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ARTIGO: EM TEMPOS DE PANDEMIA, O DESAFIO É EVITAR A EVASÃO SEM AMPLIAR AS DESIGUALDADES NO ACESSO À EDUCAÇÃO

Foto: Divulgação/MCTIC

Carol Oliveira *

A educação é o principal instrumento responsável pelo progresso de um país, resultando no desenvolvimento econômico e social, gerando indivíduos mais críticos, conscientes e engajados em exercer sua cidadania.

Pela sua inegável importância, o ensino deveria ser tratado como prioridade, mas a realidade apresenta uma utopia pautada em discursos de políticas educacionais que ignora os desafios do Brasil nas ordens estruturais, pedagógicas, financeiras, culturais e, principalmente, sociais.

A construção de um sistema educacional de boa qualidade é diretamente proporcional ao seu nível de abrangência – a escola, sendo um ambiente de direito universal para a formação humana, capaz de transformar realidades, não pode (ou, pelo menos, não poderia), ser palco de tamanha desigualdade, criando um abismo entre alunos e professores de diferentes classes sociais.

Ensino à distância

Em tempos de pandemia e discussões sobre EAD (Ensino à Distância), alguns dos problemas que já vinham de dentro das salas de aula ficam escancarados e palpáveis, quase como uma pedra no sapato que impossibilita a caminhada se não houver um esforço em busca de uma solução para esse problema tão latente.

Foi divulgado, recentemente, um levantamento da Unesco com os países que possuem os melhores métodos escolares dos últimos anos. Dentre as 43 nações classificadas na pesquisa, o Brasil aparece na 40ª posição do ranking. Apesar do nosso país mostrar uma boa colocação, comparado aos mais de 190 países existentes, ainda há muito a ser feito.

Trazendo o foco para a questão do EAD, ele é proposto como uma forma de manter o vínculo com a escola e garantir uma rotina de estudos durante o isolamento social. Algo até válido, visto que, de acordo com dados do PNAD Contínua 2019, divulgados em 15/07/20, têm-se que o atraso ou abandono escolar atinge uma grande parcela dos jovens do país.

Entre jovens de 11 a 14 anos, o percentual de abandono era de 12,5%; já entre a faixa etária dos 15 aos 17 anos, o valor sobe para 28,6%. Já quando se analisa os dados entre pessoas dos 18 aos 24 anos, a situação passa a ser de 75% do total, sendo 11% atrasados e 63,5% não frequentavam escola e não tinham concluído o ensino obrigatório.

Os sem-internet

Porém, essa iniciativa esbarra em uma dura realidade: a dificuldade dos alunos, seja pela falta de internet, de estrutura familiar, de um lugar tranquilo para poder estudar e até o despreparo de professores para lidar com a plataforma on-line e as mudanças na forma de ensinar.

Segundo dados do levantamento “TIC Domicílios 2019”, formulado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC), aproximadamente 30% dos lares no Brasil não têm acesso à internet.

O alto percentual de famílias sem acesso à internet, ou com pacote de dados limitados, gera uma exclusão do acesso à educação de qualidade. Mesmo que, em alguns casos, a solução seja entrega de material impresso, ocasiona a exposição de profissionais da educação e famílias a quebra do isolamento social e, possivelmente, o aumento do risco de contágio neste momento delicado.

Mobilização coletiva

A solução, para além da cobrança que deve ser mantida em cima de órgãos responsáveis, está no poder coletivo de mobilização, que independe do aval de qualquer governo. A educação nada mais é do que um reflexo da sociedade, portanto, como agentes sociais com extrema capacidade de renovação e adaptação, devemos refletir sobre o nosso protagonismo nessa área.

Por mais que estejamos longe do ideal, com inegáveis lacunas nas ferramentas e métodos utilizados no momento, vale a reflexão sobre a mudança de rumo que há tanto buscamos.

Repensar a sala de aula, o aluno, o professor, o uso e importância das tecnologias, o jeito de se ensinar, a autonomia, o comprometimento, o incentivo à leitura e busca do aprendizado de forma mais autônoma  e independente são técnicas que, se usadas com colaboração, flexibilidade e principalmente responsabilidade e empatia, podem se tornar meios para a quebra de uma tradição que já não funciona, levando o Brasil a um novo patamar de ensino.

  • Jornalista meio perdida e meio achada no universo da moda, dos games e da música. Comunicadora e comunicativa, é perigoso um dia acabar conversando com as paredes. São-joanense, amante de um bom café com pão de queijo e uma prosa, traduz sua visão de mundo por meio das palavras e do audiovisual. Contato: calithemermaid@gmail.com

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