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TREM DE MINAS: MESMO ATRASADA, RESTAURAÇÃO DA ESTAÇÃO CESAR DE PINA VAI UNIR PASSADO E FUTURO EM TIRADENTES

Foto: Najla Passos

Najla Passos *

Os moradores de Tiradentes e região esperam há tantas décadas pela restauração da Estação Cesar de Pina que nem se abalaram com as notícias de que a conclusão da obra, prevista inicialmente para novembro, vai demorar mais um pouquinho. A expectativa para o novo uso da edificação histórica é tão grande que supera qualquer impasse: se cumprir o previsto no projeto, Cesar de Pina vai unir passado e futuro na região. E isso agrada muito.

“Essa obra é muito importante, contribui para a preservação da identidade local e trás de volta o protagonismo que a Estação teve em tempos passados, quando ativa entre 1923 e 1966. Tiradentes inspira o país todo quando falamos em preservação, não seria diferente com a Estação, símbolo do progresso no século XX”, avalia o advogado João Marcos Guimarães Silva, ex-vereador e ex-secretário de Assistência Social de Tiradentes, entusiasta da restauração.

“A restauração de uma edificação histórica ganha muito mais importância quando se sabe que, além de garantir a memória para as gerações que estão vindo, ela servirá também para o uso da comunidade. Assim, a estação Cesar de Pina se torna mais um exemplo de como deve ser a preservação da memória ferroviária no país”, defende o estoquista Gustavo Zenquini Teixeira, um apaixonado por trens que edita a página EFOM no Facebook.

Foto: Najla Passos

Início da obra

A Estação Cesar de Pina estava abandonada desde a década de 1970. Em março deste ano, quando a Prefeitura de Tiradentes anunciou o início da obra, foi uma festa. A previsão inicial era que durasse oito meses. Entretanto, a pandemia da Covid-19 acabou causando a suspensão temporária dos trabalhos no local. Mais recentemente, para complicar ainda mais, apareceram uns problemas estruturais que não estavam previstos no projeto original.

Com isso, o secretário de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer de Tiradentes, Henrique Rohrmann, afirma que não tem como informar o prazo exato para a conclusão do restauro, mas garante que será feito no menor prazo possível e dentro do orçamento previsto de R$ 183 mil, sendo R$ 100 mil do Fundo Municipal de Patrimônio Cultural e o restante da Prefeitura Municipal de Tiradentes.

Conforme ele, a proposta é que, depois de restaurada, a estação tenha uma utilização sócio-cultural. “Foi decidido, então, que ela abrigará uma sala da memória ferroviária, que abordará o tema da Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM), e todas as comunidades que foram desenvolvendo com a chegada da ferrovia”, conta ele.

O secretário acrescenta que o local abrigará também um espaço voltado para o artesanato local que, segundo ele, é de muita riqueza e precisa ser fomentado, além ainda, um ponto de atendimento da prefeitura.

“Pela distância geográfica da sede do município, a população de Águas Santas e Cesar de Pina é desprovida de um local para fazer suas reivindicações e ser atendida pelo poder público municipal. Com esse local de atendimento, ficaremos mais próximos da população dos dois bairros”, avalia.

Ecos do passado

A histórica Estação Cesar de Pina integrava o ramal da EFOM, inaugurado em 21 de agosto de 1911, para ligar a Estação Chagas Dória, no bairro Matozinhos, em São João del-Rei, ao balneário de Águas Santas, no local hoje pertencente ao município de Tiradentes. Naquela época em que se acreditava que as águas da Serra de São José eram milagrosas, o balneário era o mais importante alvo do turismo na região, a ponto de ter um estrada de ferro feita para servi-lo.

Com 11,8 quilômetros de extensão, o ramal contava também com a Estação Águas Santas, na entrada do balneário, que foi demolida em 1966. De acordo com o pesquisador tiradentino Luiz da Cruz, era por ele que circulava a produção agrícola local, especialmente impulsionada pela instalação dos imigrantes italianos na Colônia do Marçal, em São João del-Rei.

Conforme o pesquisador registra na sua obra Memória Ferroviária, a Estação Cesar de Pina foi tombada pela Lei Municipal nº 1.548/2007, mas por pouco não se perdeu. O telhado desabou, as portas e janelas foram arrombadas e todos os elementos decorativos saqueados. “Em 2014, por duas vezes, tentaram incendiar a edificação”, atesta ele.

Resgate da identidade

Segundo o secretário de Tiradentes, o trabalho de resgate da memória de uma localidade é de extrema importância para manutenção de sua identidade. “Estamos trabalhando bastante o tema da educação patrimonial e vimos que uma forma da população se sentir pertencente ao patrimônio material, que é a Estação, é trabalhar também o imaterial, que é a memória do local” afirma.

Ele conta que a proposta é que, quando restaurada, a Estação potencialize o turismo dos dois bairros que estão ao seu entorno. “O restauro da estação e a implantação do espaço da memória ferroviária e do centro de artesanato serão importantes aliados para o desenvolvimento turístico nos dois bairros”, pondera.

Cesar de Pina e Águas Santas, apartados do centro de Tiradentes pela Serra de São José, têm, na visão dele, grande potencial turístico, que precisa ser lapidado e fomentado pelo município e suas instituições culturais. “Temos uma estância hidromineral, temos um artesanato de primeira qualidade, um potencial para ecoturismo, turismo rural e de experiência”, acrescenta.

Restauração limitada

A Estação é o único imóvel do conjunto arquitetônico dos bairros Cesar de Pina e Águas Santas que será restaurado. Os dois outros imóveis com características históricas no entorno não constam no projeto de preservação histórica. “As casas do entorno não estão no projeto. Somente a estação, pois ela está sob tutela do município e é um bem tombado pelo município. As outras casas são particulares”, justifica Rohrmann.

As edificações do entorno, particulares, seguem em péssimas condições de conservação. Foto: Najla Passos

Najla Passos é mineira, jornalista, mestra em Linguagens e Literatura Brasileira e diretora-executiva do Notícias Gerais.

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