Início Opinião Crônica CRÔNICA: O BRASIL É UM MUNDO MÁGICO; SÓ QUE NÃO

CRÔNICA: O BRASIL É UM MUNDO MÁGICO; SÓ QUE NÃO

Foto: Divulgação

Sofia Teixeira*

Durante esse período de isolamento social, andei me ocupando lendo alguns livros e revivendo alguns gostos da minha infância. Ao rever aquelas histórias, anos depois e na companhia de um olhar mais crítico, fui abraçada por uma concepção de “a vida imita a arte” como jamais tinha acontecido. Um exemplo é obra Harry Potter e o Cálice de Fogo, escrita pela inglesa J.K. Rowling, na qual o personagem principal, Harry, se depara com a volta de seu maior inimigo: Lord Voldemort.

E é diante desse cenário que o jovem bruxo é exposto à falta de fé perante o Ministro da Magia (principal governante da comunidade bruxa) e do restante da população a respeito da volta do grande bruxo das trevas. Esse é capaz de matar grande parte daquele povo, sendo tal fato na história vivenciado por Harry, seus professores e seus amigos.

Passem álcool em gel nas suas varinhas e treinem seus melhores feitiços, as trevas estão voltando

É assim que o Brasil se encontra em tempos de pandemia da Covid-19: nosso principal governante, o presidente da república Jair Messias Bolsonaro, se recusa a aceitar a gravidade do vírus e insiste em desrespeitar as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das outras nações que já sofreram milhares de perdas pelo contágio do vírus. 

“Parece-me que vocês estão decididos a começar uma onda de pânico que irá desestabilizar tudo pelo que trabalhamos nesses últimos treze anos!” foi o que disse Cornélio Fudge, personagem da obra de Rowling que representa o cargo de Ministro da Magia, logo após apresentarem provas da volta do Lorde das Trevas. Ao ler esse trecho foi instantânea para mim a associação ao período que estamos vivendo no cenário coronavírus X Bolsonaro.

Essa fé na suposição de que a mídia e os cientistas só querem realizar um alarde em torno de uma “gripezinha”, apenas para desestabilizar o governo de Bolsonaro, faz com que o presidente coloque sua população ainda mais em risco no meio da pandemia, assim como Fudge colocou a sua em tempos do retorno de Voldemort.

Após inúmeras tentativas de amenizar os fatos e descredibilizar estudos e evidências científicas, acontece uma sucessiva queda de ministros da Saúde, o que só desmascara o falso controle de situação que o presidente tenta pregar. É assim, então, que o nosso grande personagem segue levando as linhas de nossa história, exibindo pensamentos mais centrados na economia nacional do que numa real população que em um mundo mágico pós pandemia possa vir a desfrutá-la.

Mas esse cenário, se não considerarmos o vírus que nos pegou de surpresa, já seria bem previsível após o corte de centenas de bolsas de pesquisas científicas pelo governo Bolsonaro no início de seu mandato. A descrença na ciência anda de mãos dadas com a falta de investimento na mesma, bem como com um exageradamente reduzido número de chances de acharmos uma cura ou tratamento eficaz para a população brasileira exposta ao coronavírus.

A descrença na ciência anda de mãos dadas com a falta de investimento na mesma

Não sou adepta aos spoilers, mas devo abrir uma exceção nesse caso. Se você não sabe, o destino de Fudge na história dos livros é certeiro: ele deixa o cargo de ministro e o governo tão prezado por ele cai pelas mãos do Bruxo das Trevas. Caso nossa versão brasileira live action da obra de Rowling escolha os mesmos caminhos, não ficarei surpresa, levando em conta que já acontecem panelaços e pedidos de impeachment contra Jair e, se continuarmos nesse ritmo, não há governo que aguente as consequências do nosso bruxo malvado, também conhecido como coronavírus. 

Agora cabe a nós esperarmos as cenas dos próximos capítulos de nossa história, mas claro, sem perder a fé nas evidências e na ciência que, nesse caso específico, anda alinhada com a ficção. Passem álcool em gel nas suas varinhas e treinem seus melhores feitiços, as trevas estão voltando.

  • É estudante de Jornalismo da UFSJ e produziu este texto sob a orientação do professor Paulo Caetano.

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