Carol Rodrigues
Notícias Gerais
O Grupo de Teatro do Senhor dos Montes, em São João del-Rei, mostra a paixão por fazer, também, cinema. A trilogia da Catifunda, produzida praticamente sem recursos e de forma voluntária na cidade dos sinos, chega ao fim com o terceiro volume, o filme “O Milagre da Catifunda”, previsto para ser lançado no próximo mês.
“Eu tenho uma barbearia e sai muito assunto, a gente escuta de tudo”, conta o diretor Fernando Souza, sobre como surgiu a ideia de produzir o primeiro longa, intitulado “O Velório da Catifunda”.
“As pessoas tem ideia de que velório é só tristeza, claro, está todo mundo triste pelo defunto, mas encontra uma pessoa aqui, outra ali, acaba contando causo, piada”, completa Fernando, que produziu o longA ao lado de Flávio Costa.
A história
“O Velório da Catifunda”, lançado em 2012, foi exibido no cinema da cidade e está disponível, também, no YouTube, com mais de 4,2 mil visualizações. O longa fala sobre a morte de uma mulher rica e as disputas e confusões dos herdeiros durante o enterro. No final, descobre-se que a Catifunda na verdade, pode ter sido assassinada.
Assim, começa o gancho da segunda produção, “Os Herdeiros da Catifunda”, que conta com quase 26 mil visualizações no YouTube. No terceiro e último filme – que levou cerca de 8 meses para ser gravado – a história gira em torno das eleições e de disputas políticas. Fernando Souza diz que “sempre fica uma ponta solta”, mas que a história da Catifunda chegou ao fim.
Produção
Realizadas pelo Grupo de Teatro Senhor dos Montes, as produções aconteceram quase sem nenhum recurso. Ao todo, cerca de 100 pessoas estão envolvidas na criação do “O Milagre da Catifunda”, entre atores, figurantes, editores e diretores. Os filmes mostram que o cinema pode ser, sim, uma arte democrática.
O maior desafio foi conciliar toda a equipe e, ao mesmo tempo, prezar pela qualidade. “Como era voluntário e as pessoas precisavam trabalhar, a gente gravava no domingo, aí a maior dificuldade foi o tempo de cada um […], às vezes tinha que regravar cena e nem tudo ficou como eu queria”, comenta o diretor, que está envolvido com teatro desde 1995.
Emoção
Mesmo com poucos recursos, a trilogia toca o coração de quem se envolve. O jornalista João Justino participou como figurante durante a gravação do último filme e diz ter sido a primeira experiência que teve na área. “Nunca participei de gravação antes, mas a sensação era de fazer parte de algo em que todos tinham papel maior do que o que cabia no script”, relata.
João e Fernando concordam em uma coisa: a trilogia da Catifunda conta a história do povo e da cidade e está nisso sua importância. “Acaba sendo o registro de como vemos o mundo. Acho muito importante pra agora e mais ainda para o futuro, quando for revisto por qualquer curioso com São João del-Rei e o cinema mineiro”, diz João Justino.
O jornalista diz ainda que o dia em que participou da gravação foi, coincidentemente, a troca do horário de verão e que, por isso, acabou chegando uma hora mais cedo no local. “Vi todos chegarem, de pouco a pouco. Era a senhora Nazaré, do Matosinhos, Ana Alice, vizinha do Fernando, Arimateia e seu filho – os cinegrafistas – e muitos outros”, relembra.
Para o diretor, os filmes falam, também, sobre São João del-Rei, cidade cheia de histórias, como toda Minas Gerais. “A verdade é que as pessoas não dão muito valor”, comenta Fernando Souza, mas, mesmo assim, a Catifunda foi importante para promover arte, cinema, cultura e fomentar a produção comunitária.
O filme “O Milagre da Catifunda” está em processo de finalização e deve ser lançado no início de agosto no YouTube. A princípio, a ideia era que o longa fosse exibido no cinema de São João del-Rei ou mesmo no teatro, mas com a pandemia, os planos precisaram ser alterados.