Kamila Amaral
Notícias Gerais
São João del-Rei e Barbacena registraram, de janeiro a junho de 2020, respectivamente, três e oito suicídios consumados. As tentativas foram 55, em Barbacena, e quatro, em São João del-Rei. Os dados são do Observatório de Segurança Pública da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (SEJUSP – MG).
Apesar das preocupações com a saúde mental da população durante a pandemia, o que poderia aumentar os casos de suicídio, os números mostram que houve uma ‘estabilidade’ em relação ao número de tentativas e os casos de suicídio consumado, em Barbacena e São João del-Rei, foram menos frequentes nos primeiros seis meses de 2020, em comparação ao mesmo período de 2019.
De janeiro a junho do ano passado, Barbacena registrou 17 suicídios e 54 tentativas. Em São João del-Rei, foram seis tentativas e seis casos consumados.
Saúde Mental e pandemia
A psiquiatra e professora da UFSJ, Carmem Marquês Lopes, lembra que o início da pandemia foi marcado pelo crescimento dos níveis de ansiedade da população. No entanto, trabalhadores da área da saúde e segurança pública, que atuam na linha de frente do combate à pandemia, enfrentaram situações mais delicadas de incerteza e ansiedade. Boa parte do restante da população apresentou um maior desgaste mental decorrente das mudanças de hábito causadas pela pandemia.
Para a psiquiatra, vários fatores podem ter influenciado o não aumento do número de suicídios em Barbacena e São João del-Rei. Um deles seria o cuidado que a comunidade médica, universitária e alguns setores da sociedade civil dedicaram a questão da saúde mental da população durante a pandemia.
Ela ressalta, no entanto, que parte do que está acontecendo durante a crise só poderá ser compreendido totalmente com estudos que devem ser realizados no pós-pandemia. Baseando-se em sua formação e em conhecimentos empíricos, a professora enumera três possíveis explicações para os dados apresentados.
A primeira delas é que o número de notificações pode ter diminuído justamente porque, em casos de tentativas de suicídio, por exemplo, as pessoas podem ter tido receio de procurar o sistema de saúde, enquanto este estava voltado para o enfrentamento da Covid-19.
“Esse dado vai precisar ser analisado posteriormente com bastante cuidado, para a gente não acabar achando que houve uma queda do número de tentativas de suicídio, por exemplo, quando pode ter havido uma queda da ida das pessoas aos serviços de saúde”, enfatiza a psiquiatra.
A reorganização dos núcleos familiares durante o isolamento social também é uma das alternativas consideradas por ela, uma vez que com a maior proximidade pode ser mais fácil perceber os membros em estado mais vulnerável.
Por fim, as iniciativas de cuidado psicológico oferecidas nos meios virtuais também são vistas como tendo impacto positivo nesse cenário de prevenção. “A gente tem tradicionalmente, aqui na nossa região, um déficit de atendimento psicológico. Os sistemas de saúde muitas vezes não conseguem dar conta. Hoje em dia, em nossa sociedade é muito frequente o sofrimento emocional, o comodismo emocional”, avalia Lopes.
Setembro Amarelo
O Setembro Amarelo é uma campanha destinada aos cuidados com a saúde mental, focando, principalmente, na prevenção do suicídio. “Porque o suicídio, digamos assim, é o pior desfecho que a gente pode ter de um adoecimento mental”, declara a professora de Psiquiatria da UFSJ.
O reconhecimento do adoecimento mental, principalmente da depressão – que é o maior catalisador nos casos de suicídio – enquanto problema médico sério e real deve ser o primeiro passo tomado em direção ao tratamento.
“Algumas pessoas ainda acreditam que depressão é frescura, besteira, falta de vontade da pessoa, quando não é. A depressão é uma doença e, em algumas situações, pode ser extremamente incapacitante”, informa.
Enquanto a propagação de informações sobre depressão e outras formas de adoecimento mental pode ser muito benéfica. Pode também levar pessoas que estão passando por fases difíceis, mas que são comuns na vida, a procurarem ajuda através da medicação equivocada. Segundo a psiquiatra, é essencial ouvir, com atenção, o que a pessoa em sofrimento tem a dizer.
“Se a gente para e escuta com calma, muitas vezes, só isso já é terapêutico e já ajuda aquela pessoa a perceber se está exagerando um pouco ou, pelo contrário, que ela realmente está sentido isso a muito tempo, está sendo muito difícil e ela precisa buscar ajuda”, finaliza.