiares não poderiam, no futuro, prestar as devidas homenagens.
Durante levantamento feito pelo Notícias Gerais em três cidades da região, foi constatado que, nessas cidades, as vagas ainda não são um problema e que os administradores dos cemitérios estão atentos quanto a evolução da pandemia de Covid-19.
Sem mortes confirmadas, Barroso mantém vagas em cemitérios
Em Barroso, nenhuma morte por Covid-19 foi registrada até o momento. Segundo Sávio Lamounier, responsável pela administração, atualmente, a cidade possui dois cemitérios paroquiais: o de Santa Maria e o Porta do Céu.
Para Lamounier, o Cemitério de Santa Maria, no entanto, conta agora somente com sepulturas perpétuas, ou seja, que pertencem a alguém. Já o Porta do Céu ainda tem zonas para construção de novos espaços de sepultamento, caso seja necessário no município. “A gente vai construindo mais de acordo com a demanda que tem da cidade”, explica o administrador.
Ainda de acordo com Sávio, Barroso tem dois coveiros, que cuidam dos enterros na cidade. Os funcionários receberam equipamentos de proteção para serem usados em sepultamentos de pessoas confirmadas ou com suspeita de Covid-19. Além disso, as visitações aos túmulos estão suspensas como medida de prevenção à pandemia.
Em Barbacena, número de jazigos ainda não é motivo de preocupação
Quatro óbitos de pacientes infectados pelo novo coronavírus já foram registrados e três estão sob suspeita até nessa quarta (17), em Barbacena.
A prefeitura é responsável por gerenciar três cemitérios: o da Nossa Senhora da Boa Morte, o da Matriz de Santo Antônio e o Cemitério da Paz – que recebia os mortos do antigo Hospital Colônia e está desativado.
O Cemitério da Nossa Senhora da Boa Morte está cheio e conta só com sepulturas perpétuas. Já no de Santo Antônio, grande parte dos jazigos são alugados e, após três anos, podem ser limpos e reutilizados.
Dessa forma, a quantidade de gavetas disponíveis para pessoas que não têm sepulturas perpétuas não é uma preocupação até o momento, explica José Roberto Rodrigues, chefe dos serviços dos cemitérios municipais em Barbacena.
Como medida de combate ao novo coronavírus, os 18 funcionários dos cemitérios estão usando Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para realizar os sepultamentos. Grande parte dos materiais foram doados por empresas da região. A visitação aos cemitérios já foi reaberta, mas deve ocorrer respeitando as medidas de distanciamento social.
Além disso, uma dúvida frequente é quanto ao prazo de “rebaixamento” dos túmulos. De forma geral, a cada três anos é possível mexer nas sepulturas para liberar mais espaços. No entanto, ainda não se sabe qual será o procedimento adotado para vítimas de Covid-19.
“Como o corpo vem embalado em dois sacos e o caixão é lacrado, a gente não sabe se vai ter como mexer nas sepulturas depois desses três anos ou se vai precisar esperar mais”, comenta José Roberto.
O chefe dos serviços dos cemitérios também indica que houve uma queda de cerca de 50% nos enterros no cemitério da Boa Morte. Na visão dele, um dos fatores para essa diminuição pode ser o distanciamento social, que recomenda que as pessoas só saiam de casa para atividades necessárias.
Em São João del-Rei, cemitérios estão preparados para demanda, se houver
Em São João del-Rei, por sua vez, é a prefeitura que administra o Cemitério do Quicumbi e as vagas no chão do Cemitério de São José Operário, enquanto as gavetas são responsabilidade da paróquia.
A coordenadora da Funerária Municipal, Beth Silva, aponta que – no cemitério municipal – trabalham cinco coveiros e no de São José, mais dois. Assim como nas outras cidades, todos os funcionários estão desempenhando as atividades utilizando EPI.
Segundo informações de Beth, a Prefeitura de São João del-Rei fornece praticamente tudo para o sepultamento: desde o translado do corpo, caixão, velas, velório até a vala no chão. Para enterro nas gavetas é cobrado uma pequena taxa. Somente o investimento em ornamentação não é coberto pela administração municipal – ficando a cargo da família buscar o serviço de uma funerária particular, caso ela deseje.
De acordo com a coordenadora, os velórios de pessoas que faleceram por outras enfermidades que não o coronavírus podem durar até duas horas, com no máximo dez pessoas no mesmo ambiente por vez, todas com máscaras.
Enquanto isso, as pessoas que morreram infectadas pelo novo coronavírus são enterradas sem velório e sem que a família possa se despedir do ente querido, conforme orienta o Ministério da Saúde.
Beth Silva aponta que, no inverno, normalmente duplica o número de enterros por causa de doenças respiratórias e problemas cardiovasculares. Esse número chega ao dobro do restante do ano: nos meses mais frios ocorrem uma média de 40 funerais por mês.
Mesmo diante desse quadro, Silva reafirma que a cidade está preparada caso ocorra aumento da demanda por causa da pandemia de Covid-19.
Nos cemitérios sob responsabilidade da prefeitura só estão disponíveis as vagas no chão para os óbitos de pessoas infectadas pelo coronavírus. As gavetas sob a responsabilidade da administração municipal estão vetadas devido ao risco de contaminação. Entretanto, segundo Beth, as gavetas dos cemitérios das irmandades estão liberadas.
Nesse período da pandemia, Beth tem percebido um aumento de mortes devido ao câncer e que a média de falecimentos diminuiu em relação ao ano anterior. Ela acredita que isso se deve ao fato de que, com o avanço da Covid-19 na região, as pessoas estão se cuidando mais.
São João del-Rei, além dos dois cemitérios públicos, conta com outros seis – que pertencem as irmandades e confrarias da cidade. De acordo com a administração de um deles, o da confraria de São Gonçalo Garcia, até o momento, não há problema de vagas.