Gabriela Moraes Pereira *
Com a necessidade de isolamento nessa pandemia, os dias ficam cada vez mais extensos e parecem ter mais de 24 horas. Então, uso a música para gastar alguns minutos. Escuto da MPB ao funk, do pagode ao rap. Tenho refletido bastante sobre as letras de canções que às vezes passam batido, porque normalmente não tenho o tempo para prestar atenção. Revirando minha biblioteca tão eclética, uma música se destacou.
Quando escutei “Pequenas Alegrias da Vida Adulta” percebi que temos feito tudo tão automático na agitação do dia-a-dia que as coisas habituais acabam ficando invisíveis. Me forcei a buscar na memória quando foi a última vez que eu apreciei pequenas vitórias, como acertar no tempero de uma carne, chegar ao final do dia sem uma dor de cabeça, tirar o salto e o sutiã depois de uma longa noite, e até mesmo beber água quando estou com muita sede. Pensar nisso foi como uma sessão de terapia, e me fez recordar de inúmeras outras coisinhas que despertam uma alegria quase instantânea, mas eu estava muito ocupada para notar.
“É um sábado de paz onde se dorme mais/ O gol da virada quase que nóis rebaixa/ Emendar um feriado nesses litorais/ Encontrar uma tupperware que a tampa ainda encaixa (ó Glória)”
Emicida
Nesses versos simples, Emicida me lembrou como a vida é feita de momentos. Em tempos de isolamento, o pouco que faço já virou algo essencial para manter a sanidade que ainda me resta. Arrumar o quarto se tornou motivo de alegria, e a correria foi cada vez mais deixada para trás.
“Deve-se ter cuidado ao passar no trapézio/ Memo que pese o desespero dos novos tempos/ Se um like serve ao ódio, bro, nesse episódio/ Breve o bom sendo diz respire um momento/ É sobre aprender tipo giz e lousa/ O espírito repousa, reza e volta cem por cento/ Cale tudo que o mundo fale e pense/ E o quanto vida vale/ Seja luz nesse dia cinzento”
Emicida
Isso me faz concluir que cada um vai lidar com o distanciamento social da maneira que conseguir, mas o que todos temos que ter em comum é a calma. Apreciar as coisas triviais por um bom tempo será nosso grande feito. A não ser que você esteja tentando descobrir a cura para a Covid-19, pressa não é necessária, pois afinal não vamos a lugar algum. O que nos resta é procurar ser um pouco de luz nos dias cinzentos.
- É estudante de Jornalismo da UFSJ e produziu este texto sob a orientação do professor Paulo Caetano.