Maura de Nazareth *
Não devia ser assim, mas sei que para a grande maioria das pessoas a vida já voltou ao normal, ou, pelo menos, muito próximo disso.
Mas eu integro a pequena parte dos brasileiros que ainda está levando a pandemia a sério. Já tomei a primeira dose da astrazênica faz exatamente um mês, mas continuo adotando as medidas de cuidado e proteção, agora mais conscientes porque temos mais informações sobre o vírus, todavia, isso não significa que ele desapareceu ou foi vencido. Isso ainda levará algum tempo, mas acontecerá, se Deus quiser.
Ainda não saio de casa, nem mesmo abro a porta do meu apartamento sem a máscara e, atualmente, uso aquelas tipo 3M ou similar. Lavo ou uso álcool 70% em tudo que entra em casa e nunca mais pisei com os sapatos da rua da porta para dentro. Continuo mantendo o distanciamento. Mercado ainda só pelo ifood. Restaurantes também. Nada de viagens, por enquanto. Aliás, só saio de casa para o estritamente necessário, principalmente se o local não for aberto. Minhas saídas se resumem, ainda, as idas à dentista e a fisioterapia, também caminhadas ao ar livre.
E hoje, saindo da dentista, ainda muito cedo, porque só marco meus atendimentos no primeiro horário, por segurança claro, resolvi fazer minha caminhada no pontão do Lago Sul. Lugar lindo, a beira do lago com bastante espaço para caminhadas e com uma vista incrível. Faz bem. Muito bem.
O local estava praticamente deserto e, no fim da caminhada observei que um pequeno café estava abrindo. Tudo sendo higienizado pela única funcionária e as mesinhas eram poucas, espaçadas e com proteção entre elas. Todas ao ar livre. Foi então que tive a coragem de sentar e pedir o que eu estava esperando há quase um ano e meio para fazer. Meu lanche e pit stop preferido: Cappuccino com pão de queijo! E ele estava assando, não resisti. Pedi. Sentei, não antes de borrifar o álcool que fui buscar no carro e nem precisava porque em cada mesa havia um vidro generoso.
E poucos minutos depois, a mocinha muito simpática me trouxe aquele lindo cappuccino e uma cestinha com pãezinhos de queijo bem quentinhos. Parecia uma miragem… Deus! Há quanto tempo não tinha esse prazer que tantas vezes me dava ao luxo de me proporcionar. Pequenas coisas que ganham uma proporção enorme quando a perdemos… Realmente o café, da manhã ou da tarde, são minhas refeições prediletas e esse lanche bem mineiro é tudo de muito bom! Me leva de volta à minha cidade natal, à mocidade, à infância… às melhores lembranças!
“E foi quando dei o primeiro gole naquele delicioso cappuccino cheio de espuma e cuidadosamente decorado que uma emoção tomou conta de mim e não pude deixar de chorar. Chorei e não foi pouco. Ainda sinto a emoção quando falo.”
Acho que naquele gole e naquele momento chorei tudo que estava contido durante esse quase um ano e meio de pandemia. Todas as mortes de pessoas queridas, conhecidas e desconhecidas, todas as lutas pela vida contra a covid, seja pela doença ou pela falta de recursos; financeiros, humanos. Pela fome. Pela ignorância e pouco caso de tantas pessoas que por obrigação deveriam ao menos respeitar a dor alheia e procurar minimizar os estragos que esse poderoso vírus causou.
Sei que a pandemia mostrou, e muito, o lado bom e generoso das pessoas, a solidariedade, a caridade material e espiritual, mas todo esse sofrimento visto e vivido, contido porque afinal, somos fortes, damos conta de tudo, sozinhos ou virtualmente juntos, saiu, desabou naquele choro, naquele primeiro gole da bebida preferida que há tanto tempo não me era servida, assim, tão linda e diante de uma vista mais do que fantástica.
A verdade é que não nos damos conta do que essa pandemia tem causado em nós. Somos seres altamente adaptáveis e, nesse quase ano e meio, nos viramos, nos reinventamos, criamos o que foi necessário para continuarmos nossas jornadas. Fomos fortes, estamos vencendo, a cada dia que passa, um pouquinho mais esse vírus, que se Deus quiser, em breve não será mais tão poderoso assim.
Esses momentos são necessários. Precisamos sempre que possível refletir sobre tudo isso a nossa volta. Sobre esses tempos estranhos, que já estamos nos acostumando, a duras penas… A cada dia ficamos mais fortes, mas nunca sem dar o devido valor à luta que estamos vencendo, a tudo que passamos e que certamente ainda passaremos até que o final, o bom final dessa história escrita pelo nome mais falado nos últimos cem anos – Covid-19 -, deixe de ser um pesadelo real e passe a ser passado.
* É mineira, de Juiz de Fora, e vive em Brasília (DF).
Lindo…lindo…lindo…❤❤❤