Início Opinião COLUNA AGRIDOCE: ÍDOLOS DECAÍDOS, POLÍTICOS ‘FAMOSÕES’

COLUNA AGRIDOCE: ÍDOLOS DECAÍDOS, POLÍTICOS ‘FAMOSÕES’

Ela tinha nave. Que pena! Se fosse o Delorean (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Douglas Caputo

Por Douglas Caputo*

Carla Perez, Sandy e Junior, Xuxa, o que esses nomes têm em comum? Além da aversão de muitas pessoas, eles foram fenômenos na década de 1990, inegavelmente.

Uma aparição pública da ex-rainha dos baixinhos era como a visão de uma entidade divina. “Xuxa, eu te amo!”, a multidão fazia coro ensandecida, aos prantos.

Hoje, Xuxa tenta se manter no ar em programas esporádicos da Record TV. Se tivesse deixado a telinha, poderia ter se tornado icônica, cult.

Mas o afã de permanecer dando as caras parece que apagou a estrela da loira. Tem celebridade que não entende, a aposentadoria pode ser mais frutífera para a carreira.   

“Ordem e progresso, sua bunda é um sucesso, nádegas a declarar”, cantava Gabriel, o pensador, frente à abundância de Carla Perez nos vespertinos auditórios de domingo.

A baiana que segurou o tchan, construiu o estereótipo feminino em torno de uma bunda tremelicante. Lembra da banheira erótica do falecido Gugu Liberato? Pois é!   

Os anos 90 também foram de Sandy e Júnior. O auge nos palcos logo foi cooptado para as telinhas. Uma série teen aos domingos e, mais tarde, uma novelinha às 18h.

Embora aposentada, a dupla ainda tem um público fiel. Em ranking mundial, os irmãos estão em quinto lugar entre as lives mais assistidas na quarentena.

Foram 2,54 milhões de pessoas conectadas ao mesmo tempo. Se Junior trilhou outros caminhos depois da separação, Sandy não se descolou do papel de boa moça.

Bem que a cantora tentou. Foi garota propaganda de cerveja e deu entrevista que falou sobre sexo anal. Mesmo assim, sobreviveu a Maria Chiquinha.    

A partir dos anos 2000, no entanto, o formato televisivo de reality shows inaugurou a época das celebridades instantâneas e efêmeras.

Sem credencial para o showbiz, anônimos invadiram a TV e ditaram moda. Um zoológico humano para olhos voyeurs. “Uhul, Nova Iguaçu!”, alguém se lembra de Fani?

Enquanto se identificava e se projetava nos “borthers”, a audiência acreditava em uma pseudodecisão do rumo da vida dos confinados.

A audiência, ela própria confinada, interpelada pela voz do Grande Irmão, ignorava a clássica TV que te vê, narrada por George Orwell na obra “1984”.

Todos nós, em maior ou menor grau, viramos consumidores da Indústria Cultural, termo cunhado pelos alemães Adorno e Horkheimer em 1948.

Para cada fatia da sociedade, o Capitalismo empenhou-se em transformar a arte em mercadoria. E nós a consumimos. Duvida?

“Nossa, nossa / Assim você me mata / Ai, se eu te pego / Ai, ai se eu te pego”   

Brasília olimpiana         

Ménage à trois? Só que não (Foto: Aloizio Mercadante/ Flickr)

Desde o estrondoso sucesso de Michel Teló, muita coisa mudou. A interface entre mídia e política foi superdimensionada e as novas vedetes do espetáculo agora são outras.

Os olimpianos de Brasília pautam o noticiário com superstars de anedotário vasto. Em 1991, Fernando Collor de Mello declarou que nasceu com “aquilo roxo”.

Os joggings matinais do presidente cassado acumulavam fotógrafos, cinegrafistas. Tudo para construir uma imagem jovial e atlética do dono da Casa da Dinda.  

Morto em 2011, Itamar Franco, sucessor após o impeachment de Collor, foi flagrado em companhias femininas. Detalhe, as beldades estavam sem roupa íntima.

A fala enrolada de FHC era paródia no Casseta e Planeta. O jeito fechadão e acadêmico do último tucano na presidência não impediu cenas inusitadas   

Imaginem o constrangimento dele diante das cambalhotas do jogador Vampeta na rampa do Palácio do Planalto. O futebolista comemorava a conquista da Copa de 2002.     

Lula chegou a figurar como cachaceiro no The New York Times. Sua barba desgrenhada, fala rouca, vestes de operário foram elementos negativos nas urnas.

Apenas nas eleições de 2002, quando mudou o tom agressivo do discurso e vestiu terno e gravata, Lula conseguiu se eleger presidente.

A carreira do político que foi chamado de “o cara” por Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, merecia uma tese inteirinha sobre sua figura pública.

Sucessora de Lula, Dilma Rousseff também foi repaginada para as eleições de 2010. Ela venceu o tucano José Serra, considerado nem um pouco carismático.

Carisma que também atropelou a presidente. Dilma improvisou discursos que rederam pérolas memoráveis do governo encerrado com impeachment – ou golpe – em 2016.

Teve mulheres sapiens, estocagem de vento e o grande hit, a saudação da mandioca, segundo Dilma, uma das maiores conquistas do Brasil.

Ao ocupar o posto de Dilma, Michel Temer caiu nas “graças” da oposição. Virou o “Coiso” nas redes sociais e um Drácula na Marquês de Sapucaí, em 2018.

Mas nada disso se compara ao Theatrum politicum encenado pelos atuais mandatários do Brasil. Um quiproquó com enredo alucinante e alucinógeno.   

“Mito”

Quem segura essa faixa? (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Em 2018, nasceu o “mito” e boa parte da população conheceu Jair Bolsonaro, então deputado federal pelo PSC do Rio de Janeiro.

O PSL e a figura mítica do Capitão ganharam visibilidade naquele mesmo ano. Ao incorporar o outsider, ele trouxe o tom conservador, belicista e a adesão da sociedade.

Além da vitória nas urnas, Bolsonaro foi puxador de votos. Elegeu três governadores pelo PSL (PR, RO e RR) e deu uma forcinha a pelo menos 12 eleitos de outros partidos.

Conquistou ainda quatro senadores (MT, MS, SP, RJ) sendo um deles o filho “01”, Flávio Bolsonaro. Na Câmara, fez 52 deputados federais. A sigla nanica, virou gigante.

Um fenômeno que conquistou adeptos como o deputado federal Domingos Sávio (PSDB), nascido em São Tiago e com carreira política iniciada em Divinópolis. 

Em vídeo gravado pelo deputado ao lado de Bolsonaro, no 2º turno das eleições/2018, o parlamentar bajulou o então futuro presidente ao chama-lo de “meu comandante”.

Na época, Sávio era presidente do PSDB de Minas. O vídeo com Bolsonaro foi uma tentativa de fortalecer a candidatura de Antonio Anastasia, derrotado por Romeu Zema.

Se Bolsonaro não ajudou Anastasia, ele inaugurou a época dos superministros. Do anonimato, vieram Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Paulo Guedes (Economia).

Já em meio à crise da Covid-19, o mandatário não aceitou ser ofuscado por Luiz Henrique Mandetta, da pasta da Saúde.

A briga de egos em torno das medidas de contenção da pandemia acabou com a demissão de Mandetta que, por certo tempo, continuou a ofuscar Bolsonaro.

Certo tempo porque, menos de uma semana após a exoneração do gestor da Saúde, veio o imbróglio de Bolsonaro com Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública).

O homem que prendeu Lula, o super-herói da Pátria, rebelou-se frente ao novo patrão. Sem hesitar, Moro cuspiu no prato que comeu e disparou denúncias contra Bolsonaro.

Entre tapas e beijos, o duelo de mitos, caso Bolsonaro consiga encerrar o mandato, deve esquentar as eleições/2022.   

E já até tem pesquisa de opinião pública do Datafolha sobre possível intervenção de Bolsonaro na troca de comando da Polícia Federal.

Ou seria uma pesquisa de popularidade dos contendores, espécie de antecipação sobre possível cenário eleitoral que pode acontecer daqui dois anos?

Conforme o Datafolha, das 1.503 pessoas ouvidas, 52% acreditam em Moro e 20% em Bolsonaro. Esse pastelão mexicano que virou a política nacional ainda vai render muito.

Talvez, Regina Duarte, que trocou a fama global pelo anonimato da Secretaria Especial de Cultura, tope o desafio de dirigir essa novela.

Com certeza seria líder de audiência do horário nobre. A pobre, que já deu sinais que pode sair do cargo no governo, poderia se inspirar na viúva Porcina e sinhozinho Malta.

E aí, diga você, esse roteiro emplacaria? Elementos para um dramalhão à SBT e Televisa, do México, não faltam.       

Redação Douglas
Redação Douglas

*É jornalista, mestre em Letras e professor de redação no curso SOU1000.

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