Janete Helena *
Pra quem diz que máscaras são tendência de inverno aqui o papo é outro. Tendência é ter olheiras.
Exaustos!
De sentir e de ver o medo. De saber que tem gente com fome. De saber de amigos intubados. Intubados!
No meio de tudo, parei pra reparar. Gente que nunca teve olheira. Gente, outrora, sempre sorridente. E sabe o que está tirando o viço? A falta de olhar para o outro.
Sim! Não deveriam ser necessárias campanhas de conscientização onde há (?) humanidade. Certo, sempre haverá quem não se importe com o outro. Mas enxergar esse comportamento em massa é doi(í)do além da conta. E assim elas vieram, as olheiras.
Não adiantam mais horas de sono. Meu amigo está de férias e com olheiras. Como todos, ele não aguenta mais ver o quanto podemos ser vis. E no “podemos” incluo TODOS NÓS, porque não é mais hora de reforçar a ideia de que o problema são os outros. Somos o problema, diretamente ou não.
Somos quando escolhemos não chamar a atenção de quem insiste em zanzar sem máscara. Somos quando optamos por andar só naquele pedaço do caminho sem máscara, servindo de mau exemplo. Somos quando justificamos não aguentar mais “esse trem de ficar trancado em casa”. Ah sim! Porque é o mundo inteiro que está em crise, mas tem uns alecrins dourados que se julgam os ÚNICOS sofredores e se autodeclaram mais merecedores do “alívio” da saidinha de leve só pra ir “ali”. E esse ali aqui é o ali do mineiro mesmo, porque pode ser no ‘buteco’ da esquina ou lááá em numa praia do Nordeste (Patrões, né? Funcionários seguem no expediente e no risco).
Hoje decidi não disfarçar as olheiras.
E assim não disfarço o cansaço pra mostrar aos que estão como eu que não estão sozinhos. E que a voz de quem está exausto soe mais alta que a voz de quem se ocupa somente de números. SOMENTE porque não se considera que a pandemia não é crise de ordem econômica. É. TAMBÉM! Mas quem se ocupa somente de números e cifrões deve lembrar, como vi em algum meme viralizado por aí, que gente morta não consome.
Estamos nos permitindo ser uma doença quando agimos para que ela esteja por mais tempo entre nós, matando milhões. Por mais mortal que o coronavírus seja, a doença maior agora somos nós.
* Escritora, cronista e funcionária pública nas horas vagas.
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