Kamila Amaral
Notícias Gerais
Nascida e criada em São João del-Rei, Marilane Santos se encantou pela música desde muito nova e em sua trajetória já dividiu palcos com grandes nomes da música brasileira, entre eles Milton Nascimento. Mas ainda sente a falta de incentivo para sua carreira em sua terra natal.
“Minha mãe foi cantora num programa de calouros em Belo Horizonte, na Rádio Inconfidentes. A minha família materna é uma família muito musical assim, quem não canta, toca. E eu acho que isso me influenciou bastante, a música sempre fez parte da minha vida”, diz Marilane, ressaltando que as reuniões de família são regadas com muita música até os dias atuais.
A cantora chegou a fazer aulas de flauta e violão no Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier, mas o canto estava em seu sangue e as aulas sempre terminavam com ela cantando. Além disso, Marilane destaca sua participação em um coro de câmara como um dos elementos que a auxiliam em suas performances. “Eu me vejo como uma intérprete da música brasileira”, afirma.
Trajetória
Em 2013, Marilane foi uma das três cantoras escolhidas para participar da turnê Viva Bituca, em comemoração a carreira do Milton Nascimento.
Com orgulho, a artista conta também de sua apresentação na Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, juntamente com nomes como Titane, Marcus Viana, Sérgio Pererê, Antônio Marra e Mario Claus, este último também músico são-joanense, e ressalta como foi incrível ter a oportunidade de aprender e estar com pessoas como essas.
“Eu participei também do Festival de Arte Negra, no show As Donas da Voz. Foi maravilhoso, dirigido por João dos Neves. A Titane estava lá também ajudando na concepção do espetáculo, o diretor musical do espetáculo era o columbiano Nestor Lombida, uma mega produção, foi maravilhoso e foi o meu primeiro grande show, eu acho”, lembra Marilane.
Música Brasileira
“O samba, para mim, é o que representa o nosso povo, a nossa nacionalidade e, principalmente, o povo preto, porque o samba, a origem dele é da negritude, ele vem da negritude”
Marilane conta que na adolescência foi ativista do movimento nacionalista e defendia a retirada de elementos “estrangeiros” da cultura brasileira. Por isso, apesar de ser grande apreciadora do trabalho de cantoras norte americanas do Jazz e do Blues, como Billie Holiday e Ella Fitzgerald, além de gostar também de música clássica e erudita, ela resolveu que em sua carreira só se dedicaria à música brasileira.
“Hoje eu acho que, um pouco, limita a minha carreira, mas não sei também. No entanto, é o que eu faço por excelência. O samba, para mim, é o que representa o nosso povo, a nossa nacionalidade e, principalmente, o povo preto, porque o samba, a origem dele é da negritude, ele vem da negritude”, destaca.
Reconhecimento
Mesmo afirmando que São João del-Rei pode ser conhecida como terra da música e como um lugar propício para seguir carreira artística, Marilane avalia que ainda falta incentivo para os artistas locais.
“Para os intérpretes é bem difícil, tem lugares maravilhosos, como casas de shows, o próprio Teatro Municipal e outros, mas os artistas não são chamados. Eu faço poucos shows. Eu cantei com o Milton Nascimento, por exemplo, e na minha cidade eu não vi uma notícia”, diz.
Apesar da negligência da mídia e dos governantes, Marilane ressalta que fica muito feliz em ver o reconhecimento do público com o seu trabalho. “Até mesmo no show com Milton Nascimento, as pessoas gritavam meu nome e ele mesmo comentou comigo: você é conhecida hein, moça?”, conta.
Para ela, esse é, no fim, o reconhecimento que importa. “O que eu tenho aqui, esse reconhecimento das pessoas da cidade, eu já deixei de ser assaltada, porque o moço falou: Ah, essa moça cantou, fez uma apresentação, lá no Mambengo”, relembra.
Além do público são-joanense, a cantora sinaliza sua boa projeção no cenário musical estadual. Todos os anos, quando é possível, ela participa de um bloco de carnaval de Belo Horizonte, puxando um samba. No Carnaval 2020, a apresentação contou com a participação de Marcelo Veronez, que emocionou Marilane com um discurso prestigiando sua carreira.
“Eu não cheguei para cantar com o Milton a toa, eu fui porque alguém me viu cantando e viu a qualidade do meu trabalho. E cantar com o Milton Nascimento não é qualquer coisa, é uma responsabilidade”, reconhece.
Sendo uma mulher negra em um mercado ainda predominante masculino, Marilane afirma que confia no potencial que seu trabalho tem de ser reconhecido independente das adversidades.
“Eu acho que a minha presença deixa uma marca e isso me coloca num patamar de tranquilidade em relação a essas coisas, eu não preciso desse.. eu não preciso ficar gritando aos quatro ventos, eu chego lá e digo ao que eu vim”, assegura.
Música e pandemia
O ano de 2019 foi difícil para Marilane enquanto cantora. Ela revela que foram poucos os convites para shows e que muitas vezes o cachê oferecido pelas apresentações não levava em consideração todos os gastos que os artistas têm com um espetáculo.
Desanimada, ela e seu violonista fixo, Vitor Souza, iniciaram 2020 com expectativas de que esse fosse um ano melhor.
A banda já tinha realizado suas apresentações no carnaval e tinha alguns shows marcados para 2020, mas com a pandemia, todos eles foram desmarcados e os artistas “foram jogados no chão”.
“Foi um ano sem ganhos, a não ser na preparação individual. Eu me dediquei aos estudos e comecei um trabalho com um preparador vocal”, conta Marilane.
No último dia 18, Marilane se apresentou na live que a Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de São João del-Rei (ADUFSJ – Seção Sindical) realizou em comemoração ao Dia dos Professores. Foi sua primeira apresentação depois do carnaval. E foi um sucesso que emocionou os mais de 2 mil espectadores.