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FOI O RACISMO QUE PAUTOU A PROIBIÇÃO DA MACONHA NO BRASIL, DIZ DOCUMENTARISTA

Imagem: Acervo pessoal.

Por Najla Passos
Da Editoria

O são-joanense José Eugênio Vicentini da Silva, 24 anos, acaba de se formar em Jornalismo pela UFSJ. E no seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), decidiu abordar um tema polêmico, o uso medicinal da maconha, com o documentário Baseado em fatos reais: o acesso à cannabis medicinal no Brasil .
Em entrevista ao Notícias Gerais, ele analisa a recente liberação da importação do canabidiol pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Fala dos impactos que a medida terá na vida dos pacientes que precisam do medicamento para garantirem sua qualidade de vida, em um país em que a maconha é tratada como substância ilegal.
O documentarista aborda também o porquê do Brasil ter sido o primeiro país a proibir o uso da maconha. E explica porque, posteriormente, os Estados Unidos exportaram tal comportamento para grande parte do mundo.

“No Brasil, a proibição demonstrou um vergonhoso protagonismo do país como o primeiro do mundo a ter uma lei criminalizando a maconha, em um contexto muito racista, já que no país a erva tinha consumo acentuado dentre os negros escravizados.”

Confira aqui o documentário Baseado em fatos reais: o acesso à cannabis medicinal no Brasil

Notícias Gerais – A recente liberação da Anvisa é um passo importante ou uma medida ainda tímida pra resolver o problema do acesso dos pacientes aos medicamentos?
José Eugênio – A mudança tem um caráter positivo, já que tende a facilitar a importação do princípio ativo usado medicinalmente, o canabidiol (CBD), mas não necessariamente é algo que refletirá no preço final do tratamento. Ainda assim facilita a manipulação pela indústria farmacêutica, o que aumenta o número de medicamentos disponíveis dentro do Brasil.
É uma mudança tímida e longe da opção de legalização do plantio, algo que permitiria a produção caseira do óleo de canabidiol ou a associação de pacientes para um cultivo coletivo. Isso agregaria ao tratamento dos que consomem a cannabis in natura, quem usa o óleo e quem faz uso do medicamento sintetizado.

NG – O quanto a liberação pode significar em economia para as famílias que precisam importar o produto hoje?
JE – O custo de produção caseira do óleo rico em canabidiol é muito vantajoso, quando comparado ao tratamento com os remédios importados ou vendidos nacionalmente. A importação dos medicamentos pode custar aproximadamente R$2 mil mensais, enquanto o plantio e a extração caseira podem ficar bem abaixo de R$300. É mais de um salário mínimo de economia, o que viabiliza o tratamento por pessoas que hoje não têm condições de importar com frequência, ou mesmo fazer o tratamento com os medicamentos disponíveis no país.

NG – Por que, historicamente, ocorreu esta criminalização da maconha? Quem lucrou e lucra com isso?
JE – A proibição tem duas vertentes. No Brasil, a proibição demonstrou um vergonhoso protagonismo do país como o primeiro do mundo a ter uma lei criminalizando a maconha, em um contexto muito racista, já que no país a erva tinha consumo acentuado dentre os negros escravizados. Nos Estados Unidos, “puxou” a proibição em outros países e foi movida por interesses da Igreja e de setores econômicos (como o petrolífero), que lucrariam com a destruição das indústrias têxteis que trabalhavam com uma variação da maconha conhecida como cânhamo.

NG – Pq vc escolheu o documentário para dar visibilidade ao assunto?
JE – O documentário dá a liberdade de contar uma história a partir do ponto de vista de quem sofre com o problema da proibição da maconha, o que torna mais compreensível as dores e dificuldades que afetam essas pessoas. Assim conseguimos compreender porque elas lutam pela legalização e gera apoio a essa mobilização pela mudança nas leis. Sem isso ficamos a mercê das decisões de políticos que, muitas vezes, não têm a mínima noção do contexto das pessoas que são afetadas por esse problema.

“É uma mudança tímida e longe da opção de legalização do plantio, algo que permitiria a produção caseira do óleo de canabidiol ou a associação de pacientes para um cultivo coletivo.”

José Eugênio é o autor do documentário “Baseado em fatos reais: o acesso à cannabis medicinal no Brasil”, que mostra o drama de pessoas que precisam utilizar a maconha como melhor alternativa para tratamento de saúde, no país em que a erva é criminalizada. Foto: Acervo pessoal.

2 COMENTÁRIOS

  1. Maravilha de entrevista. José Eugênio fala com propriedade e ainda nos apresenta curiosidades. Excelente.

  2. Excelente artigo. Em geral, o crime de injúria está associado ao uso de palavras depreciativas referentes à raça ou cor com a intenção de ofender a honra da vítima. Já o crime de racismo, previsto na Lei nº 7.716/1989, implica em conduta discriminatória dirigida a um determinado grupo ou coletividade e, geralmente, refere-se a crimes mais amplos. Nesses casos, cabe ao Ministério Público a legitimidade para processar o ofensor. A lei enquadra uma série de situações como crime de racismo, por exemplo, recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou às escadas de acesso, negar ou obstar emprego em empresa privada, entre outros.

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