Por Kamila Amaral
Especial para o Notícias Gerais
Em 2019, durante as manifestações em defesa da educação realizadas em várias cidades do país, uma foto viralizou na internet. Nela, um jovem negro segurava um cartaz com os dizeres: “Sou o primeiro da minha família a entrar numa universidade pública e vou lutar para não ser o último”.
Tirada pela jornalista Beatriz Mota, no Rio de Janeiro, a foto escancarava o quanto o ensino superior ainda é privilégio de poucos no país. Segundo um levantamento, realizado pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2019, apenas 21% dos jovens brasileiros, com idade entre 25 e 34 anos, possui Ensino Superior Completo.
Outro levantamento, desta vez realizado pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), também no ano passado, mostra que 83,5% dos estudantes universitários enfrentam algum tipo de sofrimento psíquico.
Isso pode explicar um pouco o porquê da conclusão de um curso de graduação, para muitos, ser motivo de festa. A formatura simboliza a realização de um sonho, o fim de um ciclo e, para quem decide participar das festividades, um grande investimento.
Paloma Souza, do curso de Ciências Econômicas, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), participou do seu baile de formatura no primeiro semestre de 2019. Ela estima ter gasto cerca de R$ 13 mil entre o baile de formatura e a festa mais íntima que promoveu para amigos e familiares. “Tive gastos com vestidos, aluguel de sítio, comidas, bebidas e decoração”, afirma.
Questionada sobre o motivo de ter investido na formatura, ela disse: “Eu sou a primeira da minha família em entrar em uma faculdade federal, então eu e meus pais sempre sonhamos com a formatura”. Familiar? Bem, essa situação representa a de muitos jovens universitários brasileiros. Souza ressaltou ainda que o planejamento de uma economia a longo prazo contribuiu para que o sonho se realizasse.
Diferente de Paloma Souza, a universitária Ariane Gabriela Tavares, estudante do 5º período de Ciências Contábeis da UFSJ, não planejava participar das comemorações, mas aproveitou uma oportunidade e mudou de ideia. “Decidi participar pois entrei para a comissão de formatura e, dessa forma, teria alguns benefícios”, explica.
O contrato dela com a empresa organizadora do evento ficou em torno de R$ 5,8 mil. A estudante afirma ainda que não pretende ter muito gastos com despesas extras. “Acredito que não vá gastar tanto, sou bem econômica”, conta. Ela até revelou um dos seus truques para economizar. “Eu vou comprar meu vestido em um brechó, provavelmente, então vai ser só um sapato mais caro”, disse.
Já a universitária Janielle de Souza Moreira, da mesma turma de Tavares no curso de Ciências Contábeis, decidiu não participar do baile de formatura. “Fiz os cálculos e refleti sobre a minha participação, visto que a formatura é uma conquista muito grande, mas achei o custo-benefício e de oportunidade não viável”, explica a estudante. Ela disse ainda ter outros planos para esse dinheiro. “Pretendo investir na bolsa e usar parte dele para fazer uma viagem”, revela Moreira.
Festas sob demanda
Do outro lado dessa história está a empresa responsável pela organização das formaturas. Ramon Diogo Silva, gerente administrativo da Avoice Formaturas, unidade de São João del-Rei, explica que a empresa trabalha com projetos de formaturas montados a partir das demandas dos estudantes.
“Basicamente, a gente analisa o custo benefício de tudo, a demanda do cliente, a oportunidade dele em relação a forma de pagamento, e a partir daí criamos o projeto”, conta. No entanto, em alguns casos, os alunos já chegam com o valor que pretendem gastar estipulado e o projeto de formatura é criado a partir disso. “Sempre prezando pela qualidade, é claro”, ressalta Silva.
Efeitos da crise econômica
Para a empresa, o número de formaturas realizadas tem diminuído nos últimos quatro anos. “Em 2016, 2017, nós fazíamos em torno de 20 formaturas por ano em São João del-Rei. Hoje nós fazemos cerca de 12, 13 formaturas anualmente. O gerente da empresa explica que quando o número de formaturas realizadas na cidade está baixo, a empresa procura com mais intensidade oportunidades em outras cidades para assim conseguir se manter no mercado.
Para driblar a crise, a empresa também tem investido em formaturas unificadas. “Diminuiu muito o número de alunos por turma, sendo necessário juntar vários cursos para atingir a média de participantes”, conta Silva. As formaturas realizadas pela Avoice contam com até 60 alunos participando, devido a capacidade do local onde os bailes são realizados. Cada aluno leva em média 15 convidados.
Impacto na economia local
Questionado sobre o impacto dos serviços prestados pela Avoice na economia local, o gerente da empresa afirma que a mesma prioriza fazer compras de materiais, contratações de funcionários, atrações musicais e estrutura, tudo dentro da cidade.
Além disso, uma formatura padrão, com cerca de 60 estudantes e seus convidados, conta com 300 pessoas trabalhando para que ela aconteça. “E essas pessoas são moradores da cidade”, ressalta Silva.
Para não cair em golpe
Outro ponto importante a ser considerado é como os estudantes podem fazer para contratar uma empresa responsável e evitar estresse ou perdas futuras. “O cliente, pra ele poder fazer uma contratação de qualquer prestação de serviço ele precisa buscar informações daquela empresa. O preço às vezes não é tudo. Tudo tem o seu valor, toda empresa tem o seu lucro, nem uma empresa é instituição de caridade, para não cobrar” afirma o gerente da Avoice.
Segundo ele, o cliente deve buscar informações jurídicas e administrativas, consultando o CNPJ da empresa, buscar o histórico da empresa, o tempo de atuação no mercado, e buscar relatos de experiências com pessoas que já utilizaram o serviço com aquela empresa.