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“ALÉM DE PRETO, VIADO”: YOUTUBE EXCLUI DOCUMENTÁRIO SOBRE EMPODERAMENTO DO HOMEM NEGRO GAY

Imagem: reprodução

Kamila Amaral
Notícias Gerais

Na manhã de segunda (1), o documentarista Lucas Porfírio, formado em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal de São João del-Rei, acordou para descobrir que o canal de seu documentário “Além de PRETO, VIADO” havia sido excluído do YouTube.

Em sua justificativa, a plataforma alega que o conteúdo do canal violava suas diretrizes de conteúdo e promovia discurso de ódio. Não foi informado, no entanto, o quê, exatamente seria considerado como tal discurso ou qual política da comunidade foi infligida.

O documentário, de cerca de 25 minutos, é composto por homens negros e gays contando suas histórias e experiências em ser quem são. “Além de PRETO, VIADO” foi o produto apresentado por Porfírio como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) à UFSJ em 2017 e estava disponível no YouTube desde maio deste ano.

Ao excluir o canal que abrigava o documentário, a plataforma disponibilizou um formulário para que o responsável conte porque acredita que seu conteúdo foi removido e apresente uma defesa. O documentarista afirma ter preenchido esse formulário antes mesmo de denunciar publicamente a remoção da obra.

“Creio eu que a remoção aconteceu, não por causa do algoritmo, mas com uma série de denúncias. Porque o documentário estava com um número grande de visualizações e creio eu que foi alvo de algum grupo”, avalia Porfírio.

Para ele, o documentário, que possuía mais de sete mil visualizações na plataforma – e estava alcançando outros espaços como eventos, mostras de cinema e salas de aulas – chegou a algum grupo e passou a ser denunciado compulsoriamente.

“O YouTube tem disso. Ele faz essas remoções com base numa série de denúncias, sem verificar o conteúdo do canal”, aponta o jornalista.

Representatividade

O “Além de PRETO, VIADO” nasceu do interesse de Porfírio pelo audiovisual e da percepção de que poderia fazer jornalismo por meio disso.

“Eu sempre senti muita falta de representatividade LGBTQIA+ que pensasse a questão dos corpos negros. E assim, representatividade na mídia. Um dos motivos que me leva a fazer o documentário é contrapor isso. Uma das questões muito forte que abordo no filme é uma crítica ao movimento LGBTQIA+, que infelizmente ainda é um movimento muito branco, muito classe média e é um movimento racista: onde os corpos de homens gays negros são sexualizados, fetichizados, tratados como objeto e não são permitidos em outros espaços. Não são permitidos o afeto, o amor”, expõe o autor do documentário – que também está disponível no Vimeo (assista abaixo).

Documentário: Lucas Porfírio.

Plataforma

Porfírio afirma que o canal no YouTube era sua forma de distribuir o documentário gratuitamente para o maior número de pessoas possível. Por isso, faz questão de que o conteúdo esteja disponível na plataforma.

“Ao apagar o meu conteúdo o YouTube está sendo conivente com um discurso racista, machista, heterroterorista, que vai contra e que mata nós, LGBTQIA+ e negros, todos os dias”, declara o jornalista.

Para ele, a plataforma precisa parar de levantar bandeiras com o intuito de lucrar, e passar a realmente proteger os produtores de conteúdo que abordam temáticas negras e LGBTQIA+.

Apesar do ambiente criado virtualmente ainda ser muito nocivo às minorias, Porfírio acredita que nesses espaços é possível difundir o conteúdo tanto acadêmico, quanto com temática LGBTQIA+ e antirracista, como é o caso do “Além de PRETO, VIADO”.

O Notícias Gerais tentou contato com a assessoria do YouTube, mas não houve retorno. Se e quando houver um pronunciamento, será adicionado.

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