Início Especiais OLYMPIC ENCERRA PROJETO DE FUTEBOL DE BASE

OLYMPIC ENCERRA PROJETO DE FUTEBOL DE BASE

O presidente do Olympic, José Mário Nogueira (de vermelho), e o vice, Altamir Alves de Mattos (de branco). Foto: Lucas Guimarães

Lucas Guimarães
Especial para o Notícias Gerais

Os efeitos da Covid-19 foram sentidos em todos os setores da sociedade – ainda mais em um país que em seis meses não conseguiu conter o vírus. O Olympic, centenário clube barbacenense, também sofreu com os sintomas desta pandemia, ampliando as barreiras do cenário já adverso de crescimento do futebol em Barbacena. Com a diminuição de mais de 65% da receita prevista para 2020 e a impossibilidade dos treinamentos pelos protocolos de segurança, o Olympic suspendeu no fim de agosto o projeto de futebol de base que vinha sendo tocado desde o início de 2018.

Por um acordo com a diretoria do Andaraí, o Olympic treinava nas dependências de seu rival, e em troca fazia o cuidado do gramado, porém, com os protocolos de distanciamento social decorrentes da pandemia, os campos do Andaraí foram fechados. E mesmo na reabertura gradual, o Olympic optou por não retornar com as atividades, já que não era possível garantir a segurança dos garotos, dos familiares desses jovens e da comissão técnica, pelo alto custo dos testes.

Além disso, a receita do clube também diminuiu drasticamente em 2020. Na realização do futebol, o Olympic contava com quatro parceiros, destes, dois tiveram problemas por conta da pandemia da Covid-19. Assim, a previsão de entrada de R$ 290 mil para 2020 caiu para R$ 97 mil.

As empresas apoiavam o clube por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte de Minas Gerais. Nela, o projeto esportivo pode receber até 0.05% do ICMS líquido anual da empresa. Esse valor, no final, é abatido do imposto destinado ao Estado. Com os problemas econômicos decorrentes da pandemia, houve uma isenção e renegociação do ICMS em Minas Gerais. E com a diminuição no valor que entraria no caixa do Olympic, o clube de Barbacena optou por encerrar o projeto esportivo de categoria de base. No dia 31 de agosto foi assinado o fim de contrato do departamento de futebol do Olympic.

“O projeto era multo bacana, mas nós tivemos que cortar na carne, ou era o projeto ou era o clube. Então, a gente teve que optar por aquilo que nos mantém vivos hoje. E pensar no projeto de futebol para o futuro”, disse Altamir Alves de Mattos, vice-presidente do Olympic, mas atualmente exercendo o cargo maior, devido a licença do presidente, José Mário Nogueira.

O próprio José Mário completou a resposta de Altamir: “Vamos ver no ano que vem, se o país normalizar, as empresas voltarem a produzir, pagar ICMS de novo, aí a gente consegue aprovar o projeto de novo”. A chapa formada pelos dois venceu a eleição em 2018, recebendo 252 de 338 votos de associados do clube. José Mário Nogueira está em seu segundo mandato seguido, e será inelegível na eleição de 2022. Altamir pode se candidatar, mas ainda não pensa sobre isso.

Dificuldades do futebol em Barbacena

O futebol no interior se tornou uma atividade cada vez mais cara. Há 16 anos houve um exemplo em Barbacena dessa dificuldade. Em 2004, o Olympic foi campeão da Segundona Mineira, torneio que equivale a terceira divisão do estado, atrás do Módulo I e Módulo II. Com o título, o Olympic subiu ao Módulo II, e, com um começo de desmanche do elenco, dívidas e pouca estrutura, o clube de Barbacena foi rebaixado logo após o acesso.

Até hoje, o último ano de futebol profissional de uma equipe de Barbacena foi essa queda para a Segundona Mineira, em 2005. O Olympic nem disputou a Segundona em 2006, pois se desfez da equipe profissional. Em 2004, José Mário Nogueira trabalhava no clube, mas retirou-se por desacordo do modo como o clube estava sendo gerido. “O passivo financeiro que ficou desse campeonato foi uma coisa exorbitante, quase quebrou por causa do futebol profissional”, lembra.

Desse modo, o Olympic seguiu o caminho da procura de patrocínios para a retomada do futebol de base, de modo profissional, com comissão técnica completa, disputando torneios nas categorias base, porém, persistem barreiras causadas por gestões anteriores. “Quando nós assumimos esse projeto de futebol, o Daniel Elias (que era o treinador da categoria de base) conversou conosco e a gente teria que ser um clube formado, porque se despontasse um menino, a gente teria uma parte dos ganhos de formação. Nós fomos à Federação Mineira de Futebol (FMF) e a dívida do Olympic com a federação era de R$ 260 mil… para nós é impagável”, conta Altamir de Mattos.

O mecanismo de clube formador garante uma porcentagem na venda de jogadores para as equipes que o atleta passou em sua formação como jogador. Contudo, os clubes formadores precisam estar devidamente federadas como equipe profissional. O Olympic, apesar de não ter figurado como equipe profissional nos últimos 15 anos, não pediu desfiliação da FMF, assim, os valores anuais de filiação foram se acumulando.

Tendo visto de perto o projeto de futebol do Olympic que quase acabou com o clube, José Mário Nogueira fala dos problemas que presenciou: “A ganância era fora do comum. Os empresários colocavam o jogador aqui, e eu lembro que eles acreditavam que a gente ia ter uma renda de 5 mil pagantes, era um sonho que eles tinham de encher o estádio e dar renda. Era tudo atrás de dinheiro”, relata.

Segundo ele, para fazer futebol profissional no país tem que ter multo dinheiro. “Você vê o Athletic [de São João del-Rei], a quantidade de apoio que ele está tendo, não é fácil. Se você não tiver recurso, não vai. Pela situação que nós vivemos nesse projeto, você vê como é difícil conseguir recurso para fazer um projeto de base, imagina para o profissional? Então, do meu ponto de vista aqui, dentro da nossa realidade, é inatingível, é inalcançável, jamais colocaríamos o clube em risco para fazer futebol profissional”, esclarece.

Porém, o presidente do Olympic já enxerga o futebol de base como algo possível dentro da realidade: “O investimento é muito pequeno, e você consegue os recursos através das leis de incentivo. Isso fortalece muito a entidade, já que o futebol é o esporte mais praticado e desejado por todo mundo, e eu vivi isso com esses meninos quando começou a fase de captação. Era uma coisa emocionante ver tanta criança e tanto jovem. Na primeira peneira tivemos 300 meninos para selecionar 30, 40”, relata José Mário.

Além disso, o projeto de base tem um lado social, na relação com os jovens: “Um menino com psicóloga, assistente social e nutricionista. Lembro da cobrança dos técnicos em cima dos meninos, vários pais que chegaram perto de mim e falaram ‘poxa, meu filho mudou, meu menino está estudando, está se alimentando melhor’. Então, isso é uma coisa que eu acredito, ela sendo bem feita, com profissionais dedicados e responsáveis igual nós tivemos, é uma coisa altamente possível de ser feita”, finaliza José Mário Nogueira.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui