Wanderson Nascimento
Notícias Gerais
O mesmo grupo de pesquisadores que, em agosto de 2020, previu o segundo colapso da saúde em Manaus devido à covid-19, está desenvolvendo um estudo que aponta para uma terceira onda da doença na capital amazonense. Essa terceira onda pode espalhar a crise sanitária por todo o país se à população daquela cidade não for imposto um lockdown com isolamento de pelo menos 90% e com vacinação em massa. O assunto foi destaque em veículos de mídia, como UOL e Estadão.
De acordo com os cientistas, o cenário de alta transmissão do vírus favorece o surgimento de mutações e, consequentemente, de variantes do novo coronavírus, que conseguem driblar as defesas do organismo de quem já foi infectado. Essas mutações, explicam, podem até mesmo culminar em variantes resistentes às vacinas já produzidas.
Entre os integrantes desse grupo de pesquisadores, que inclui cientistas das áreas de medicina, biologia e matemática, está o professor Alexandre Celestino Leite de Almeida, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Alexandre é mestre em matemática e doutor em engenharia elétrica e atualmente leciona no Campus Alto Paraopeba da UFSJ, em Ouro Branco.
O Notícias Gerais conversou com o professor sobre a pesquisa realizada e sobre o novo estudo que prevê a terceira onda do vírus em Manaus.
Alexandre destaca que se sente honrado em trabalhar com uma equipe tão engajada em tentar usar a pesquisa para salvar vidas. Eles explica que a colaboração de sua área, matemática, para a pesquisa, é de grande importância. “Em epidemiologia matemática usamos de modelos de equações diferenciais que, juntamente com simulações computacionais, são usadas para ajustar nossas equações e tentar prever o comportamento da epidemia. Dessa forma, tentamos ajudar na logística e na tomada de decisão do ponto de vista macro da epidemia (do ponto de vista de uma população), diferentemente da medicina, que trabalha mais o indivíduo. Assim, tentamos entender o comportamento do indivíduo para poder aperefiçoar o modelo (como o uso de máscaras, mobilidade etc.)”, declara.
O pesquisador também falou sobre a polarização entre economia e ciência, bem como o envolvimento da política na situação, que acaba prejudicando o combate e postergando o fim da pandemia. “Desde o início da pandemia temos tido problemas em convencer de como o estado deveria fazer a população proceder. Não comportar de forma adequada em cada ponto da epidemia poderá fazer com que ela dure um tempo muito mais longo que o necessário, afetando negativamente a economia em médio prazo muito mais do que ações mais rígidas e eficazes. Contudo, nossos estudos são unicamente no sentido de salvar o maior número de vidas possível”, explica, acrescentando que a política tem se demonstrado ser altamente perigosa para a população, no momento que tomam decisões baseadas unicamente na vontade do gestor.
Manaus acabou sendo um exemplo para todo o país com o colapso sofrido na saúde, para que os demais municípios não cometam os mesmos erros. Segundo Alexandre, cada município deve seguir orientações baseadas na ciência e cada vez menos se basear na parte econômica e política. “Contudo, necessitamos que o país como um todo faça o mesmo, ou teremos que conviver com o vírus por longos anos”, afirma.
De acordo com o professor, além do Amazonas, o grupo atua em uma pesquisa que estuda o comportamento da epidemia em Belo Horizonte. “A situação ainda está bem melhor que no Amazonas, contudo, dependendo de como forem as decisões no sentido de isolamento coletivo (volta às aulas, comércio etc), nossos estudos prevêem que a situação possa piorar muito”, alerta.
O cientista afirma que o combate à pandemia, não só no Brasil, mas também em diversos outros países, poderia ter sido muito mais eficiente com medidas mais drásticas no início da transmissão do vírus. “Se no início da pandemia os governantes (daqui e de todo o mundo) tivessem tomado medidas mais rígidas por um tempo maior, o controle da pandemia teria sido mais eficaz. Quando um nova epidemia se inicia, é preciso dar tempo à ciência para entendê-la. Nesse tempo, logísticas de comportamento, estudo de vacinas e medicamentos são feitos. Temos um problema sério de acesso a informação de qualidade. São dados cruciais para que a ciência possa usá-los e obter resultados. A falta de testagem em massa desde o início, por exemplo, impede que hoje tenhamos uma boa estimativa de pessoas que já foram infectadas no país”, conclui.
No início da pandemia, o grupo já havia publicado um estudo sobre a ineficácia do isolamento vertical, que era proposto por alguns políticos. Confira pelo link: