Carol Rodrigues
Notícias Gerais
Tiradentes, marcada pelo fluxo turístico, já está há mais de dois meses com os estabelecimentos comerciais não essenciais fechados. Para a saúde, os resultados foram promissores: a cidade segue sem nenhum caso confirmado de Covid-19. Porém, ao mesmo tempo, carrega o pior índice de desemprego do Campo das Vertentes, como já havia sido veiculado pelo Notícias Gerais.
Com um clima de discussões, o município se divide entre aqueles que são a favor da imediata reabertura gradual do comércio e do turismo e aqueles que são contra. Sem um sindicato de trabalhadores para coordenar as ações, os movimentos se esforçam para serem ouvidos.
Diante ao impasse, duas petições on-line foram criadas: uma para barrar a flexibilização das atividades e outra para incentivar que o comércio volte a funcionar de forma parcial no dia 19, como é previsto pela administração municipal.
Um lado acredita que, com o relaxamento do distanciamento social e a chegada de turistas de todo o Brasil, pode ocorrer um aumento significativo de infectados pelo novo coronavírus em Tiradentes, o que iria sobrecarregar a rede de saúde da região. Já o outro lado cita as consequências do desemprego e dos meses sem trabalho.
Chegada de turistas e falta de fiscalização preocupam moradores
Uma empresária da cidade, que não quis se identificar, considera “prematura” a reabertura das atividades marcada para ocorrer no próximo dia 19 – principalmente, levando em consideração o aumento dos casos em cidades vizinhas, como São João del-Rei e Santa Cruz de Minas. “Nossa preocupação é se vai ter teste pra todo mundo, como vai ser a fiscalização, se vai ser controlada a entrada dos turistas em Tiradentes”, relata.
A empresária é dona de um restaurante na cidade e não pretende abrir as portas por enquanto, mesmo com a flexibilização prevista. Isso porque, mesmo com todas as medidas adotadas para o preparo dos alimentos, ainda existe a preocupação quanto ao momento de atendimento dos clientes – que são, em sua maioria, turistas.
Para ela, nesse momento, uma alternativa seria pensar uma economia solidária que fosse voltada para dentro do próprio município. “Se existisse um controle maior nas barreiras sanitárias, com testes para a população, seria possível a gente desenvolver a economia dentro da própria cidade, mas o fluxo de turistas faz com que a gente não fique seguro”, comenta.
Além disso, a preocupação é também com a fiscalização das pousadas, hotéis e restaurantes com a reabertura da atividade turística na cidade. Segundo avaliação da fonte do Notícias Gerais, o controle das atividades que estão funcionando já é baixo e, mesmo com todas as medidas de restrições, alguns turistas ainda circulam pela cidade.
Tatiane Barbosa, tiradentina que trabalha como camareira e atua no movimento contra a reabertura, conta que também tem visto turistas no município. “Tá cheio de turistas aqui… passando na rua da minha casa, que dá acesso ao Bichinho. Sabemos que é turista pelos carros, vestes, sotaque…”, relata.
“Nossa preocupação é se vai ter teste pra todo mundo, como vai ser a fiscalização, se vai ser controlada a entrada dos turistas em Tiradentes”
– pontua empresária da cidade, que prefere manter a identidade no anonimato.
O movimento contra a reabertura do comércio reivindica ser ouvido pelas autoridades da cidade. O prefeito, Zé Antônio do Pacu (PSDB), indicou que vai incluir os manifestantes nas próximas reuniões do Comitê Gestor Covid-19, de acordo com Tatiane Barbosa.
Ela está apreensiva com o possível chegada do coronavírus na cidade com a reabertura das atividades. “Claro que precisamos que abram (os estabelecimentos comerciais), quem não quer ganhar dinheiro? Só que precisamos respeitar o coletivo. Essa é uma doença séria que não temos aqui condições de enfrentar”, diz.
Desemprego também preocupa tiradentinos
Com o fechamento da atividade turística na cidade, principal setor econômico do município, Tiradentes conseguiu barrar o avanço da doença: até nesta quinta (4), nenhum caso foi confirmado na cidade. No entanto, ao mesmo tempo, os moradores enfrentam o desemprego. A cidade teve o pior índice da região, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Juliana Silveira foi uma das profissionais afetadas pelo momento de crise econômica e viral. Ela trabalhava como auxiliar de cozinha em um restaurante de Tiradentes, mas com a diminuição das vendas provocada pela pandemia, foi dispensada.
“Eu estou sentindo na pele a falta de trabalho”
– relata Juliana Silveira, que trabalhava em um restaurante de Tiradentes.
Conforme relato dela, a família vive, atualmente, da renda do marido, que trabalha no mesmo restaurante e não foi demitido – mas que pode ter o salário reduzido – além de serviços esporádicos da auxiliar. Com a retomada do comércio, Juliana Silveira espera que as pessoas que tiveram a remuneração diminuída possam voltar a receber o valor integral.
Nem mesmo o emprego do marido é garantido, segundo Juliana. Caso as vendas não aumentem, o estabelecimento pode fechar as portas e os funcionários serão demitidos “Eu estou sentindo na pele a falta de trabalho”, expõe.
O dono de restaurante, Guilherme Carvalho, também se mostra favorável à flexibilização das atividades. “Tiradentes está morrendo, temos várias lojas que já fecharam, e outras tantas que estão fechando. Temos placas de ‘aluga-se’ em pontos onde tinham fila de espera para alugar… já temos famílias desesperadas com a falta de recursos para suas necessidades”, fala.
Ela revela que dois funcionários no restaurante, que tiveram os pagamentos integrais mantidos nos dois primeiros meses de fechamento do comércio. Porém, com a baixa significativa das vendas, foi preciso diminuir a carga horária e a remuneração. “Sem a reabertura, terei de mandar os dois embora”, admite.
Prefeitura se prepara para reabertura
Com a reabertura de parte das atividades programada para o dia 19, a administração municipal se prepara para a retomada das atividades. Foi criado o “Alvará Covid-19” e alguns setores estão recebendo treinamentos.
O “Alvará Covid-19” é um documento emitido pela prefeitura para estabelecimentos que irão reabrir. O objetivo da declaração é “adequar os hábitos de higiene, distanciamento e hábitos gerais de atendimento comercial. Foi criado um protocolo com diretrizes para cada segmento do comércio”, conforme aponta o secretário de Cultura, Esporte e Lazer de Tiradentes, Henrique Rohrmann.
Treinamentos também estão sendo ministrados para os colaboradores dos setores que estarão autorizados a voltarem a funcionar – como restaurantes, pousadas e hotéis. O objetivo é alinhar os protocolos de saúde e prevenção com esses estabelecimentos.
Além disso, praças, ruas, rodoviárias e outros pontos de grande movimentação da cidade estão sendo higienizados semanalmente, esclarece o secretário.
Rohrmann aponta que sabe da existência de um receio que a reabertura inicie a transmissão do vírus na cidade, mas reforça que a prefeitura está “unindo forças e planejando para que a retomada seja bem sucedida e (trabalhando para que) os riscos sejam os mínimos possíveis”.
Com a flexibilização, a administração pública pretende continuar com as barreiras sanitárias e intensificar a fiscalização no comércio. “A população e os turistas serão conscientizados sobre a nova realidade que viveremos nos próximos tempos”, completa.
O Notícias Gerais também procurou o prefeito de Tiradentes, mas não teve retorno até a conclusão da edição desta matéria, às 16h57 do dia 4/6.