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15 DE OUTUBRO: PROFESSORES DEFENDEM QUE VALORIZAÇÃO DA PROFISSÃO SEJA ESTENDIDA PARA ALÉM DA DATA

Docentes comentam sobre o Dia dos Professores. (Fotos: arquivo pessoal / Montagem: Notícias Gerais)

Kamila Amaral
Notícias Gerais

A profissão que forma todas as profissões. É assim que muitas vezes se define o trabalho dos professores. Nesta quinta (15) é comemorado o Dia do Professor no país. No entanto, para além dos parabéns e dos agradecimentos, os membros da categoria defendem que a valorização da profissão ocorra durante o ano todo e aconteça tanto por parte da sociedade quanto dos governos. 

Aline Araújo se formou na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e, há 15 anos, é professora da rede estadual, em Minas Gerais. Nos últimos quatro anos também tem atuado na rede particular de ensino e assumiu a coordenação do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE), de Barbacena, há pouco mais de um ano. Para ela, o Dia dos Professores se torna uma celebração datada e vazia se não houver o reconhecimento contínuo do trabalho. 

Aline Araújo (Foto: arquivo pessoal)

“Pelo menos aqui, em Minas Gerais, a gente tem essa semana de descanso, que vem Dia das Crianças, Dia de Nossa Senhora Aparecida e Dia dos Professores. A gente não quer uma semana de descanso, a gente quer valorização o ano todo”, afirma. 

Ela aponta também a contradição do poder público de defender a educação como atividade essencial no meio da maior crise sanitária mundial da história recente enquanto a própria atividade letiva vem sofrendo diversos ataques e sucateamentos durante os últimos anos. “Dizer que (a educação) é essencial sim, mas o que é mais essencial é a vida”, defende a docente.

Araújo lembra que, antes mesmo do início da pandemia de Covid-19, os professores do estado mineiro estavam em greve lutando por demandas da categoria e que muitos docentes não tiveram um contato presencial inicial com esses alunos com quem estão lidando por meio dos PETs, método de ensino adotado em Minas Gerais.

No início da pandemia e com a adoção do ensino remoto, houve um temor de que esses novos métodos de ensino contribuíssem ainda mais com a desvalorização do professor. No entanto, a experiência vivida nos últimos tempos provou justamente o contrário. 

“Com o ensino remoto ficou muito claro o papel do professor, a importância do professor em sala de aula e desse contato com o aluno”, salienta a coordenadora do Sind-UTE de Barbacena. 

Aline considera que se a dificuldade inicial da categoria com o ensino remoto se deu por conta da inexperiência com as tecnologias, no cenário atual a maior adversidade está na falta de contato e interação com os estudantes. Araújo defende também que a valorização da categoria deve partir da sociedade, principalmente, neste momento em que o próprio governo desfere ataques consecutivos a área e aos seus profissionais. 

“É uma vergonha, sinceramente. Nós tivemos que ouvir do Ministro (da Educação), por exemplo, que o professor é aquele que não conseguiu fazer mais nada na vida, que é a última opção de uma pessoa. Na verdade é uma missão, uma escolha”, desabafa.

O diretor de comunicação da subsede do Sind-UTE em São João del-Rei, André Nogueira, professor da educação básica em escolas públicas há mais de 13 anos, destaca que datas como o Dia do Professor são importantes para levantar o debate sobre as condições de trabalho da categoria e dos servidores da educação como um todo.

André Junqueira (Foto: arquivo pessoal)

“Além do amor, que é tão dito por aí que é importante ter na profissão, existe também um grau de dedicação, de esforço e técnica. (Ser professor) é uma profissão que demanda muito conhecimento. É um categoria que batalha bastante e tende a carregar nas costas a falta de investimento na própria educação”, ressalta.

Os representantes dos sindicatos concordam que o ensino remoto serviu para mostrar a sociedade a importância do professor em sala de aula e da escola, como um todo, na formação das crianças e adolescentes. “Ficou muito claro que o ensino remoto, esse esforço que a gente está fazendo para levar o conhecimento para as casas de maneira remota, é insuficiente tendo em vista a necessidade do trabalho presencial”, afirma Nogueira. 

Voz aos professores

Tratando do ensino remoto, a docente do Departamento de Ciências da Educação (Deced) da UFSJ e presidenta da Seção Sindical dos Docentes da universidade (Adufsj), Maria Jaqueline de Grammont Machado de Araújo, destaca que uma das questões centrais de discussão nesse Dia dos Professores deve ser a maneira como a categoria foi invisibilizada pela mídia no debate sobre o ensino à distância. 

Maria Jaqueline (Foto: arquivo pessoal)

A professora, que iniciou sua carreira na educação básica e atuou em diversos níveis educacionais em sua trajetória profissional, salienta que o professor é justamente o profissional que tem todo o embasamento prático e teórico para contribuir e enriquecer a discussão sobre as modalidades de ensino – para que elas, por sua vez, se transformem no desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a educação. 

“Somos professores e queremos ser tratados com a importância que a nossa profissão tem”, declara a professora. 

Desigualdade Social

A presidenta da Adufsj contextualiza que os ataques e o silenciamento dos professores ocorre desde o início do século XXI, quando a chegada das classes mais pobres da população aos espaços de ensino começou a gerar um desinvestimento nas escolas de educação básica e também nas universidades públicas. 

Para ela, a situação atual da educação pública no Brasil é um projeto de desmonte do estado que resultará no que tem sido chamado de “uberização” da educação, um processo de “precarização da precarização”. 

“O futuro da educação pública no Brasil é muito incerto e vai depender de como a sociedade vai lutar junto com os professores pela manutenção da educação pública, uma educação pública que serve a todas as classes sociais e a todos os níveis de ensino”, avalia a docente da UFSJ.

Para ela, esta quinta, dia 15, é um dia para celebrar a resiliência do professor, trazer a sociedade para a luta em defesa da educação e reanimar aqueles professores que, legitimamente, se desmotivaram devido aos ataques sofridos por diferentes frentes.

“Os professores formam uma categoria muito resiliente, que faz curso no final de semana, nas férias, muitas vezes sem ganhar um centavo a mais no seu salário, mas estão sempre tentando melhorar a situação em que estão inseridos”, defende Maria Jaqueline.

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