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CRÍTICA: A VASTIDÃO DA NOITE É A GRANDE SURPRESA DO CINEMA EM 2020?

The Vast of Night (Patterson, 2020)

Lucas Maranhão *

A TV estadunidense da década de 50 e 60 gerou um grande número de séries de ficção-científica – como Além da Imaginação (1959-1965) e A Quinta Dimensão (1963-1965), que, curiosamente, vêm sendo muito relembradas recentemente. Essas produções se dedicavam a desenvolver narrativas misteriosas baseadas em conceitos científicos. A série Black Mirror (2011-presente) é um exemplo das produções recentes que tentaram revitalizar os temas científicos ao estilo “além da imaginação”. Já a nova produção lançada pela Prime Video, A Vastidão da Noite (The Vast of Night, 2020), homenageia o gênero ao se transformar em um pseudo-episódio de Além da Imaginação.

Acompanhamos a história dos jovens Fay (Sierra McCormick) e Everett (Jake Horowitz), que vivem em uma pequena cidade do Novo México durante a década de 50, ela trabalha como telefonista e ele como radialista. Durante uma noite, os dois começam a receber um estranho sinal através das ondas de rádio. Por isso, não só a televisão é uma influência narrativa forte no filme, mas também o rádio.

Na balança audiovisual em que A Vastidão da Noite é colocado, o lado que mais pesa é certamente o do áudio. A narrativa é toda conduzida por diálogos – muitas vezes através do telefone ou do rádio – de uma maneira que nos leva a imaginar que estamos ouvindo um podcast. Inclusive, o diretor Andrew Patterson é inteligente ao esconder os rostos de alguns personagens, que somos apenas capazes de conhecer pela voz, em diálogos através do rádio.

A ideia de fazer um filme que dependa mais do aúdio do que do visual é arriscada, por isso Andrew Patterson (um diretor iniciante) precisaria ter um domínio grande da forma de seu filme. Ele soluciona a questão com o uso frequente de planos longos e planos sequências. Isto é, ao assistir o filme, temos a sensação de que o tempo passa naturalmente, sem uso de grandes cortes temporais, com destaque para um plano sequência de tirar o fôlego, em que a câmera cruza toda a cidade para conectar os protagonistas.

Os feitos de Andrew Patterson como cineasta se fazem ainda mais relevante visto que trata-se de um filme independente (apesar da distribuição da Prime Video). Ele financiou a produção de seu próprio bolso, gastando muito menos que a média hollywoodiana. Após concluído, foi rejeitado por 18 festivais até conseguir estrear – e ter grande sucesso graças às críticas positivas.

Em um ano em que poucos filmes são lançados e muitos são adiados, A Vastidão da Noite é forte candidato para ser considerado a grande surpresa cinematográfica de 2020 – quando este ano finalmente passar. E Andrew Patterson tem um futuro promissor pela frente como cineasta.

Nota:

  • É jornalista, designer e apaixonado por cinema.

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