Início Gerais Cotidiano MUNICÍPIOS CARECEM DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ANIMAIS ABANDONADOS

MUNICÍPIOS CARECEM DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ANIMAIS ABANDONADOS

Um dos animais abandonados. (Foto: arquivo Compat)

Redação
Notícias Gerais

Mais de cem cães sozinhos em uma casa em Tiradentes, após serem submetidos à maus tratos. Mais de 30 abandonados às margens de uma rodovia em Barbacena. O drama dos bichinhos abandonados por “acumuladores de animais” é cada vez mais recorrente na região, mas as prefeituras não estão preparadas para enfrentarem o problema. O resultado são ONGs e entidades da sociedade civil sobrecarregadas com obrigações que deveriam ser do poder público. E animais domésticos sobrevivendo sem os cuidados necessários e, por isso, causando os mais diversos problemas de saúde pública, higiene e segurança às cidades.

No último dia 24 de março, o Notícias Gerais publicou uma reportagem denunciando a situação precária em que dezenas de cães estão vivendo em uma casa, no distrito de Águas Santas, município de Tiradentes, após seus donos, um casal de idosos, serem despejados no final do ano passado. Com o despejo de seus tutores, os cães ficaram sozinhos na casa, em condições insalubres e se reproduzindo livremente, aumentando ainda a matilha, muitos deles feridos, doentes e desnutridos.

O caso expõe uma triste realidade que envolve questões de saúde pública, mas também de saúde mental, uma vez que se trata de um caso de “animal hoarding“, termo utilizado para definir acumuladores de animais, ou seja, pessoas que mantêm em casa mais animais do que têm condições de cuidar, em um ambiente superlotado e inadequado, com uma vida de stress constante, na maioria das vezes com fome e expostos a doenças, além de confinados em condições insalubres.

Para a psicologia, pessoas que começam a juntar animais e não conseguem parar sofrem do transtorno de acumulação. Quem tem o transtorno acredita estar ajudando os animais, mas acaba tendo uma criação sem controle, que coloca em risco a vida dos animais e dela mesma. Os indivíduos com esse transtorno possuem uma dificuldade em se desfazer de objetos ou animais e apresentam incapacidade de organizar o espaço de convivência

Maioria dos animais estão anêmicos e desnutridos. Foto: Compat

Para além da questão individual e psicológica, também tem a questão social e de saúde pública, uma vez que esse acúmulo de animais em condições sanitárias precárias, além de causar transtornos a moradores e vizinhos, seja com barulho ou mau cheiro, também pode disseminar diversas doenças, chamadas de zoonoses, não só advindas dos cães, mas também de ratos, que são atraídos para os locais.

No caso dos cães nas Águas Santas, a situação tomou uma proporção ainda maior, tendo em vista que os tutores dos animas não estão mais na residência e o própria dona da casa não pode usufruir do espaço, uma vez que não tem para onde levar esses animais.

O Grupo de Apoio a Animais em Desastres (GRAD), a pedido da Comissão de Proteção Animal de Tiradentes (Compat), fez uma visita ao local no último sábado (27/3). Aquela entidade é voluntária, formada por brigadistas, socorristas, médicos e auxiliares veterinários, entre outros, que atuam no momento em que os órgãos não conseguem resolver a situação. Os dois representantes do grupo, Henrique e Manoel, avaliaram as condições dos animais. Alguns dos cães precisaram de atendimento clínico e foram administrados medicamentos, como vermífugos, antiparasitários e vacinas.

Confira, abaixo, o vídeo divulgado pela Compat, que mostra os animais sendo cuidados pelos voluntários do GRAD.

“Era uma cena de filme de terror que estava debaixo do nariz de todo mundo e ninguém nunca viu. Um senhor que trabalhava lá disse que quase todos os dias tinha algum cachorro pra sepultar”

Maria Clara Ferreira, vice-presidente da Compat

A história desde o início

A vice-presidente da Compat, Maria Clara Ferreira, contou um pouco da história. Segundo ela, o dono dos animais era um protetor ajudado por todos do município, no entanto, ele nunca deixou que eles fossem castrados. “Eu moro na cidade há três anos, mas tem gente que trabalha com a causa animal há 10, 20 anos e eles relatam que ele nunca deixou castrar os animais, mesmo quando ganhava o procedimento, pois achava errado fazer a castração. Mesmo quando o castramóvel esteve no município, ele não deixou que os animais fossem levados”. Além disso, Ferreira afirma que, apesar de todos saberem que havia muitos animais no local, ninguém sabia a real situação deles, uma vez que o dono não permitia a entrada das pessoas.

No final de 2020, com o apoio de uma advogada, ao desconfiar de uma situação de maus tratos, a entidade conseguiu entrar no imóvel e constatou um verdadeiro caos. “Era uma cena de filme de terror que estava debaixo do nariz de todo mundo e ninguém nunca viu. Um senhor que trabalhava lá disse que quase todos os dias tinha algum cachorro pra sepultar. Inclusive, na visita, foram encontrados animais amarrados no mato fechado, sem comida, sem água, simplesmente deixados para morrer. Quase todos os cães do local também têm muito medo de gente. O que ele fez com os cães foi desumano”, destaca. Na ocasião, o dono foi preso em flagrante, mas foi liberado devido à pandemia, por se tratar de um idoso.

Voluntários fazendo a limpeza do local. Foto: Compat

A ONG, então, se propôs a ajudar a cuidar dos animais e também a limpar o local, no entanto, o dono não aceitou ajuda, chegando a ser rude e agressivo com os voluntários. “Ele não aceitava que a gente entrasse para cuidar dos cães e, se a gente entrasse com a polícia novamente, a Compat teria que assumir a responsabilidade sobre todos os animais e, pelo nível de complexidade da situação, era muito complicado para uma comissão tão pequena e sem recursos assumir”, explica.

Segundo Maria Clara, a situação atual de saúde dos animais não é boa, o que aumenta ainda mais os custos para manutenção. “Muitos deles têm doença do carrapato, que não fica barata para tratar; tem a castração; todos estão anêmicos, alguns sem vacinação e com suspeita de leishmaniose. A gente queria ajudar da forma que fosse possível, pois um ou outro que a gente conseguisse que fosse adotado, ou passar por um tratamento, para pelo menos melhorar a situação deles de alguma forma, pois a gente sabe que muitos não serão adotados”, declara.

Com a ordem de despejo, a Compat conseguiu novamente adentrar no imóvel e tomar a frente da situação, que se complicou ainda mais, pois a proprietária do imóvel determinou o prazo de um mês para que os animais sejam retirados da casa. “O espaço é dela e ela quer que tire. Ela deu o prazo e, em um mês temos que arrumar o que fazer com esses cães. Estamos ajudando da forma que podemos, fazendo mutirão e revezamento para cuidar deles; arrecadando ração; fazendo a limpeza do local, que é perigoso até para nós mesmos”.

Diante de tantas dificuldades, a esperança é de que o poder público ajude a tomar providências para resolver a situação desses animais. Maria Clara afirma que a ideia da Compat sempre foi fazer as políticas públicas funcionarem dentro da causa do meio ambiente, da saúde e da causa animal, no entanto, é muito complicado. “A licitação para compra de ração, por exemplo. Não há momento de maior necessidade do que o atual, em que temos essa grande quantidade de cães, que são de responsabilidade do município, uma vez que, se o dono não deu conta de criar, não foi responsabilizado e eles estão abandonados naquela situação, é responsabilidade do município. E a licitação não ocorreu até hoje! Estamos correndo feito loucos para alimentar aqueles cães e são 72 sacos, no mínimo, por mês e vai aumentar, pois veio uma ninhada com mais 10 e tem mais duas cadelas prenhas”, lamenta.

Ela explica que também é urgente que se providencie um espaço para levar esses animais, pois a dona da casa não quer que eles fiquem lá. “Já estamos perdendo as forças para correr atrás de ajuda. Não adianta ficar esperando deles não, senão as vidas vão sendo perdidas e nada é resolvido”, conclui.

Vídeo: reprodução / Edição: Notícias Gerais

O que diz a Prefeitura de Tiradentes

Diante da situação, o Notícias Gerais entrou em contato com a Secretaria de Saúde e a Superintendência de Meio Ambiente de Tiradentes para averiguar a posição do poder público em relação à situação dos animais. A reportagem não recebeu retorno da Secretaria de Saúde. O superintendente de Meio Ambiente, Ernane Fonseca, afirmou que o município ainda está analisando, junto à assessoria jurídica da prefeitura, os meios legais para tomar providências em relação aos animais.

EM BARBACENA, MAIS DE 30 CÃES ABANDONADOS

Alguns dos cães estão feridos e desnutridos. Foto: divulgação

Na última segunda-feira (29/3), o Corpo de Bombeiros foi acionado devido à presença de mais de 30 cães que haviam sido abandonados já há cinco dias nas margens da Rodovia MG-135, altura do km 08, nas proximidades entre o Aeroporto e o Distrito de Sá Fortes, em Barbacena. Os bombeiros não conseguiram capturar os animais, que fugiram pela mata. Protetores de animais independentes, de Barbacena, que também estavam no local, tomaram a frente do caso e, a partir de então, iniciou-se uma batalha para resgatar os cães, alguns deles feridos, desnutridos e também filhotes. Um dos cães foi atropelado e morreu no local.

Segundo os protetores de animais, o tutor dos cães os levou até o local, em um caminhão e os soltou à beira da rodovia. Uma das protetoras que está atuando na situação é Fausta Maria de Carvalho. Segundo ela, o dono dos animais alegou que os animais seriam deixados em um sítio, em Antônio Carlos, no entanto, eles foram abandonados nas proximidades da “Ponte do Cosme”. “Nós, protetores independentes, estamos indo até o local diariamente alimentar os cães e estamos tentando apoio de órgãos públicos para nos ajudar no resgate desses animais. O proprietário dos cães já foi denunciado e ouvido na Polícia Civil e, certamente, vai responder a um processo por abandono de animais. Nós resgatamos seis animais, sendo três filhotes, um macho adulto, uma fêmea adulta e uma cadelinha idosa, cega e com um imenso tumor. Os demais continuam no local, à beira da estrada, colocando em risco a própria vida e de motoristas e pedestres que passam por ali, pois podem causar acidentes graves”, declara.

Os protetores têm pedido às pessoas que doem ração e que compartilhem as informações sobre o caso, para que ganhe repercussão e não se torne impune. “Precisamos ter justiça e que os órgãos públicos tomem providência. Se alguém tiver habilidade e conhecimento no resgate de animais que possa nos ajudar e ir até o local, também é muito importante”. As pessoas interessadas em ajudar, também podem adotar algum dos animais. “A gente faz o resgate, eles terão que passar por um tratamento e depois serão disponibilizados para adoção”, explica.

Quem puder doar ração para ser destinada aos cães abandonados, pode entrar em contato com a protetora Fausta, pelo WhatsApp (32) 98495-7360.

O que diz a Prefeitura de Barbacena

A reportagem do Notícias Gerais entrou em contato com a Prefeitura de Barbacena, que emitiu uma nota à imprensa sobre o caso. Leia, a seguir:

A vigilância Epidemiológica assim que soube da situação, procurou alternativas para resolver o problema. O Município não tem um espaço público para abrigar esses animais, mas contactou algumas representatividades em busca de uma solução em parceria, anterior ao resgate por parte do Corpo de Bombeiros. Vale ressaltar que abandonar ou maltratar animais é um crime já previsto pela lei Federal nº 9.605/98.

Confira, abaixo, mas fotos dos animais abandonados em Barbacena:

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