Na luta contra um vírus ainda pouco conhecido pela Ciência, são poucas as certezas. A principal delas, atestada por autoridades sanitárias e políticas do mundo todo, é a recomendação do isolamento social e da adoção de medidas básicas de higiene para combater a proliferação do Covid-19 – fundamentais especialmente em regiões sem uma infraestrutura hospitalar adequada para atender os pacientes mais graves, como é o caso da nossa, em São João del-Rei.
Uma outra convicção já possível de se extrair no momento é a de que o combate à pandemia precisa ser feito com a união de todos que utilizam a rede de saúde de uma mesma região. E com comprometimento das autoridades públicas. Não por acaso, os 51 prefeitos dos municípios que compõem a Macrorregião de Barbacena aprovaram a manutenção do isolamento social, em reunião realizada no dia 13 de abril. E fizeram com que a Prefeitura de Senhora dos Remédios, que descumpriu o acordo, fechasse novamente as portas do comércio que tinha aberto no último dia 15.
É fato que a maioria dos prefeitos do Campo das Vertentes tem se esforçado ao máximo para resguardar vidas em tempos de pandemia. São vários os exemplos de municípios que suspenderam atividades econômicas importantes, às custas de prejuízos financeiros: Barbacena, Barroso, Lagoa Dourada, Resende Costa, Santa Cruz de Minas, São Tiago, Tiradentes, Carrancas… Mas toda regra tem exceções. O prefeito de São João del-Rei, Nivaldo Andrade, é uma delas. É um ponto fora das curvas das Vertentes e, por isso, coloca toda a população da região em risco.
O prefeito de São João del-Rei, Nivaldo Andrade, É um ponto fora das curvas das Vertentes e, por isso, coloca toda a população da região em risco.
O pensamento do dito “homem comum”
O cálculo político feito pelo prefeito de São João del-Rei é o mesmo feito pelo presidente Jair Bolsonaro, munido do pensamento do dito “homem comum”: se a população não trabalhar vai morrer de fome. Um pensamento justificável no desabafo de um povo sofrido, já desesperado, que vê as contas crescerem enquanto a comida na dispensa míngua. Mas não no discurso de um verdadeiro líder político, que sabe que é dever do Estado assegurar os direitos básicos dos cidadãos.
Abrir o comércio pode agradar profissionais liberais, empreendedores, comerciários e comerciantes da cidade – potenciais eleitores e financiadores das campanhas políticas. Mas o tiro também pode sair pela culatra. Quando as formas agravadas da doença e as mortes começarem a bater nas portas das famílias, a compreensão do que é esta pandemia pode mudar. Como aconteceu em Milão, na Itália, em que o prefeito teve que suspender a campanha “Milão não pode parar” e ainda pedir desculpas à população pelo alto número de mortes no município.
com o orçamento previsto para divulgação oficial, daria para o prefeito Nivaldo adquirir mais de 19 mil cestas básicas para distribuição à população vulnerável.
Papel do verdadeiro líder político
Todo mundo sabe que os municípios brasileiros estão falidos e que falta verba para tudo. Mas em tempos de crise, o papel de um verdadeiro líder político é encontrar soluções para amparar os seus. E não mandá-los se virarem sozinhos nesta espécie de abatedouro que virou nosso mundo, em meio à pandemia, à crise econômica e à desinformação!
Qual papel vem desempenhando o prefeito na articulação da bancada federal mineira, para aprovação do auxílio emergencial do governo federal para os trabalhadores, desempregados e vulneráveis? Que tipo de pressão ele tenta exercer sobre o presidente Jair Bolsonaro para conseguir mais recursos para a população? E dentro de casa, na Prefeitura de São João del-Rei?
em tempos de crise, o papel de um verdadeiro líder político é encontrar soluções para amparar os seus. E não mandá-los se virarem sozinhos nesta espécie de abatedouro que virou nosso mundo, em meio à pandemia, à crise econômica e à desinformação!
Este ano, a Prefeitura de São João del-Rei firmou contratos para serviços de transporte escolar que totalizam R$ 4,3 milhões, com empresas e pessoas físicas. Como estes serviços não estão sendo executados em função da suspensão das aulas, uma alternativa seria renegociar estes valores e reaplicar parte do montante em programas de ajuda à população vulnerável do município.
E este é só um exemplo. Há outros, muitos outros. A troca do calçamento da Avenida Tiradentes é realmente uma obra prioritária nestes tempos em que a população deve ficar em casa? E a iluminação da Ponte do Rosário, anunciada no último sábado, com pompa e circunstância, pela imprensa patrocinada pelos cofres da Prefeitura de São João del-Rei?
Gastos com divulgação oficial
Por falar em imprensa, o que dizer das verbas da Prefeitura destinadas à divulgação oficial? O orçamento para 2020 prevê recursos da ordem de R$ 983.110,00, dos quais R$ 102.000,00 já foram gastos, em um pagamento de R$ 57 mil, feito em 11 de março, e outro de R$ 45,4 mil, agora em 17 de abril. O orçamento total seria suficiente para o prefeito Nivaldo adquirir mais de 19 mil cestas básicas para distribuição à população vulnerável.
É claro que é dever de todo órgão público informar a população, inclusive sobre as ações para contenção da pandemia. Mas não seria viável renegociar valores e buscar soluções alternativas, como as redes sociais gratuitas, em tempos de tamanha crise? O Notícias Gerais, por exemplo, divulga diariamente os boletins epidemiológicos e orientações de saúde pública gratuitamente, sem nunca ter cobrado um tostão sequer por isso.
Há soluções para além da ideia irresponsável de abrir o comércio e colocar vidas em risco. Muitos homens públicos outras de cidades, estados e países já as encontraram ou as estão buscando. A dicotomia entre salvar vidas ou salvar a economia é falsa. Ou alguém é inocente o suficiente para achar que abertura das lojas vai permitir que o comércio, que já vinha com o movimento fraco desde de 2019, vai explodir em vendas em meio a esta crise econômica de agora?
alguém é inocente o suficiente para achar que abertura das lojas vai permitir que o comércio, que já vinha com o movimento fraco desde de 2019, vai explodir em vendas em meio a esta crise econômica de agora?