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EMPRESÁRIO QUER EVITAR QUE O CINE GLÓRIA SEJA MAIS UMA VÍTIMA FATAL DO COVID-19

O dono do cinema, au lado do projetor, examinando um filme de rolo.
(Imagem: Arquivo pessoal)

André Frigo
Notícias Gerais

O Cine Glória ocupa o mesmo endereço na avenida Tiradentes desde o ano de 1947. Só ficou fechado em duas ocasiões. A primeira, na década de 1990, para reparos no telhado. A segunda, em 2006, para modernização do equipamento, quando foram trocadas a tela, as poltronas e o sistema de som. A pandemia do coronavírus forçou o cinema a fechar suas portas uma terceira vez. E o temor é que esta seja a maior crise que a empresa já enfrentou.

Desde 1979, o cinema é administrado por Wellerson Itaborahy, 76 anos, mais conhecido por Lilinho, com a ajuda dos filhos Wallace e William. Wallace Itaborahy, 39 anos, vê com temeridade a situação e não acredita que o setor possa sobreviver sem ajuda.

Visão geral do cinema reformado, vazio.
(Imagem: Arquivo pessoal)

“Sem ajuda, o Cine Glória não se manterá por mais 30 dias e ai, infelizmente, teremos que começar a demitir nossos funcionários, a parar de pagar o nosso financiamento do equipamento digital”

Wallace Itaborahy

“Estamos aguardando alguma medida do governo federal para nosso setor. Sem ajuda, o Cine Glória não se manterá por mais 30 dias e ai, infelizmente, teremos que começar a demitir nossos funcionários, a parar de pagar o nosso financiamento do equipamento digital. E com isso teremos problemas para reabrir”, alerta Wallace.

A rapidez como a Covid-19 se espalhou pelo mundo e a falta de transparência e esclarecimento por parte das autoridades atrapalhou aos proprietários elaborarem um plano de contingenciamento, visando enfrentar uma crise que pode se arrastar pelo ano inteiro.

“Como a situação foi muito rápida, ainda não elaboramos um planejamento de longo prazo. Meu plano atual é, caso essa situação comece a se estender, vender o carro, a moto e o que mais eu puder vender. Estamos analisando a possibilidade de contrair um empréstimo bancário para fluxo de caixa, porém ainda não definimos nada. Por enquanto, estamos aguardando um pronunciamento do governo federal”, afirma Wallace.

A história do Cine Glória

Fachada do cinema na década de 50, poucos anos após a inauguração.
(Imagem: Arquivo pessoal)

“Meu pai já vendeu carros, moto, entre outros bens da família para manter o Glória em funcionamento. Meu pai deixou de fazer compras de supermercado para poder comprar carvão para o cinema funcionar”

Wallace Itaborahy

Em 1906 foi fundada a primeira empresa são-joanense de exibição de filmes. Na sequência vieram o Cinema Comércio, o Kinema Club, o Cinema Avenida, o Cine Capitólio e finalmente o Cine Glória, inaugurado em 21 de agosto de 1947. Na época, com a capacidade para 1,2 mil pessoas e dois modernos projetores enchiam de orgulho os frequentadores e os moradores da cidade.

Mais tarde, em 1951 surgiria o Cine Teatro Arthur Azevedo, que ficava localizado no início do bairro do Tijuco e cujo prédio hoje abriga um supermercado O Arthur Azevedo ainda chegou a ter uma filial no Matosinhos, o Cine Real. Entretanto, as duas salas fecharam na década de 1980.

No ano de 1961, a empresa Lombardi e Resende Ltda passa a ser proprietários do Cine Glória. O sócio majoritário, João Lombardi Filho, um empresário ousado e que também era proprietário da Companhia Textil João Lombardi (Fábrica Brasil), comandaria a casa de exibição até o ano de 1979, quando a repassou para Lilinho.

Antes mesmo da proibição de funcionamento para evitar aglomeração, os cinemas já vinham sofrendo o cancelamento de lançamento de filmes. Estima-se que até o momento quase 600 salas já fecharam as portas definitivamente no país.

Imagem geral do cinema antes da reforma, ainda com as cadeiras de madeira.
(Imagem: Arquivo pessoal)

Apaixonado por cinema, Lilinho conseguiu manter o Cine Glória, mesmo atravessando graves crises que obrigaram o fechamento de salas de exibição em praticamente todas as cidades da região, a partir do fim da década de 1980. Sua obstinação fez com que o Glória superasse o surgimento dos vídeos cassetes, do DVD, do blu ray e, recentemente, do streaming (distribuição de conteúdo multimídia).

Nessa luta para continuar exibindo filmes em São João del-Rei, ele não media esforços. “Durante um bom tempo o cinema foi mantido com recursos do Cine Glória Vídeo. Quando meu pai não tinha dinheiro, ele recorria a empréstimos bancários ou de agiotas. Meu pai já vendeu carros, moto, entre outros bens da família para manter o Glória em funcionamento. Meu pai deixou de fazer compras de supermercado para poder comprar carvão para o cinema funcionar”, relatou Itaborahy.

O Covid-19 e a crise atual

O Covid-19 provocou uma das maiores crises na indústria de exibição de filmes no Brasil e no mundo. Antes mesmo da proibição de funcionamento para evitar aglomeração, os cinemas já vinham sofrendo o cancelamento de lançamento de filmes. Estima-se que até o momento quase 600 salas já fecharam as portas definitivamente no país.

O que vai acontecer com as outras 2,9 mil salas que não funcionarão durante a quarentena vai depender da saúde financeira das empresas e dos planos econômicos do governo federal. O Cine Glória vem resistindo ao longo do tempo e Wallace aponta o caminho para vencer mais essa turbulência. “O amor que meu pai tem pelo Cine Glória e que foi passado para nós é o que nos motiva a continuar lutando para manter o Glória em funcionamento”, afirma.

Fontes: Portal Filme B e a monografia O Cine Glória de São João del-Rei – 60 anos dentro da História do Cinema Nacional, de Itaborahy, Maria Cristina Lelis

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