Najla Passos
Notícias Gerais
A ex-mulher do oficial da Aeronáutica preso na última quinta (4), após atirar no pneu do carro dela, na altura do Trevo do Eloi, em São João del-Rei, entrou em contato com o Notícias Gerais para pedir a correção da matéria publicada sobre o caso. Para a vítima, o fato não configura violência doméstica. “Ele só queria me proteger”, acredita.
Segundo ela, o ex-marido sempre a tratou de forma respeitosa. “Eu estava indo para o Rio, onde fica o apartamento em que morávamos, em um carro que não está em bom estado, não tinha nem estepe. Ele atirou no pneu para me preservar de ter problemas na estrada, quem sabe até sofrer um acidente e deixar meu filho órfão”, disse ela em entrevista ao NG.
A vítima é são-joanense e ficou casada com o agressor por quatro anos. Da relação, nasceu o filho do casal, que hoje está com um ano e meio. Aos 29 anos, ela acredita, por alguma razão que não sabe explicar muito bem, que precisa da proteção de um homem capaz de atirar no carro dela em movimento para tocar a própria vida.
Diferentes versões do fato
Em entrevista ao NG, a vítima disse que o ex-casal morava no Rio e decidiu se separar depois que o militar foi transferido para Brasília. A mulher, então, voltou para São João del-Rei e o ex-marido estava fazendo um curso em Lagoa Santa, antes de seguir para a capital federal. Na quinta (4), quando ele retornaria ao Rio de Janeiro, ela o informou que iria com ele, que mesmo assim partiu sozinho.
A vítima, então, ligou para avisar ao marido que ela iria até o Rio no outro carro do ex-casal, mas ele, que já estava na estrada, voltou até o Trevo do Eloi e a interceptou quando ela passava por ali. Os dois conversaram e ela insistiu que iria até o Rio. Ele não aprovou a ideia, sacou sua arma e atirou no pneu do carro dela, após ela dar a partida para voltar à pista da BR-265.
“Eu estava indo para meu apartamento e do meu ex-marido levar as fardas dele e buscar algumas coisas minhas que ficaram lá. O apartamento está em reforma devido a separação. Meu ex-marido achou que o carro não chegaria ate o Rio de Janeiro por não está em um bom estado de conservação (já que estava parado há muitos dias) ele me interceptou e disparou monoteísmo (sic) para eu não prosseguir viagem”, reforça.
Ninguém mete a colher?
Na Delegacia, para onde foram levados após o ex-marido ser preso em flagrante, ela não aceitou pedir medidas protetivas contra o agressor. O caso acabou sendo encaminhado para a Delegacia de Armas e Munições de São João del-Rei, ao invés de para a Delegacia da Mulher. A ocorrência, portanto, não irá configurar nas estatísticas oficiais como violência doméstica, o que impacta no já alto índice de subnotificação de crimes desta natureza.
Afinal, o que é violência doméstica?
A Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, descreve as principais formas de violência doméstica, com o objetivo de facilitar a identificação. São elas: violência física, quando as ações colocam em risco a saúde ou integridade física da vítima; violência psicológica, por atitudes que causem danos à saúde mental; violência sexual, quando existe qualquer constrangimento em participar ou presenciar relações sexuais não desejadas; violência patrimonial, ocorre no impedimento da mulher usar bens, recurso financeiros, direitos, documentos e até mesmo de trabalhar; e violência moral, quando a pessoa é vítima de calúnia, injúria ou difamação.
A violência contra a mulher, muitas vezes, é uma violência estrutural, que está na formação de sociedade atual, calcado no machismo, no patriarcado e no capitalismo. Ela é legitimada quando há a banalização desses tipos de agressões e o silenciamento das vítimas que, por motivos diversos, não conseguem sequer enxergá-la.