

Wanderson Nascimento
Notícias Gerais
O jovem Paulo Ferreira, 33 anos, é natural de Itabira, mas mora em São João del-Rei há 15 anos, onde é sócio-proprietário do Del Mundo Hostel. Ele ficou muito conhecido em 2020 com a iniciativa do almoço solidário, que serviu mais de 13 mil refeições de graça para pessoas que passavam necessidades, situação que aumentou consideravelmente após o início da pandemia da covid-19.
O trabalho voluntário teve que ser interrompido por causa do período eleitoral, uma vez que Paulo se candidatou a vereador e, no entanto, não foi eleito, apesar de uma votação expressiva. Apesar de ter contato diariamente com muitas pessoas, a quem ele entregava as marmitas, ele tomava todos os cuidados necessários para evitar o contágio. “Saía somente quando necessário, evitando ao máximo de encontrar outras pessoas. Fui candidato a vereador, então acabei andando bastante, mas sempre levava na mochila máscaras reservas para ir trocando, álcool em gel, solução de água com sabão”.
No entanto, Paulo afirma que um vacilo pode ter feito com que ele contraísse o vírus no final do ano. “Próximo a época que contraí o vírus, teve uma ceia de Natal antecipada da república onde morei. Estavam quatro moradores de quarentena lá; eu e meu ex-sócio, que morávamos no hostel; e um amigo que tinha sido infectado em junho. Muito provável de ter sido lá, pois desses sete que estavam lá, quatro tiveram sintomas e testaram positivo”, declara.
Os primeiros sintomas que Paulo percebeu foram muita tosse, perda de olfato, do paladar e febre. No início ele afirma que não teve medo, mas à medida em que os sintomas se agravaram, a preocupação aumentou. “No primeiro sintoma me isolei e já solicitei coleta domiciliar de material para os exames. Mudamos de casa na época, só ficamos eu e as coisas do meu quarto para trás. Nos primeiros dias não fiquei com medo, mas quando os sintomas foram agravando e a febre ficou mais forte, oxigenação caiu e a respiração começou ficar mais pesada, eu tive bastante medo”.
Com o passar dos dias, os sintomas não diminuíam, e Paulo foi transferido para Itabira, perto de sua família, onde ficou internado e sob os cuidados da irmã, que é médica. “Fui internado em uma sexta-feira, e no sábado seria removido para o CTI na parte da tarde, mas felizmente reagi ao tratamento na hora do almoço e não precisou ir para o CTI. No hospital foi a parte que me senti mais seguro; fui transferido para Itabira e lá tinha o apoio da minha irmã, que foi o anjo que salvou minha vida, além de já ficar direto no oxigênio (o que tirava o pânico de falta de ar). E eu não tinha noção exata de como tava. Não sabia que era tão grave (só soube que quase fui pro CTI depois de ganhar alta)”.
Paulo teve alta justamente na véspera do Natal. “A melhor coisa do mundo, tive alta dia 24 de dezembro. Um presentão de Natal sem igual”.


Perda de amigos e parentes, e o pós-covid
Paulo lamenta que perdeu muitos amigos e conhecidos para a doença, e deixa uma mensagem para quem ainda não acredita na letalidade desse vírus. “Infelizmente, muitos. Inclusive no dia que dei entrada no hospital em Itabira, um tio deu entrada em BH. Eu tive alta dia 24, ele faleceu dia 28. Não espere você estar em um leito de hospital, ou perder alguém próximo para acreditar. O vírus mata, de verdade, mas a ignorância pode matar muito mais”.
Após a recuperação, o jovem afirma que continua mantendo os cuidados, para evitar a reinfecção e também a possível transmissão para as pessoas com quem ele convive. Seu hobby favorito é a corrida, no entanto, devido ao cansaço que perdurou após a infecção, ele ainda enfrenta dificuldades para retomar a atividade. “Evito ao máximo sair de casa, encontrar pessoas que não são do meu convívio; se saio uso sempre máscara e tento manter distância. Estou tentando voltar às atividades físicas com os devidos cuidados e só agora, após quase cinco meses depois, que estou conseguindo de fato me exercitar”.
Ele finaliza a entrevista deixando uma mensagem para aqueles que ainda duvidam da existência e da gravidade da covid-19, principalmente pelo fato de ser uma doença ainda misteriosa. “Não existe mais isso de grupo de risco, de histórico de atleta… Esse vírus é algo muito indefinido. Por exemplo: eu tenho 33 anos, me exercito bem e passei esse perrengue, e meu pai, que já tem 66 anos, extremamente sedentário, diabético, hipertenso, tinha feito um procedimento cardíaco uma semana antes de contrair o vírus (e já fez três no total), pegou o vírus e não teve nada demais”, finaliza.