Início Gerais Economia CAMPANHA ‘SÃO JOÃO NÃO PODE PARAR’ DIVIDE ENTIDADES E CIDADÃOS

CAMPANHA ‘SÃO JOÃO NÃO PODE PARAR’ DIVIDE ENTIDADES E CIDADÃOS

Redação
Notícias Gerais

As redes sociais dos são-joanenses foram invadidas, desde a tarde desta segunda (19), por uma ação coordenada de marketing convidando a população a participar de uma carreata, na tarde de quinta (21), em favor da reabertura do comércio e da preservação do emprego.

As peças publicitárias da campanha “São João não pode parar” não informam quem são os organizadores. E também não explicam que tipo de reabertura do comércio estes organizadores anônimos propõem, dentre as inúmeras possibilidades.

Parte da população já aderiu ao movimento e se organiza para a carreata com a preparação de indumentária própria, como é o caso do internauta Greyck Seixas Pereira, que encomendou uma máscara reafirmando seu apoio político ao presidente Jair Bolsonaro.

No Facebook, Greyck Seixas Pereira publicou a foto da máscara que encomendou especialmente para a ocasião: a do presidente acusado de não dar o devido apoio aos micro e pequenos empresários. Foto: Redes sociais

Já a internauta Carol Rodrigues ironizou a contradição entre a exigência do uso obrigatório de máscara e o descrédito dos organizadores na já comprovada letalidade da Covid-19. “Eu acho que nem precisam usar máscaras, já que acham não correm riscos de contaminação kkkkk”, afirmou no Facebook.

Aproximação do pico da pandemia

Em São João del-Rei, há também quem esteja preocupado com o momento inoportuno, dado que o número de casos confirmados vêm crescendo progressivamente no município.

“Vejo com temeridade, sendo que estamos nos aproximando do pico da pandemia. É importante frisar que não sou contra a reabertura do comércio, no entanto, que seja na hora oportuna e com extrema responsabilidade”, afirma o mestando em Filosofia pela UFJF, Mauro Luiz do Nascimento Júnior.

Segundo ele, a reabertura do comércio não é a única forma de possibilitar que os trabalhadores e pequenos empresários sobrevivam durante a pandemia. Existe também a possibilidade de que eles sejam beneficiados com políticas públicas, como ocorre em diversos países.

“Acho oportuno fazer um questionamento: o que os nossos políticos estão fazendo de forma efetiva para com os nossos micro-empresários?”, indaga.  

Filho ‘polêmico’ tem pai?

A Associação Comercial e Industrial de São João del-Rei (ACI) foi enfática ao afirmar à reportagem do Notícias Gerais que não tem nada a ver com a campanha: “ACI não tem nada a ver com esse evento. Não apoia, não participa. Não tem absolutamente nenhum compromisso com esse evento do dia 21”.

Já o Sindicato do Comércio de São João del-Rei (Sindcomércio) disse que não está entre os organizadores do evento, mas apoia os empresários que estão na linha de frente. Segundo o assessor jurídico do Sindcomércio, Emanuel Vitoreli, este apoio se resume a encaminhar os pedidos de alvarás e licenças para o evento.

Programa Minas Cosnciente

Vioreli esclareceu também que a proposta do Sindicato é que a reabertura do comércio respeite os protocolos do programa Minas Consciente, do governo de Minas Gerais. A adesão das 51 prefeituras da macrorregião Centro Sul de Minas Gerais foi definida em reunião nesta segunda (18).

Conforme Vitoreli, a intenção é que a cidade passe da chamada “onda verde”, que permite apenas a abertura dos comércios essenciais, para a “onda branca”, que amplia mais os setores com autorização para funcionar.

A proposta é que bancos e loterias abram na parte da manhã, com atendimento prioritário para idosos das 7 às 8 horas. E o comércio que for autorizado a abrir, funcione na parte da tarde, a partir das 13h30.

O Sindcomércio também defende a realização de reuniões semanais para avaliar a evolução da doença na cidade. “Em caso de aceleração das infecções, a estratégia será recuar e se estiver tudo bem, a cada 14 dias o município avança para a próxima fase do programa”, explica o assessor jurídico.

Emanuel chama a atenção também para a grave crise vivida pelo comércio e do abandono da categoria pelo governo federal. “A situação é grave, a maioria das empresas já queimou o caixa. E as ações do governo não chegam até o micro e o pequeno empresário. Ele dá com todas as mão para o grande”, denuncia.

“A situação é grave, a maioria das empresas já queimou o caixa. E as ações do governo não chegam até o micro e o pequeno empresário. Ele dá com todas as mãos para o grande”, constata.

Emanuel Vitoreli, assessor jurídico do Sindcomércio

‘Milão não pode parar’

O mote “São João não pode parar” é inspirado na campanha “Milão não para”, lançado na cidade industrial italiana, em 28 de fevereiro, durante o início da pandemia no novo coronavírus naquele país, com resultados catastróficos para a saúde pública do país.

Milão é a capital da região da Lombardia, que contava com 258 casos de infecção pela Covid-19 quando a campanha teve início. Naquele momento, o país todo contabilizava 12 mortes pela doença.

Um mês depois, a situação era dramática. No dia 27, a Itália registrava 9.134 mortos, 4,8 mil só na região da Lombardia. O prefeito de Milão, Giuseppe “Beppe” Sala, admitiu publicamente o erro de ter apoiado a campanha e pediu desculpas.

‘O Brasil não pode parar’

Antes de São João del-Rei copiar a campanha que já não deu certo em terras italianas, o governo do presidente Jair Bolsonaro também o fez. A campanha publicitária com o mote “O Brasil não pode parar” foi lançada no dia 26 de março, contrariando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde (MS).

Na época, o Brasil contabilizava 2.915 casos confirmados de pessoas infectadas pela Covid-19 e 77 mortos. “Uma gripezinha”, dizia Bolsonaro. Nesta terça (19), são 241 mil brasileiros infectados e 16 mil mortos.

A campanha custou R$ 4,8 milhões aos cofres públicos, pagos pelos contribuintes, e foi contratada sem licitação. O valor seria suficiente para o governo comprar 80,1 mil cestas básicas, ao preço de R$ 59,90 cada uma, conforme valor desta terça (19), no Supermercado Salles do Tejuco, em São João del-Rei. Quase uma cesta para cada habitante do município.

A veiculação da campanha foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 31 de março. Confira aqui a decisão.

A campanha “O Brasil não pode parar” custou R$ 4,8 milhões, valor suficiente para o governo comprar 80 mil cestas básicas, a R$ 59,90 cada, conforme preço desta terça (19), no Supermercado Salles do Tejuco. Quase uma cesta para cada habitante do município.

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