Início Gerais Economia COM COMÉRCIO RESTRITO, FAZER EMPRÉSTIMO É OPÇÃO

COM COMÉRCIO RESTRITO, FAZER EMPRÉSTIMO É OPÇÃO

Foto: João Pedro Justino

Kamila Amaral
Notícias Gerais

A necessidade de distanciamento social, como forma de prevenção e combate à Covid-19, fez aflorar um intenso debate em torno das atividades comerciais. Desde o início da pandemia, diversos setores estão parados ou mantiveram suas atividades suspensas durante um longo período de tempo.

A situação tem sido difícil para todos, mas afeta ainda mais gravemente os micro e pequenos empresários que, usualmente, têm porte e capital inferiores quando comparados com os grandes negócios e dependem dos rendimentos mensais para manutenção das vendas. 

Opções para empresas

Uma das opções de ação para enfrentar a crise financeira, gerada pela crise sanitária, são as linhas de créditos e outros tipos de empréstimos, além dos recursos federais e estaduais que estão sendo disponibilizados para as micro e pequenas empresas durante a pandemia.

A analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), de Minas Gerais, Cristhiane Lobão, explica que a melhor maneira de se fazer a análise da viabilidade de solicitar ou não este tipo de recurso é por meio dos controles financeiros. “A empresa tem que ter um controle de caixa, no mínimo, se tiver um controle de resultado é melhor, mas a primeira coisa é o controle de caixa bem feito, para saber o quanto e quando vai faltar o recurso”, esclarece Lobão.

Segundo ela, é necessário entender, também, a finalidade do recurso e se o mesmo será utilizado para investimento ou para capital de giro. “O capital de giro é formado pelo ‘caixa’, ‘estoque’ e o ‘contas a receber’, todos os financiamentos destinado a esses objetivos podem estar atrelados a sobrevivência da empresa. Temos que avaliar o objetivo, têm muitas empresas durante a pandemia investindo, seja em estrutura, estoque e outros”, afirma a analista.

Mesmo que dependa de muitos fatores individuais e seja uma questão relativa, as linhas de crédito e outros tipos de empréstimo podem ajudar tanto os micro e pequenos empresários que já estão no sufoco quanto aqueles que estão buscando investir no crescimento dos negócios. “Então, é muito importante o desenvolvimento de um diagnóstico para entender melhor a necessidade, pois as duas formas são importantes […] e nos dois casos o planejamento é fundamental”, informa Cristhiane.

Uma dica da analista do Sebrae na hora de escolher a melhor opção de empréstimo é considerar no mínimo três opções, levando sempre em consideração as especificidades do negócio. “Atualmente o Sebrae realiza um compilado com as principais medidas anunciadas, como também, disponibiliza consultorias para auxiliar o empresário na sua tomada de decisão”, lembra.

Além da solicitação de empréstimos, a Christiane Lobão enumera outras duas maneiras de aliviar o caixa da empresa. “A primeira é cortar custos e a segunda é aumentar a receita. Nas duas opções, é importante o planejamento, para entender a realidade da empresa, averiguando a possibilidade real de cortes ou o potencial de alcance de novos mercados e possível aumento das vendas”, finaliza. 

Burocracia ainda é empecilho

Em contribuição conjunta ao Notícias Gerais, os professores e coordenadores do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Economia (NEPE/UFSJ), Douglas Marcos Ferreira e Gustavo Carvalho Moreira, destacam que entre as medidas do governo federal que visam estimular especificamente às micro e pequenas empresas está a lei que cria o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), sancionada em 19 de maio de 2020.

“O Pronampe criou uma linha de crédito para garantir recursos e evitar o fechamento das organizações classificadas como microempresas (faturamento de até R$360 mil no ano) e de pequeno porte (faturamento de até R$4,8 milhões no ano). A linha de crédito a ser destinada a cada empresa interessada em aderir ao programa se limita ao valor de 30% da receita bruta da empresa no ano de 2019”, apontam os professores.

Já no âmbito estadual, o governo de Minas Gerais, em parceria com o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), lançou um plano de ações em várias frentes de atuação. As ações preveem a liberação de até R$ 1,1 bilhão em linhas de crédito para as organizações, principalmente as micro e pequenas empresas do estado.

“Porém, algumas medidas não atendem a todos os setores, sendo específicas para setores da saúde ou turismo. Outras, estão relacionadas à redução de juros e ampliação do prazo de carência para empresas de todos os setores, medidas essas benéficas, mas que não se traduzem em liberação efetiva de crédito para as empresas”, dizem os docentes do Departamento de Ciências Econômicas da UFSJ.

Para Ferreira e Moreira, apesar da disponibilidade do crédito, a efetividade dessas políticas de auxílio às micro e pequenas empresas esbarra na sua acessibilidade. “Um dos problemas enfrentados, dentre muitos relatados, está o fato dos bancos condicionarem a concessão do crédito através de mais garantias, que muitas vezes são insuficientes, sobretudo no atual cenário”, contam.

Para tentar solucionar parte desses problemas e fazer com que o crédito chegue até o micro e pequeno empresário, o Banco Central anunciou, no dia 23 de junho de 2020, um conjunto de medidas que visam desburocratizar as linhas de crédito dentro das instituições financeiras. Uma delas é a permissão que os bancos descontem do compulsório os valores que foram emprestados para empresas com faturamento anual de até R$ 50 milhões. Tal medida tem um potencial de liberação de créditos de até R$ 55,8 bilhões, segundo estimativas do governo federal.

“Nesse cenário pandêmico, com quedas substanciais da atividade econômica, é necessário que as instituições das esferas federal e estadual agilizem esse processo de desburocratização para garantir o acesso ao crédito, fator essencial para a sobrevivência das micro e pequenas empresas no curto prazo”, defendem os coordenadores do NEPE UFSJ.

O cenário de São João del-Rei

De acordo com dados do Ministério da Economia, existia, em dezembro de 2019, 3.325 estabelecimentos comerciais e de serviços em São João del-Rei, sendo responsáveis pelo emprego com carteira assinada de 16.747 trabalhadores, o que representa 74% do total com carteira assinada no município.

Quando analisada a importância desse setor na composição do Produto Interno Bruto (PIB) do município, o setor de serviços correspondeu a 59,55% do PIB municipal, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o ano de 2017. Esses setores são, portanto, responsáveis por geração de renda e emprego para boa parcela da população.

“No atual cenário de portas fechadas, é eminente a necessidade de recursos e auxílios governamentais capazes de amenizar a queda da atividade econômica do município, permitindo a sobrevivência das micro e pequenas empresas”, argumentam os professores de Economia da UFSJ.

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