Harume Suzuki *
Crises de ansiedade, sucesso, família e reconhecimento. Estas seriam palavras-chave para o filme Depois a Louca Sou Eu. Porém, há muito mais o que dizer sobre essa obra que é de prender o olhar, tirar risos e, para alguns, até mesmo se identificar. O filme de produção nacional, disponível na Amazon Prime Video e no YouTube, desenvolve a história da personagem Dani, estrelada por Débora Falabella: uma jovem escritora que está sendo reconhecida pelo seu talento e começando a trabalhar com pessoas que admira. Entretanto, começa sua jornada com alguns empecilhos: transtornos de ansiedade e síndrome de pânico, além de problemas com sua mãe e nos relacionamentos amorosos.
História baseada na autobiografia romanceada de Tati Bernardi, que é escritora, roteirista, podcaster e estudante de psicanálise, traz a vivência da autora para as telas, o que torna o filme intimista e traz a possibilidade de ver muitos dos causos contados por ela, em outros veículos, tomando forma audiovisual. Uma frase interessante de Tati que pode descrever muito da personagem e dela mesma é: “Então é assim que se sentem todas aquelas pessoas que não falam como se estivessem caindo num carrinho de montanha-russa? Que maravilha ser vocês!”.
Não só o filme traz o íntimo de Dani, mas também entrega um bom romance com idas e vindas entre ela e Gilberto (Gustavo Vaz), um psicólogo com fragilidades muito semelhantes às da personagem, o que acaba trazendo mais química ao casal. E do outro lado, o vínculo peculiar e de dependência emocional com sua mãe Silvia (Yara de Novaes), que sempre faz questão de relembrar sua filha que um dia irá morrer.
Essas interpessoalidades são muito características dos trabalhos de Tati, que constantemente busca falar de suas construções amorosas e familiares por um olhar psicanalítico, sempre de forma bem humorada e com muito senso crítico. Esses atributos nos permitem enxergar um pouco das suas aflições diárias, relação com terapias e superações. Um cenário que grande parte dos brasileiros vivem, tendo em mente que estamos no país com maior índice de pessoas com ansiedade no mundo.
Dirigido por Julia Rezende, o longa-metragem tem uma estética impecável e um jogo de cores de vermelho e verde que, se nos atentarmos, podem refletir em sentimentos de tranquilidade ou angústia para quem assiste, ao mesmo tempo em que dão a ideia dos “estados de espírito” da personagem, de forma muito bem pensada. E mesmo com propostas de comédia e romance, Depois a Louca Sou Eu consegue abordar, sem romantizar, todas as questões psiquiátricas e até mesmo problemas que o vício em remédios, mais especificamente calmantes e ansiolíticos, pode trazer.
* É estudante de Comunicação – Jornalismo da UFSJ e produziu este texto sob a orientação do professor Paulo Caetano, durante a disciplina remota de Produção Textual.
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