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COMO A AMÉRICA LATINA ESTÁ ENFRENTANDO A COVID-19?

Com convidados que moram e moraram em países da América Latina,
esse foi o tema da live da semana no Notícias Gerais. (Imagem: Reprodução)

Carol Rodrigues
Notícias Gerais

O número de infectados pelo novo coronavírus na América Latina já ultrapassou os 100 mil e as mortes giram em torno 5 mil. O Brasil é o país que lidera esse ranking: até nesta terça (21), os infectados era 40.814 e a Covid-19 já tinha sido responsável pela morte de 2.588 pessoas, o que representa em torno de 50% dos óbitos em toda a América Latina. 

Mas o problema nesses países perpassa as estatísticas de transmissão e letalidade do vírus. Uma pesquisa realizada pela Agência Pública em conjunto com 15 meios de comunicação de 13 países da América Latina constatou que há falta de clareza nas informações sobre a Covid-19. Os Estados Unidos foram incluídos na análise por conta da grande população latina. 

O que os dados dizem

A investigação constatou grande parte dos países não informa quantos testes diários são feitos na população, o que é importante para que as pessoas possam estar atentas ao problema da subnotificação. Isso acontece no Brasil, Estados Unidos, Guatemala e no Paraguai.

Além disso, muitos também não divulgam a quantidade de leitos de UTI disponíveis no país, o que dificulta o entendimento do quanto suporta o sistema de saúde. Apenas três países disponibilizam essa informação: Estados Unidos, Paraguai e Peru.

O Brasil está longe de ser um modelo de transparência. O país não informa qual o tipo de atendimento que está sendo dado aos pacientes confirmados com Covid-19 – se eles estão em isolamento domiciliar, se estão internados, se precisam de tratamento intensivo. Além daqui, esse problema só acontece na Guatemala. 

A maior parte dos países informa a origem dos casos confirmados, ou seja, se são frutos de contaminação comunitária ou se estão relacionados à viagens. Esse dado é importante para que a população possa se atentar a como está acontecendo a transmissão no território. Os únicos países a não divulgarem esse dado são o Brasil, Equador e Estados Unidos. 

Medidas de contenção mais brandas

Outro fator importante é a falta de medidas eficazes em muitos países da América Latina. Mesmo com o grande índice de transmissão e até mesmo de letalidade que vimos em países da Europa – como a Itália e a Espanha – por aqui, algumas regiões ainda parecem receosas em adotar providências contundentes. 

A Nicarágua teve o primeiro caso registrado no dia 19 de março e até agora ainda não estabeleceu nenhuma medida de prevenção. O presidente, Daniel Ortega, sumiu por 34 dias e reapareceu na última quarta (15), dizendo que o novo coronavírus é um “sinal de Deus” e que o país não vai parar. 

Em outros países, como México, Cuba, Brasil e Uruguai, as determinações para barrar o vírus ainda são mais brandas. O isolamento social nesses lugares não é obrigatório: há apenas uma recomendação dos governos para que as pessoas fiquem em casa. 

O que fazem os países com medidas mais firmes?

Em lugares como Argentina, Bolívia e Chile e Colômbia, a livre circulação de pessoas está restrita. É permitido somente sair de casa para comprar itens de primeira necessidade, como alimentos e remédios. Caso a pessoa for pega burlando a regra, ela pode até mesmo ser presa. 

“na argentina não pegou o debate sobre a economia VERSUS saúde. todo mundo ESTÁ focado na necessidade de cuidar das pessoas e impedir que o vírus se espalhe”

– diz o jornalista Rogério Tomaz Jr.

Coronavírus na Argentina

Na Argentina, a quarentena tem sido rigorosa, com patrulha nas estradas e até mesmo monitoramento de celulares de motoristas, para descobrir se alguém está furando o isolamento, como relatam alguns jornais locais. 

Rogério Tomaz Jr., jornalista e mestrando em estudos latinoamericanos em Mendoza, na Argentina, se mudou para o país em fevereiro, pouco antes da pandemia atingir com força o continente. De acordo com ele, tanto o presidente, Alberto Fernandez, quanto os governadores, agiram de forma rápida. 

A quarentena obrigatória foi instalada dia 20 de março e as pessoas, de forma geral, aderiram e estão respeitando a medida de contenção. Somente comércios essenciais estavam autorizados a funcionar, como supermercados e farmácias. 

Na última semana, o país flexibilizou um pouco as normas da quarentena e alguns serviços não essenciais, como bancos, estão permitidos a voltar a funcionar. Porém, Rogério conta que muitas pessoas escolheram não reabrir seus estabelecimentos e estão com medo de sair nas ruas.

A imprensa, principalmente, tem feito críticas ao presidente brasileiro e ele deixou de ser visto no país apenas como uma ‘caricatura’ para agora ser considerado uma ameaça

Outro fator que diverge em relação ao Brasil, foi a reação quanto aos problemas que a pandemia poderia causar na economia. Ainda que a Argentina esteja passando por uma crise econômica e venha se falando em recessão nos países americanos por conta da Covid-19, lá  “não pegou o debate sobre a economia vs saúde, todo mundo focado na necessidade de cuidar das pessoas e impedir que o vírus se espalhe”.

A Argentina também possui um grande sistema público de saúde que, até agora, tem dado conta que atender à demanda causada pelo novo vírus. Já são pouco mais de 3 mil casos confirmados e 142 mortes, mas o sistema de saúde “não chegou perto de colapsar”, de acordo com o jornalista. 

A visão dos argentinos sobre as medidas adotadas pelo Bolsonaro no enfrentamento da crise no Brasil não está muito boa. A imprensa, principalmente, tem feito críticas ao presidente brasileiro e ele deixou de ser visto no país apenas como uma “caricatura” para agora ser considerado uma ameaça. 

A situação da Colômbia

Na Colômbia, os problemas da pandemia já acertaram a população. Cerca de 45% dos colombianos vivem na informalidade e agora, com a quarentena obrigatória e sem poderem sair de casa para trabalhar, muitas famílias estão passando fome. Bandeiras vermelhas são penduradas nas janelas das casas dos mais pobres como um pedido de socorro a quem quer que esteja vendo. 

O uso de máscaras na Colômbia já era um fator cultural

O isolamento social no país é obrigatório desde o dia 25 de março. Ricardo Alves, estudante de psicologia pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), estava fazendo intercâmbio na Colômbia e conta que o exército estava nas ruas fiscalizando, quem fosse pego desrespeitando a quarentena pagava multa de equivalente a cerca de R$ 9 mil. 

Ricardo estava estudando no país e foi convidado a ser repatriado pela Embaixada do Brasil quando a crise começou a se intensificar na Colômbia. Ele frisa a importância que o órgão teve nesse momento e como o apoio que deu a todos os brasileiros foi importante: “teve um momento que eu não podia me deslocar, não tinha um peso para sair do país e a embaixada disse que ia me passar um dinheiro para eu conseguir vir embora”.

“Por ser muito perto do Equador, onde as pessoas estavam morrendo e os corpos ficando dias em casa, as pessoas estavam com muito medo, estavam extremamente histéricas, coisa que não estou vendo no Brasil”

– relata o ex-intercambista Ricardo Alves

O uso de máscaras na Colômbia já era um fator cultural “quando alguém está doente, gripado, as pessoas têm o hábito de usar máscaras na rua. No início, quando cheguei, eu via muitas pessoas usando na universidade e na rua e eu sentia muito medo. Depois fui vendo que era coisa corriqueira, do costume deles”, lembra o estudante.

Até agora, a Colômbia tem 3.977 pessoas confirmadas com Covid-19 e outras 189 já morreram pela doença. A população tem respeitado a quarentena desde o início e o medo acabou se instaurando pelo país. “Por ser muito perto do Equador, onde as pessoas estavam morrendo e os corpos ficando dias em casa, as pessoas estavam com muito medo, estavam extremamente histéricas, coisa que não estou vendo no Brasil”, indica Ricardo.

O estudante também destaca a diferença de postura do presidente colombiano, Iván Duque Márquez, em relação a de Bolsonaro: “mesmo que ele tenha uma postura neoliberal parecida com a do Bolsonaro, ele está apoiando e estendendo a quarentena”. 

Além disso, a repercussão internacional da política brasileira de enfrentamento à crise tem se dado em forma de críticas. “O que eu via sempre de crítica era satirizando a política neoliberal da morte do Bolsonaro”, finaliza o Ricardo Alves.

Live

Se você quiser assistir ao bate-papo que ocorreu ao vivo nessa segunda (20), basta acessar o canal do Notícias Gerais no YouTube.

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