Lucas Maranhão *
Não há nada como assistir um filme no cinema. A imersão causada pela telona e pelo sistema de som, além do sentimento incomparável de estar junto de dezenas de outros espectadores, reagindo a uma mesma obra artística, cria uma experiência sempre inesquecível. Entretanto, em meio a uma pandemia de coronavírus e um inevitável isolamento social é indicado evitar aglomerações públicas, principalmente em locais fechados.
Não é hora de desafiar as recomendações e não é hora de ir ao cinema, mas não quer dizer você precisa deixar de assistir filmes! Aliás, pode ser um bom momento para conferir novas produções. Por isso, busquei listar filmes que podemos assistir sem sair de casa, disponíveis em serviços de streamings populares ou… por métodos alternativos (você sabe onde!) Confira:
Trilogias
Vamos maratonar! Abaixo listo três trilogias que dispensam apresentações. Três histórias completas e fechadas que marcaram diferentes períodos do cinema.
O Poderoso Chefão (1972, 1974, 1990): O que mais precisa ser dito para te convencer a assistir a obra prima de Francis Ford Coppola? Talvez a mais renomada de todas as trilogias, apesar das controvérsias em torno do terceiro filme (subestimado, na minha opinião), acompanhamos a ascensão de Michael Corleone (Al Pacino) como Don e maior criminoso dos Estados Unidos. A saga ítalo-americana condensa décadas e importantes momentos históricos (como revolução cubana e escândalos na igreja católica) em um roteiro primoroso, junto de algumas das melhores atuações da história do cinema (como a de Marlon Brando, Robert DeNiro, Diane Keaton e, é claro, Pacino). (Prime Video)
De Volta Para o Futuro (1985, 1989, 1990): Se você têm filhos e o surto de coronavírus cancelou as aulas, é hora de apresentá-los a trilogia De Volta Para o Futuro. Foi um dos primeiros filmes que me deixaram apaixonado por cinema. É impressionante o impacto que o filme causa nos pequenos. O segredo foi trazer um tema tão ambicioso como a viagem no tempo e tratá-lo de uma forma tão familiar. Tudo acontece numa cidadezinha do interior, com um jovem que tem (aparentemente) poucos problemas para lidar. Apesar de não ser planejada inicialmente para ter sequências – entre Chuck Berry, skates voadores e aventuras no velho oeste – a saga ainda consegue ser bastante concisa. (Prime Video/Netflix)
O Senhor dos Anéis (2001, 2002, 2003): Se você ainda não assistiu a trilogia inspirada nos livros de J. R. R. Tolkien provavelmente é porque sempre achou os filmes longos e complicados demais. Pois agora você tem tempo de sobra! A produção neozelandesa foi uma das mais complexas já realizadas, não só em relação a efeitos especiais e cenários, mas também em roteiro. Algo que o próprio Peter Jackson (diretor dos filmes) não conseguiu igualar com a trilogia d’O Hobbit. (Netflix)
Destaques 2019
O ano passado trouxe novos ventos para uma indústria cada vez mais centrada em grandes (e longas) franquias. Fugindo dos óbvios, como O Irlandês e Coringa, busquei os filmes mais surpreendentes e que podem ter escapado do seu radar.
Jóias Brutas (2019): Se você, como eu, compartilha de uma certa implicância com Adam Sandler, chegou a hora de acabar com isso. Não é o primeiro papel mais sério do ator ( visto Os Meyerowitz e Embriagado de Amor), mas com certeza é o que mais se destaca. Sandler contribui muito para a direção dos irmãos Safdie criando um mundo caótico em que muito se fala e pouco se ouve. Os diálogos atropelados e a trilha sonora cheia de sintetizadores frequentemente mais alta do que necessária são detalhes perfeitos da produção. (Netflix)
Midsommar (2019): Segundo filme do promissor diretor Ari Aster, Midsommar é um perfeito exemplar do terror que, ao mesmo tempo, renega diversas características do gênero. Se passando em uma comunidade rural e extremamente tradicional da Suécia, o diretor filma quase todas as cenas durante o dia, conferindo beleza ao mostrar as paisagens da região, se distanciando da estética escura e gore comum ao terror. Ao fazer isso ele deixa ainda mais claro os acontecimentos sinistros daquele lugar. (Prime Video, disponível a partir do dia 19/03)
Meu Nome é Dolemite (2019): É tão bom ver Eddie Murphy voltando a boa forma! Craque dos anos 80 com filmes como, o meu preferido, Um Príncipe em Nova York (também disponível na Netflix), o ator acabou caindo em um lugar comum a partir dos anos 90. Hoje em dia, mais afastado de Hollywood, voltou para protagonizar a história real de Rudy Ray Moore, criador e intérprete do personagem, Dolemite, ícone de um movimento cinematográfico dos anos 70 conhecido como Blaxploitation. (Netflix)
Bong Joon-Ho
E 2019 também o ano do sul-coreano Bong Joon-Ho e sua nova obra Parasita, que além dos Oscars, também conquistou a Palma de Ouro em Cannes. Até então desconhecido para os cinéfilos menos aficionados, Joon-Ho despertou o seu próprio trabalho. O diretor já possui uma lista imensa de grandes filmes, como Memórias de um Assassino (2003) e Mother (2009). Infelizmente, não são tantos filmes de sua autoria disponíveis em serviços de streaming, mas você vai gostar do que vai assistir.
O Hospedeiro (2006): Assim como Parasita, foi um filme muito elogiado em Cannes e conta com o ator Song Kang-Ho. Uma bem-vinda revitalização para o gênero de monstros, Joon-Ho já mostrava talento para o terror, que também viria dar as caras no seu mais recente sucesso. (Netflix)
Snowpiercer (2013): A mais americana das produções do cineasta sul-coreano, conta com Chris Evans (o Capitão América) no papel principal. Na minha opinião é também um dos trabalhos mais fracos de Joon-Ho, mas que vale a pena ser assistido. As alegorias sociais presentes em toda sua filmografia são, neste, o ponto mais forte. (Prime Video)
Okja (2016): Na primeira vez trabalhando oficialmente para a Netflix, Joon-Ho traz um belíssimo filme. Sempre divertido, o filme conta com personagens muito bem escritos e interpretados, entre atores americanos e coreanos. As diferenças culturais e linguísticas, além de uma crítica aos abusos do capitalismo são temas abordados por um roteiro que consegue ser leve ao mesmo tempo que toca em temas espinhosos. (Netflix)
Cinema Brasileiro
O cinema brasileiro é incrivelmente rico e se você duvida disso, te convido a assistir alguns de nossos filmes.
Cidade de Deus (2002): O grande filme brasileiro, pelo menos entre nossas produções mais recentes. A obra de Fernando Meirelles não traz apenas temas socialmente importantes, como é um primor do ponto de vista narrativo. Cobrindo décadas durante o surgimento da maior favela do Rio de Janeiro, o roteiro frequentemente inclui novos personagens, descarta outros, vem e volta no tempo, mas sem nunca perder a atenção do espectador. (Prime Video)
Cinema, Aspirinas e Urubus (2005): Em 1942, um alemão fugindo da Segunda Guerra vaga pelo sertão nordestino vendendo aspirinas e exibindo filmes com uma pequena tela e projetor. No meio do caminho, encontra um nordestino que tenta fugir da pobreza para o Rio de Janeiro. Neste road movie acompanhamos a história de dois homens não tão diferentes assim. (Netflix)
Som ao Redor e Aquarius (2012): Você se encantou com Bacurau em 2019, mas não conhecia o cinema de Kleber Mendonça Filho? Saiba que seus trabalhos anteriores estão na Netflix. Ambos se passam no Recife e focam em tensões do meio imobiliário na cidade. Som ao Redor faz juz ao nome e, com uma bela edição de som, parece construir poemas sonoros urbanos. Em Aquarius, vale destaque a atuação de Sônia Braga. (Netflix)
Clássicos
Um Estranho no Ninho (1975): Quando foi lançado, o filme foi uma das raríssimas produções a ganhar as cinco principais categorias do Oscar (conhecidas como Big Five). Nele acompanhamos R. P. McMurphy (Jack Nicholson), um presidiário que é enviado a um hospício para ter sua saúde mental avaliada. O roteiro desenvolve as relações do protagonista com pacientes e médicos de maneira eficaz e tocante. Um trabalho primoroso do diretor Milos Forman e de Nicholson, como ator. (Prime Video)
A Vida de Brian (1979): Fica difícil imaginar que o Porta dos Fundos seria capaz de realizar os seus especiais de Natal hoje, se o Monty Python não tivesse coragem de produzir A Vida de Brian na década de 70. O grupo de humor inglês foi um dos primeiros a ousar ao rir do cristianismo, com piadas afiadíssimas e extremamente inteligentes. (Netflix)
Enigma de Outro Mundo (1982): O mestre do terror, John Carpenter, fez deste seu melhor filme. Focando em um grupo isolado em uma base militar americana no Antártida, ele se inspira no conto escrito por H.P. Lovecraft, chamado “Nas Montanhas da Loucura”. O pânico, a claustrofobia e o frio são perfeitamente representado enquanto um parasita alienígena começa a afetar os personagens. Adotando uma estética gore é filme que… digamos, não é para qualquer um. Principalmente no momento em que conseguimos fazer tantos paralelos com nossa atual situação de isolamento. (Netflix)
- É jornalista, designer e apaixonado por cinema.
Dicas excelentes!! Vou aproveitar a onda para assistir o Midsommar, da maravilhosa produtora A24, como sugerido. E deixo a minha dica, Hereditary de 2018, um thriller/horror surpreendente que me marcou bastante em seu lançamento.
Aguardo ansioso para novas dicas e notícias sobre cinema e cultura pop. ??