Lucas Maranhão *
Na última segunda, 6, Ennio Morricone partiu. Aos 91 anos, o maestro italiano que dedicou sua vida a compor para o cinema, terminava sua longa trajetória de vida e carreira brilhante. Desde a década de 60, até os dias atuais, são mais de 500 créditos como compositor. E mais: alguns dos temas mais conhecidos da história do cinema. Nesse tempo, Morricone ajudou a reinventar o faroeste e o terror e a difundir o cinema italiano pelo mundo, se tornando um dos nomes mais admirados em Hollywood.
Costumo dizer que Morricone está entre as mentes mais geniais a trabalhar com o cinema. Apesar de não ser um cineasta, seu trabalho é tão marcante e reconhecível, que sua identidade própria está sempre presente. Muitos cinéfilos assistem aos filmes só por causa de seu trabalho.
Dois anos atrás, escrevi sobre Morricone e, após sua morte, decidi voltar àquele texto. Nele, passo pela carreira de Morricone, destacando seus pontos altos (que são muitos) – algo similar com o que costumo fazer nesta coluna. Por isso, decidi incluir um trecho dele abaixo:
(Escrito em 12/04/2018)
Ennio Morricone é um maestro e compositor italiano de 89 anos. Nesse longo período de vida e carreira, o maestro se tornou um dos mais renomados nomes das trilhas sonoras cinematográficas.
Tudo começou com os faroestes italianos de Sergio Leone (já citados em uma coluna anterior). Os chamados Westerns Spaghetti foram a grande vitrine de Morricone. Seu estilo de composição, com frequente utilização de vocais e outros elementos comumente ignorados pela música clássica, deram ao gênero de faroeste uma nova cara. E era isso que Sergio Leone buscava, uma inovação em relação ao que era feito nos já banalizados Westerns americanos.
Curiosamente, a trilha sonora que vem à cabeça da maioria das pessoas quando se fala em faroeste é a de Morricone, e não a dos filmes de John Ford. O tema principal de O Bom, o Mau e o Feio (1966), de Leone, tornou-se uma das mais famosas e referenciadas músicas compostas para o cinema.
Ao lado de Leone (seu antigo amigo de colegial), ele compôs a trilha para seis filmes, sendo cinco faroestes – Por Um Punhado de Dólares (1964), Por uns Dólares a Mais (1965), O Bom, o Mau e o Feio (1966), Era uma Vez no Oeste (1968) e Quando Explode a Vingança (1971) – além do ambicioso filme de máfia Era uma Vez na América (1984).
Com a parceria de sucesso, Ennio Morricone foi responsável pelas composições de diversos filmes clássicos no cinema norte-americano, como a belíssima trilha de O Enigma de Outro Mundo (1982), de John Carpenter. A influência de Morricone é ampla e diversa. Metallica é apenas uma das diversas bandas que o homenageiam – a banda de metal inicia seus shows com The Ecstasy of Gold, composição de O Bom, o Mau e o Feio.
Mais recentemente, o cineasta Quentin Tarantino tem sido seu colaborador mais frequente. Fã de carteirinha do maestro, Tarantino começou a trabalhar diretamente com Morricone em Kill Bill (2004 e 2005) e Bastardos Inglórios (2009), mas só em Os Oito Odiados (2015) pode ter a trilha sonora completa produzida pelo italiano. O resultado foi uma das trilhas mais maravilhosas de sua carreira, na minha opinião.
Beirando os 90 anos, Ennio Morricone continua compondo novas trilhas para filmes ano após ano, além de ainda realizar performances ao vivo. A vitalidade do italiano assusta, também, porque suas composições nunca se mostram menos impactantes ou ousadas. Aos fãs, basta sonhar que a forte saúde de Morricone dure por muitos anos, porque o maestro parece determinado a continuar marcando a história do cinema.
Descanse em paz, Maestro! Continuaremos te admirando por aqui.
- É jornalista, designer e apaixonado por cinema.