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TREM DE MINAS: MARCO ZERO DA EFOM, ANTÔNIO CARLOS SE DESTACA AO MANTER VIVA A MEMÓRIA DA FERROVIA

A Locomotiva 66 é parte do acervo do Museu Ferroviário de Antônio Carlos. Foto: Najla Passos

Najla Passos *

Há exatos 139 anos, D. Pedro II desembarcava em São João del-Rei para inaugurar a Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM), idealizada para ligar a corte, no Rio de Janeiro, à região do ouro das minas. Junto com ele chegava também – e principalmente – o progresso. Uma história já contada aqui nesta coluna, por uma visão feminina original.

Em um carro parecido – mais muito mais especial – do que o vagão de luxo que se encontra preservado no Museu Ferroviário da cidade, o imperador cortou aquela que é hoje a mais estreita estrada de ferro do mundo, no trechinho de apenas 13 quilômetros, ainda em operação, entre São João del-Rei e Tiradentes. E até hoje a EFOM mantém o apelido de “Bitolinha”, justamente por apresentar uma distância entre os trilhos de apenas 76 centímetros.

A história da ferrovia mais querida da região, porém, começa um ano antes, no município de Antônio Carlos, na época chamado de Sítio e ainda pertencente a Barbacena, escolhido como marco zero EFOM justamente por já estar ligado à Estrada de Ferro Central do Brasil. Foi ali que, no dia 30 de setembro, uma locomotiva circulou pela primeira vez para encantar os mineiros e turistas que até hoje chegam de todos os cantos.

E foi dali também que partiram os trilhos que chegaram depois à São João del-Rei, cortando os municípios do caminho e levando a modernidade a todos eles. Dos 98 quilômetros inaugurais que ligavam Sítio a São João del-Rei, a EFOM chegou a ostentar quase 220 quilômetros, conectando várias regiões de Minas Gerais.

Até que o Brasil mudou. Nos anos 1950 de Juscelino Kubitschek, passou a acreditar que a modernidade estava associada aos carros, às rodovias. E abandonou suas linhas de ferro. Entre 1966 e 1984, a Bitolinha foi sendo desativada. Em Antônio Carlos, a Maria Fumaça fez sua última viagem em 1982.

Mas o município continua firme na tentativa de manter a memória ferroviária daquele período. A antiga estação, reformada com a ajuda da Fundação Banco do Brasil em 1999, abriga órgãos públicos e serviços assistenciais, como os Alcóolicos Anônimos. Nas paredes internas do prédio, fotos de antigas locomotivas lembram os dias de gloria.

A Maria Fumaça nº 66 fica em exibição pública, no pátio externo, para alegria das crianças e dos aficionados por trens que visitam o município. Batizado de Museu da EFOM, o complexo turístico guarda memórias de outras épocas, como um pedacinho dos trilhos de bitola 0,76 metros.

Logo a frente, está preservada a velha caixa d´água que abastecia as locomotivas movidas a vapor. Abaixo dela, uma capela dedicada à escrava Anastácia resgata a devoção popular do povo da cidade, cuja padroeira é Santana, a sábia avó de Jesus.

“A EFOM tem uma importância enorme para Antônio Carlos, considerando que o desenvolvimento econômico e geográfico do nosso município se deve graças ao patrimônio construído por ela”, afirma o secretário municipal de Cultura, Turismo, Esportes e Meio Ambiente, Cloves Ferreira de Andrade.

Turismo em alta

Com várias edificações históricas, a cidade, entrecortada pela ferrovia, cresceu e se mantém ao longo dos trilhos. Embora a EFOM tenha sido desativada, os trens de carga operados pelo consórcio MRS, nos trilhos antes pertencentes à Central do Brasil, cortam a cidade o dia todo, fazendo soar longe seus apitos.

E a vida pacata, com belas fazendas e pesqueiros, somados a um conjunto histórico de belas estações bem preservadas, como as de Campolide e a João Ayres, atraem turistas de todas as partes, especialmente os ciclistas interessados em muita natureza e pouca aglomeração urbana.

De acordo com o secretário, nem mesmo a pandemia da Covid-19 prejudicou o turismo na cidade que, segundo ele, recebe cerca de mil pessoas nos meses de baixa temporada – e um número ainda maior na época das festas, como na do Festival de Queijo (Flequeijo), que consagra o mais característico produto local.

“Não mudou muito, considerando que o foco do nosso turismo é ecológico. Com isto, não obtivemos obstruções, apenas readaptações: exigimos o uso de mascaras. E com a proibição de aglomerações, o público da nossa região tem dado prioridade a passeios ciclísticos. Notamos um aumento muito grande no fluxo de pessoas com este fim”, afirma.

Foto: Najla Passos

Najla Passos é mineira, jornalista, mestra em Linguagens e Literatura Brasileira e diretora-executiva do Notícias Gerais.

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