Douglas Caputo
Especial para o Notícias Gerais
São-tiaguenses que moram em BH receberam, com surpresa, a notícia da criação de
1,9 mil covas para vítimas de Covid-19 em três dos quatro cemitérios públicos da
capital O anúncio foi feito pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) em redes sociais, na
tarde dessa terça-feira (28).
Embora a curva da pandemia ainda não tenha atingido o pico em BH, a declaração do
prefeito belo-horizontino trouxe espanto para o são-tiaguense que mora na capital,
Sandson Rotterdan.
Em entrevistas pelo WhatsApp, o educador da rede privada de ensino disse que foi
informado sobre a preparação de covas pela reportagem do Notícias Gerais. Para
ele, motivo de espanto, mas uma medida que o prefeito deve tomar.
“Isso espanta, porque mostra que as pessoas ou não estão fazendo, ou não estão
tendo condições de fazer a quarentena. Então, o quadro parece que é bem mais
complexo e bem maior do que os dados divulgados”, afirma Rotterdan.
“Isso espanta, porque mostra que as pessoas ou não estão fazendo, ou não estão tendo condições de fazer a quarentena. Então, o quadro parece que é bem mais complexo e bem maior do que os dados divulgados” Rotterdan.
Sandson Rotterdan, educador
A fala de Kalil também assustou outra são-tiaguense residente em BH. A bancária
Camila Castro declara que o plano assusta, mas acredita que é a forma para evitar o
caos em torno de mortes que podem acontecer.
“A questão das covas gera, sim, um pouco de medo. Mas entendo que, infelizmente, é
uma medida preventiva que deve ser tomada nos grandes centros, pois se houver um
aumento do número de óbitos, o sistema funerário não ficará colapsado”, pondera
Camila.
Impressão parecida tem outra moradora de BH com casa em São Tiago. A decoradora
Karlla Castro acentua que a quantidade de covas anunciada pelo prefeito faz parte de
uma estratégia de gerenciamento de crise frente ao número incerto de mortes que
podem ocorrer na capital.
“O Kalil está abrindo essas covas como uma forma de prevenção. Havia, até então,
um certo controle no avanço da pandemia, mas há muitas regiões da cidade em que
as pessoas não respeitam métodos de prevenção nem a quarentena, o que fez o
número de óbitos aumentar”, revela Karlla.
Durante seu pronunciamento, Kaliu enfatizou que não quer ser conhecido como
“prefeito coveiro” e chamou de “irresponsáveis” cidades em que o executivo permitiu a
abertura do comércio.
“A pandemia vem pra Belo Horizonte. [Tem cidade] que não tem um respirador. O
último contato que o prefeito fez comigo, foi para falar que ele não tinha dinheiro para
pagar o Samu para buscar o dente dele”, ironizou Kalil.
“O Kalil está abrindo essas covas como uma forma de prevenção. Havia, até então, um certo controle no avanço da pandemia, mas há muitas regiões da cidade em que as pessoas não respeitam métodos de prevenção nem a quarentena, o que fez o número de óbitos aumentar”
Karlla Castro, decoradora
Conforme boletim epidemiológico divulgado nessa terça pela Secretaria Estadual de
Saúde, Belo Horizonte tem 555 dos 1.649 casos confirmados em Minas Gerais. A
capital soma 14 das 71 mortes por conta do Coronavírus. Ainda segundo o boletim,
São Tiago tem 17 notificações, mas nenhum caso confirmado.
Saudade
Apesar da saudade de São Tiago, os entrevistados fazem coro ao dizer que só
pretendem voltar à cidade depois da quarentena. Já faz cerca de quatro meses que
Rotterdan não vem à terra natal, uma forma de proteger os são-tiaguenses.
“Não está nos nossos planos ir a São Tiago. Exatamente devido à importância de nós
que estamos na capital não expormos as pessoas que amamos à mínima possiblidade
de contato com o vírus”, avalia o educador.
A bancária Camila concorda. “Estou com saudade da família e dos amigos, mas
entendo que esse é um momento que devemos permanecer no isolamento para não
colocar ninguém em risco. Irei somente quando for seguro”, garante.
“Estou com saudade da família e dos amigos, mas entendo que esse é um momento que devemos permanecer no isolamento para não colocar ninguém em risco. Irei somente quando for seguro”
Camila Castro, bancária
Já a decoradora Karlla comenta que uma ajudante, a quem prefere chamar de “anjo
da guarda”, cuida da manutenção da casa em São Tiago. “Nosso contato é somente
por celular e qualquer problema, ela aciona outros anjos para nos ajudar”, diz.
Para garantir a segurança da residência, Karlla reforçou o sistema de monitoramento
da casa, com câmeras de vigilância ligadas 24h por dia, além de alarmes para evitar
roubos ou invasões.
Para conter o avanço da pandemia, todos os acessos a São Tiago contam com
barreira sanitária. O fechamento das entradas está previsto em decreto municipal,
editado no último dia 23.
Conforme o texto, apenas residentes ou domiciliados, proprietários de imóveis ou
estabelecimentos e ocupantes de veículos de carga podem entrar na cidade. Mesmo
assim, eles devem preencher ficha de cadastro e termo de responsabilidade.
O decreto ainda prevê o impedimento da entrada de qualquer pessoa que se recuse a
preencher e assinar os documentos oficiais.