Carol Rodrigues
Notícias Gerais
Desde quando a Covid-19 chegou ao Brasil, em fevereiro, o país tem feito projeções para quando aconteceria o pico da doença. No entanto, essas estimativas estão sempre mudando – tanto a nível nacional quanto regional – o que pode ser confuso para quem não sabe como elas são calculadas.
Quatro meses após a confirmação do primeiro caso no Brasil, que ocorreu no dia 26 de fevereiro, ainda não há indicativo de que já foi atingido atingido o ápice da doença. Além disso, o tamanho continental do país é outro fator que dificulta o estabelecimento dessas medidas estabelecer medidas.
Em Minas Gerais, o primeiro caso de Covid-19 foi registrado dia 8 de março e o pico está previsto para acontecer em meados de julho, de acordo com o governador Romeu Zema (NOVO). Mas, afinal, o que é este “pico”, como ele é calculado e porque ele vive “avançando”?
Definindo “pico”
Para entender como o pico da Covid-19 é calculado e porque ele está constantemente sendo adiado é necessário, primeiro, saber o que de fato é o chamado pico epidêmico, como reforça o médico infectologista, Herbert Fernandes, de Barbacena.
O pico de uma doença epidêmica é quando há o maior número de casos infectados em um único dia, ou seja, o recorde do vírus em determinada região. A partir do pico, a tendência é que a quantidade de pessoas infectadas diminua.
Segundo o infectologista, a preocupação sobre a chegada do pico é que, junto com ele, há também a maior demanda hospitalar. Assim, o ideal é que a curva da doença seja “achatada” para que não ocorra uma sobrecarga e colapso do sistema de Saúde e as pessoas não fiquem sem assistência médica.
Entenda o cálculo
Os cálculos para estimar a chegada do pico do novo coronavírus são feitos em cima de modelos matemáticos em instituições de ensino e pesquisa, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais e a Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).
Para fazer as contas e prever a chegada do pico da doença, alguns fatores são levados em conta, como quantas pessoas um único indivíduo é capaz de infectar e, também, a taxa de distanciamento social de uma região.
“Através do monitoramento de celulares, tem se conseguido dizer a taxa de isolamento na região e, consequentemente, pela taxa de isolamento e tamanho da transmissibilidade, a gente consegue mensurar ou estimar a possibilidade de para onde está indo o pico”, explica o médico, Herbert Fernandes.
No entanto, outra questão importante a ser levada em consideração são os modelos matemáticos utilizados no Brasil para prever o pico foram importados pelo ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta – conforme explicou Ana Pimentel, professora de Medicina da UFSJ e membro do Observatório da Saúde Coletiva durante superlive do Notícias Gerais.
Ela aponta que os modelos de previsão trabalham com metas de distanciamento social. “O vírus não circula sozinho, ele circula junto com as pessoas. Se a gente não tem estratégias de contenção da circulação do vírus muito precisas, a gente não tem como prever (de forma precisa) quando a gente vai chegar ao pico”, defende.
Assim, se as medidas de distanciamento mudam e as pessoas passam a ficar mais ou menos tempo em casa, respeitam ou flexibilizam os cuidados, o pico da Covid-19 também é alterado.
O pico está se deslocando
Pensando em não colapsar os sistemas de Saúde, o que se tem feito no Brasil é a tentativa de postergar o pico da Covid-19 para que os hospitais, profissionais de saúde e gestores possam se organizar e, assim, evitar mortes.
Um dos fatores que ajuda no achatamento da curva do novo coronavírus é o isolamento social, que permite uma baixa no número de transmissão da doença.
“Se a gente analisar de janeiro a dezembro, mais a gente caminhou com o pico para a direita. E quando a gente caminha com ele para a direita, além de a gente deixar o pico mais distante, a gente também diminui o tamanho, uma vez que os casos são diluídos ao longo do tempo”, expõe Herbert Fernandes.
O infectologista cita ainda que, com os últimos cálculos feitos em Minas Gerais, é compreendido que não se está mais conseguindo adiar o pico e, assim, a previsão é que ele ocorre no dia 15 de julho.
“O ideal é que a gente tenha assistência, não é que ele (o pico) aconteça rápido ou se prolongue… (Nossa expectativa) é que a gente esteja preparado para que haja assistência e que essa demanda não seja além da capacidade da nossa assistência”, completa Herbert Fernandes.