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AS DIGITAIS INFLUENCERS QUE VÃO ALÉM DO LOOK DO DIA

Carol Oliveira *

Tudo começou lá em 2017, no Minas Trend, um evento de moda. Dei a sorte de ser fotografada por um fotojornalista de um jornal famoso de Belo Horizonte e, aos poucos, os seguidores começaram a subir. Mas, só no final de 2018, começo de 2019, que os convites começaram a surgir. Tirar umas fotos pra uma loja de roupas aqui, fazer uma maquiagem ali, um tratamento capilar acolá, uma passadinha na padaria pra mostrar aquelas comidas gostosas, o projeto de digital influencer que vos fala estava sempre compartilhando tudo com seus seguidores.

Esse processo acontece naturalmente para algumas pessoas, enquanto outras planejam. Depois de um tempo eu descobri que, particularmente, eu gostava de postar, mas não gostava de me sentir na obrigação de fazer isso. Por trabalhar o dia inteiro do outro lado da tela, sendo social media de uma empresa e analista de redes sociais de outra, além da colunista, chegou o momento em que eu tive que fazer uma escolha. Acreditem, ao contrário do que dizem as más línguas, ser digital influencer é um trabalho, sim. E muito sério!

Mas, de ondes eles vieram? De acordo com uma matéria da Conversion, agência de marketing digital e SEO, é uma profissão que surgiu nos Estados Unidos em 2015 e se popularizou no Brasil entre 2016 e 2017. Muita gente confunde com o termo blogueiro já que, no início do movimento das celebridades da internet, eram eles quem comandavam tudo. Na verdade, todo mundo que está produzindo conteúdo autoral usando a internet para divulgar e engajar, pode ser considerado um criador de conteúdo. A diferença entre um e outro são as plataformas utilizadas – no caso dos influencers, em sua grande maioria, o Instagram é a escolhida.

E qual a importância deles? Bom, foi a época em que somente a TV influenciava desde as nossas opiniões mais simples até as mais complexas. Nosso poder de compra, o conteúdo que iríamos consumir, tudo isso vem se alterando com a popularização da internet. Espaço esse que deu oportunidade a muita gente, amplificando vozes que não se relacionam com o público da mesma forma que atores ou cantores famosos, por exemplo. Um dos grandes diferenciais é a proximidade, principalmente da realidade individual de cada um.

Mas, como diz o famoso ditado: com grandes poderes, ou influência, também vem grandes responsabilidades. Há pouco tempo, logo no começo da quarentena, pudemos acompanhar o caso da digital Gabriela Pugliesi, que protagonizou a polêmica ao dar uma festa em plena pandemia, no começo do mês abril. Depois de ficar alguns meses offline, ela voltou e compartilhou com seu público as reflexões que fez nesse meio tempo, sobre a importância de se ter responsabilidade com o próximo.

Em tempos que a cultura do cancelamento faz-se presente, e é preciso tomar cuidado com o quão tóxica e tirana a internet pode se tornar, não deixa de ser importante a análise de que a nossa atitude afeta o outro. Principalmente quando você tem uma legião que leva sua opinião e suas atitudes em conta.

Mariana Silva, influencer que acumula quase 14 mil seguidores, afirma que é muito criteriosa em relação ao seu público: “Eu vejo que hoje em dia as pessoas não tem essa responsabilidade que a influencer deve ter. Eu estudo muito as métricas e a faixa etária dos meus seguidores, e limito meu perfil para que crianças não possam me seguir. Eu faço esse controle porque sou muito natural no meu Instagram, às vezes acabo falando um palavrão, ou assuntos sobre sexo, e não é algo que eu acho que é pra todos os públicos”.

Ela, que começou fazendo vídeos e fotos para sua loja Ooh La La, teve a experiência de ver clientes contando sobre situações constrangedoras que haviam passado em outros lugares, principalmente pela questão do peso. “A moda vem de uma história de segregação, e a minha principal contribuição para empoderar mulheres através da moda é estudando estruturas corpóreas, proporções, cores, tudo para que elas possam ter o sentimento de pertencimento e não passar por frustração para entrar em alguma roupa”, afirma.

Mariana Silva, que acumula quase 14 mil seguidores. Foto: Instagram

Ludmila Moreira é outro exemplo de empoderamento e desconstrução: “procuro romper os padrões impostos pela sociedade de que gordas só podem usar roupas largas e pretas, e mostrar que podemos usar aquilo que quisermos”, declara a influencer. Ela percebeu que conseguia transmitir palavras de conforto e carinho pras pessoas ao seu redor, até que decidiu fazê-lo através do Instagram. “Antes de criar um conteúdo, penso: esse conteúdo agregará algo à vida dos meus seguidores? É leve? Os fará rir ou refletir? Busco transmitir coisas que tem a ver com o meu objetivo, mas, de vez em quando, gosto de dar uma quebrada para não ficar pesado e cansativo”.

Ludmila Moreira: empoderamento e desconstrução. Foto: Instagram

Seguindo a mesma linha de Ludmila, a partir da falta de representatividade e o ideal de passar mensagens positivas, Larissa Ferreira começou pela falta de visibilidade no meio plus size em São João del-Rei: “não me sentia representada por outras influenciadoras, visto que as dicas eram sempre para o mesmo tipo de público. Quando comecei nesse meio digital, tudo ainda era novo pra mim. O Instagram contribuiu muito com o meu “ ver ao espelho”. Eu sabia o que eu queria, mostrar que todas nós, independente do nossos corpos, somos lindas, temos o direito de nos vestir com roupas da moda, de ir a piscina ou a praia com qualquer outra pessoa “padrão” sem precisar nos esconder”, conta.

Ela acredita que a forma que se veste acaba incentivando suas seguidoras a fazerem o mesmo, sem medo da opinião alheia. Larissa afirma que enxergava o espelho como inimigo, mas, a partir de um trabalho de auto aceitação, começou a se enxergar de dentro pra fora, e falar sobre isso é o que a motiva a continuar. Sobre a responsabilidade de influenciar pessoas, ela confessa: “É difícil. Tudo que a gente fala tem um peso grande, mas é gratificante ver que aos poucos consigo mudar a mentalidade em relação ao corpo e autoestima das minhas seguidoras”.

Larissa Ferreira: visibilidade plus size. Foto: Instagram

O fato é que ser um influenciador passou a ser o sonho de muita gente. A idealização sobre o ganho material, financeiro e as diversas experiências que esse tipo de vida pode proporcionar leva algumas pessoas ao “tudo pela fama” como a compra de seguidores, curtidas e, principalmente, a propagação de um conteúdo muitas vezes irresponsável. O mercado achou uma nova forma de moldar os pensamentos, comportamentos e atitudes e, as pessoas, uma nova profissão, hobby ou meio de visibilidade perante à uma sociedade que ainda cala muitas vozes importantes. Destaca-se cada vez quem entende que os valores, nesse caso, não são matemáticos. A conta só fecha pra quem está disposto a ajudar na construção de uma sociedade crítica, consciente e que saiba usar seu espaço como um meio de troca de algo que anda tão em falta: o diálogo.

Carol Oliveira é jornalista, meio perdida e meio achada no universo da moda, dos games e da música. Comunicadora e comunicativa, é perigoso um dia acabar conversando com as paredes. São-joanense, amante de um bom café com pão de queijo e uma prosa, traduz sua visão de mundo por meio das palavras e do audiovisual. Escreve no Notícias Gerais às quartas, de 15 em 15 dias.

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