Ísis Carvalho *
Um dia desses, assisti com meu pai um documentário sobre a vida Arnaldo Antunes. Mesmo não sendo da minha época sempre gostei desse tipo de música. Acredito ser mágica a aura que as coisas antigas trazem consigo, como um portal que me faz, de certa forma, vivenciar o que meus pais vivenciaram.
No documentário, reprisaram parte dos shows dos Titãs; mostraram as tecnologias da época (máquinas de datilografar, discos de vinil, LP’s, dentre outras) que, para mim, tinham esse tom de mistério e um “quê” de inveja por não ter presenciado aquilo. Mas para o meu pai, era uma nostalgia melancólica, pois para ele aquilo tudo era apenas passado, um passado do qual ele fez parte e agora não existe mais. Para ele, era algo doloroso, pois ele viu tudo aquilo se desfazer, ser substituído por algo novo e moderno, mas ele não poderia ser substituído, sendo obrigado a se adaptar a tais mudanças.
Então será que este é o peso de envelhecer? Tornar-se obsoleto e assistir toda uma realidade ser exumada, sobrando-lhe apenas vagas recordações desta?
Então será que este é o peso de envelhecer? Tornar-se obsoleto e assistir toda uma realidade ser exumada, sobrando-lhe apenas vagas recordações desta?
Sempre quis viver muito, mas essa perspectiva de ver tudo e todos se desfazendo, enquanto apenas assisto, me assombra. Pensar que um dia, tudo o que conheço será ultrapassado, e eu serei apenas uma prova viva de um passado que meus filhos não conheçam e talvez com o qual nem ao menos se importem. Acho que por isso gosto das coisas velhas, como um consolo aos meus pais e avós: um reconhecimento. Uma nota de apreciação, uma vez que a tecnologia de hoje é vazia, fria, muito precisa e certa. Não é possível amar o que é perfeito, amo aquilo que é falho, pois é nos defeitos que me vejo útil, passível de transformar e aperfeiçoar o outro e a mim. Não posso fazer o mesmo com o que é perfeito. Por que ele já está acabado.
Esses dias de quarentena me fizeram pensar sobre essas mudanças.
Não é possível amar o que é perfeito, amo aquilo que é falho, pois é nos defeitos que me vejo útil, passível de transformar e aperfeiçoar o outro e a mim.
- É estudante de Jornalismo da UFSJ e produziu este texto sob a orientação do professor Paulo Caetano.
Amei!!! Me emocionei!
Parabéns!!!