Por Maura de Nazareth *
Eu sabia porque não conseguia prestar atenção no que minha professora dizia. Estava ansiosa; iria sair mais cedo da escola e estava com meu melhor vestido. Era o cinema que iria pela primeira vez!
A ideia foi de minha mãe. Ela sabia o quanto eu sofria com aquelas idas ao médico para tratar da asma e resolveu naquele dia me presentear com o cinema após a consulta ao médico.
Seria compreensivo que eu não me recordasse da consulta, mas aquele dia foi tão especial que me lembro de tudo, até do médico!
Saímos do consultório e, antes do cinema, como de costume quando o médico dizia que estava tudo bem, minha mãe me levou nas Lojas Americanas para comer sorvete com bolo. Era um prêmio pra mim. Segundo ela, o bolo quebrava o gelo do sorvete, assim eu podia comer sem medo de ficar doente.
Até hoje, amo comer sorvete com bolo! Hoje, isso tem um nome francês, chique, mas pra mim é sorvete com bolo! Hum!
Então o esperado cinema… Fiquei extasiada quando vi aquela tela gigantesca do cine Excelsior, de Juiz de Fora. Nunca mais vi uma tela daquele tamanho… Era tudo lindo, vermelho e amplo!
E, de repente, as luzes se apagaram e imagens começaram a ser exibidas naquela tela. Uau!!! Que lindo! Que lindo! Eu nunca havia visto algo tão incrível! Fantástico!
O filme era numa língua que eu não entendia, e também não consegui ler a legenda, era muito rápido para os meus oito aninhos! Minha mãe me explicava o que acontecia e fiquei vidrada naquela estória encenada por Sofia Loren. Nunca mais esqueci.
Não me lembro o nome do filme, mas até hoje as suas imagens estão guardadas na minha memória. Outro dia, me deparei com esse filme sendo exibido na TV. Que emoção ver aquele filme de novo!
Hoje, quando entro em um cinema ou quando como sorvete com bolo, esse dia, de alguma forma, volta e provoca em meus lábios um sorriso que sai do fundo minha alma.
Dizem que Felicidade não existe, apenas momentos felizes. Mas eu digo, o momento feliz acaba, mas não passa. Ele fica e nos faz feliz toda vez que nos lembramos dele.
Obrigada, minha mãe querida!
Obrigada por ter sido tão especial e fazer a vida ser especial pra mim.
* É juizforana e mora em Brasília (DF).