Alexandre Frigo *
Tia Alda nunca foi muito fã de cozinha. Ela gostava mesmo era de arrumar a casa. Segundo D. Maria, minha querida mãe e irmã dela, quando jovens, tia arrumava a casa e D. Maria ficava com Vó Albertina na cozinha. Apesar de uma vez D. Maria relatar que tia Alda cozinhou por um período quando a D. Albertina foi internada, pois sofria de asma e, às vezes as crises eram sérias. Tia Alda fazia o almoço, sentava, almoçava antes de todos e só depois chamava os irmãos e Zé Theodoro para almoçar.
Morei com ela por quatro anos, após passar um período fora trabalhando em Brasília. Cozinhei inúmeras vezes para nós dois. Mas, de vez em quando, ela ia para a cozinha. Fazia um cozido de carne com legumes que era muito gostoso. Não tinha nada de especial. Na verdade era muito simples. Acho que era isso fazia com ele fosse tão gostoso e tão especial. Outra coisa que ela fazia e que era uma delícia era um empadão de carne moída. Não tinha erro. Os dois sempre davam certo. Mas praticamente eram as únicas coisas que davam certo.
É que a tia não gostava de seguir receita. Tinha que ser da cabeça dela. O melhor é que ela reclamava que não dava certo, que não iria cozinhar mais e que tinha desperdiçado ingredientes. Bastava falar com ela para seguir uma receita e ela soltava na seca: “gosto de fazer da minha cabeça, não gosto de seguir receita”.
Qual não foi o meu susto quando pouco antes de falecer a tia me presenteou com o seu caderno e suas anotações de cozinha. Pasmem! Isso mesmo. Eu fiquei chocado. Afinal, tia não gostava de cozinha. E pra quem não gostava de cozinha, ela tinha um caderno bem organizado (não ia ser diferente). Tipo um fichário, com receitas datilografadas e separadas por especialidades. Eram doces, salgados, tortas, carnes, etc. Fora uma infinidade de papeis com receitas escritas a mão copiadas de programas de televisão e até mesmo de rádio.
Não perdi a oportunidade de perguntar a ela sobre tal caderno. “Tia, pra quem não gosta de cozinha e de seguir receita, até que você tem um bom material”. “É! Mas é sempre bom ter alguma coisinha anotada, vai que aparece uma visita e a gente tem de fazer alguma coisa”, respondeu. Detalhe é que quando aparecia visita, ela comprava as coisas prontas. Vai entender. Coisas de tia Alda.
No fundo, no fundo… eu acho que ela gostava de cozinha sim. Como geniosa que era, tinha que ser do jeito dela, afinal ela pautou sua vida assim, do jeito que ela quis. Uma coisa era certa, adorava comer bem e de uma cachacinha.
Empadão de carne moída
Ingredientes:
3 xícaras de farinha de trigo peneirada junto com uma colher de sopa rasa de fermento em pó
2 ovos
2 colheres de sopa de manteiga ou margarina
1 colher de chá rasa de sal
Leite até dar o ponto
½ kg de carne moída
½ cebola bem picadinha
2 dentes de alho bem picado
2 tomates sem semente picado em cubos pequenos
2 ovos cozidos picados em rodelas
¾ de xícara de azeitona picada
Tempero de sua preferência
Cheiro verde a gosto
Modo de preparo
Misture a farinha, os ovos, a manteiga e o sal e vá acrescentando leite até dar o ponto de desgrudar das mãos. Trabalhe a massa até ficar lisa. Reserve.
Enquanto a massa descansa, é hora de preparar a carne. Aqueça uma panela, coloque um fio de óleo e acrescente o tempero. Deixe subir o aroma. Acrescente a carne e refogue bem. Depois coloque o alho, misture e refogue. Hora de colocar a cebola e refogar também. Em seguida, coloque o tomate e as azeitonas de deixe tudo tomar gosto. O recheio não pode ficar muito seco. Se isto acontecer, pingue um pouco de água. Misture o cheiro verde. Deixe a carne esfriar para não colocar o recheio quente. Não é bom fazer isso.
Divida a massa em duas partes. Abra uma delas e forre o fundo de uma assadeira, coloque a carne moída, decore com os ovos. Abra a outra parte da massa, tampe a torta enrolando as bordas para poder fecha-la.
Separe uma gema, pingue um pouco de café (tia falava que era para o dourado da torra ficar mais bonito), misture e pincele a torta por cima antes de levar ao forno pré-aquecido a 180 graus, por mais ou menos 40 minutos ou até que fique dourada.
Ela sempre servia com um arroz cozido junto com pimenta branca e salada de alface com tomate e, lógico, uma cachacinha.
* É chef de cozinha.