Daniela Mendes
Especial para o Notícias Gerais
Após reuniões, debates entre moradores em redes sociais e até uma petição online, a Prefeitura de Tiradentes lançou nesta sexta (20), um novo decreto, suspendendo a atividade turística na cidade. A partir da segunda-feira (23), lojas, pousadas e restaurantes estarão fechados por dez dias, prorrogáveis se houver necessidade.
O decreto, no entanto, abre exceção para a atividade delivery e dá a oportunidade para alguns estabelecimentos se reinventarem. Supermercados, açougues, padarias, posto de gasolina, farmácias e lojas de materiais de construção podem funcionar, mas somente até às 20h.
Haverá restrição de veículos turísticos com lotação de visitantes, com faixas educativas na entrada da cidade, e de fretamento de ônibus particulares para locais de transmissão do coronavírus.
As aglomerações em praças e ruas estão proibidas e o novo decreto anula alguns pontos do antigo. Aulas estarão suspensas por tempo indeterminado, ao invés de retornarem na segunda-feira (23), como previsto.
O IPTU, que venceria neste mês, teve pagamento prorrogado por mais 60 dias por causa da Covid-19. Leia a íntegra do decreto municipal 3.108.
Ações paralelas
Até hoje, nenhuma suspeita foi notificada na cidade. No entanto, a semana foi marcada pela polêmica sobre a decisão se deveriam ou não ser suspensas as atividades turísticas ainda em funcionamento.
Na quinta (19), enquanto havia muito burburinho e movimentação nas redes sociais, o secretário de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer, Henrique Rormnhan, disse que a Prefeitura já avaliava a situação.
“Acabamos de terminar uma reunião com a Prefeitura de Ouro Preto para tratarmos do assunto. Logo mais teremos reunião do comitê de crise para fecharmos o decreto. De qualquer forma estamos analisando todas as manifestações populares”, garantiu. Mas às 18h o documento ainda não estava pronto e a elaboração das novas normas seguiu durante a noite. “Está demorando pois é um decreto muito delicado e não pode ter chance de erro”, justificou.
Nesta manhã de sexta-feira (20) o prefeito Zé Antônio do Pacu (PSDB) deu entrevista à rádio local para comunicar a decisão de suspender o turismo e esclarecer a população. E, por volta de meio dia publicou o decreto.
De um a um até todo mundo
Em reunião na terça (17), após votação entre seus membros, a Associação Empresarial (Asset) decidiu pelo fechamento do comércio. Contudo, nenhuma medida foi tomada de fato, porque não se chegou a um acordo com a Prefeitura, que já havia decretado situação de emergência no município. Afinal, nem todos estabelecimentos da cidade são associados e esta decisão deveria ser um esforço conjunto.
Preocupada com o fluxo de turistas na cidade e com a situação que parecia não se definir, na quinta, a associada Ana Carolina Barbosa Nascimento se adiantou e decidiu por iniciativa própria fazer uma petição online para pressionar a Prefeitura. Em poucas horas, quase mil assinaturas foram arrecadadas.
A empresária esteve tanto na reunião de terça quanto em outra na quarta (18), da Asset com a Associação dos Municípios da Microrregião da Vertentes (Amver), ambas para discutir medidas para conter o coronavírus. Ela disse que saiu convencida de que o fechamento do comércio é a medida mais segura de proteção contra o coronavírus. Para Nascimento, a cidade tem muitos idosos e pessoas em situação de risco.
“Muitos vão continuar vindo, porque talvez não tenham consciência da realidade ou o que isso pode causar para uma cidade pequena que não tem uma estrutura de saúde. Nem na regional a gente tem uma estrutura fortalecida para abarcar tudo que vem por aí, se houver um contágio”, justifica. Ela também explica: “Se a gente fecha o comércio é como se a gente fechasse a cidade, visto que ela é extremamente comercial”.
Saúde em primeiro lugar
Na quarta, três donos de academias de ginástica na cidade também se precipitaram e decidiram, espontaneamente, antes do novo decreto municipal, suspender as atividades. Na condição de profissionais de saúde, temeram ser eles mesmos os responsáveis por transmitir o coronavírus para pessoas em situações de risco.
“Ouvindo tudo que a gente tem ouvido, a gente sendo jovem, saudável, atlético, praticando atividade física e que se alimenta bem, talvez a gente nem tenha o sintoma da doença, nem saiba que a gente vai estar doente, mas a gente pode ser o propagador”, disse um dos proprietários das três academias, Vanessa Teixeira, sobre a motivação que os levou a fechar as portas.
É que especialistas têm alertado, por toda parte, o grande poder de propagação do coronavírus. E embora em algumas pessoas a Covid-19 tem sintomas de uma gripe leve, os chamados grupos de risco podem sofrer consequências fatais. Se muitas destas pessoas adoecem ao mesmo tempo em número superior à capacidade do sistema de saúde, pode haver um um colapso social, como foi na Itália.
Parcerias, responsabilidade e equilíbrio
A presidente da Asset, Rejane Cunha, mostrou que associação está se empenhando em encontrar saídas. Disse que os empresários por meio da instituição fizeram uma parceria com o banco Sicoob para que possíveis empréstimos sejam concedidos com taxas que se adequem à realidade delicada que o momento exige. Além de considerar outros recursos que vão sendo oferecidos pelo governo federal na medida em que decisões são tomadas.
Ela também cita medidas que vão além das econômicas, como por exemplo as decisões trabalhistas. “Nesse momento, a gente está com uma relação muito mais profunda com os advogados trabalhistas. Já estamos contratando um escritório de advocacia para nos ajudar em relação às informações do que a gente deve fazer com os funcionários”, revela.
Cunha diz que o objetivo é manter uma relação digna, de respeito. “Há uma preocupação muito grande de não deixar os nossos colaboradores em situação de mais dificuldade ainda. Não dá pra simplesmente mandá-los para casa e não pagar. A gente tem que honrar com todas as nossas responsabilidades”, reforça.
Uma dessas medidas é antecipação de férias, que junto com outras têm evitado demissões. “Até agora, nenhum dos nossos associados está interessado em dispensar funcionário, vai todo mundo buscar ter um pouco de ponderação e equilíbrio para esperar as circunstâncias”, revela.
Em áudio gravado para a população e veiculado nas redes sociais, a presidente da Asset reforça em nome da associação: “Todos nós sabemos com certeza absoluta e avaliamos com critério, que teremos muitas perdas financeiras. Mas ainda é muito melhor ter perdas financeiras do que sofrer as consequências, de sentir que nós participamos, de alguma forma, do agravamento do problema do coronavírus no país”.
A Saúde em Tiradentes
A cidade de Tiradentes hoje só dispõe de um leito com respirador, afirmou o prefeito em entrevista a rádio. Mesmo a Unidade de Pronto Atendimento, Upa, em São João del Rei só possui dois. A Santa Casa tem 20 respiradores e o Hospital das Mercês dez. Ou seja, 33 leitos com respiradores para uma população de cerca de 100 mil habitantes. Ou seja, não tem como enfrentar um surto da Covid-19 na região.
Em caso de suspeita, a orientação é para não ir às pressas para o posto de saúde. As unidades devem ser reservadas para casos graves e também não podem ter aglomerações. Para evitar a sobrecarga do sistema de saúde, a orientação para o tratamento e monitoramento da infecção serão dadas primeiro pelo telefone (32) 3355-1422.
Nada foi dito com relação ‘a vacinação contra a influenza que terá início em 23 de março. As pessoas idosas terão que se dirigir ao Posto de saúde, colocando-se em risco de contágio do COVID-19? Falta orientação a respeito.
Excelente, pauta, Elza!
Vamos apurar!