Andreza Siqueira *
José – Carlos Drummond de Andrade
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
A poesia José de Carlos Drummond de Andrade é construída por meio de uma escrita inteligente e sensível que faz uso da linguagem informal e coloquial. Pensar em Drummond nos faz imaginar alguém inquieto com o mundo ao seu redor e que usa essa inquietação como inspiração para sua obra.
Quando Carlos Drummond de Andrade pergunta “E agora, José?”, ele propõe uma reflexão do ser, ou seja, do papel que cada um de nós está desempenhando perante a sociedade. José faz múltiplas escolhas frustradas; tudo o que ele tentou até o momento não deu certo, todos os papéis desempenhados foram fracassados.
Não dá certo porque não vem de dentro; são papéis falsos. Porque o que Drummond lista no poema são inúmeras falsidades na vida de José. Quem lê o poema se identifica com José, mas em alguns versos, já não se identifica mais. É um poema impactante e depressivo porque nada funciona e quando funciona nada faz sentido para este personagem.
Carlos Drummond de Andrade se inquietava com a consciência do seu ser no mundo. A mesma forma que questionava o sentido da existência humana, existe de um lado a preocupação com problemas sociais, enquanto de outro lado, existe a preocupação com problemas individuais.
É importante você saber sua essência, saber quem se é, saber quais os seus desejos, quais os seus anseios, porque se você não sabe o que você é, se você não sabe o que você quer, não adianta. Você não chega a lugar algum!
Para você se sentir vivo no mundo tem que vir de um verdadeiro “eu”, porque se não a vida não fará sentido e você não irá para lugar nenhum. E agora, você?
* É estudante de Comunicação – Jornalismo da UFSJ e produziu este texto sob a orientação do professor Paulo Caetano, durante a disciplina remota de Produção Textual.