André Frigo *
Na nossa família é uma tradição que passa de geração para geração. Todas as conversas, todas as “chamadas de atenção”, os conselhos, as orientações sempre vinham acompanhadas de um provérbio ou um ditado. É tão presente, tão entranhado no jeito de ser da família de minha mãe que os provérbios tinham donos. Bastava um deles ser citado e alguém comentava: “esse é da vovó” ou “Bibi sempre falava esse”. E a gente sem perceber vai transportando para as próximas gerações. Meus filhos já repetem alguns com naturalidade.
Quando a gente chegava em casa abatido ou revoltado com alguma situação, nossa mãe escutava nosso drama, aconselhava e terminava solene: “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe”. Isso era o suficiente para a gente se sentir renovado na coragem para enfrentar o mundo. Quando o desespero era grande, ela sentenciava: “para tudo tem solução, só não tem solução para a morte”. Como não ter certeza de que tudo seria resolvido depois disso.
E tinha as lições de moral, quando a gente fazia algo de errado, mas não tão grave. Apenas um puxãozinho de orelhas. Por exemplo, quando a gente deixava alguma carona nos esperando ela declarava firme: “quem está na garupa não governa as rédeas”. Essa era a favorita do meu avô Theodoro que sempre a usava para justificar o fato de estar de pé desde as cinco da madrugada para uma carona que iria pegá-lo às sete horas. Esse já é um provérbio que meus filhos incorporaram nas falas deles.
Existiam provérbios para tudo. “Pau que nasce torto, até a fumaça sai torta” para sentenciar que as pessoas não tinham como mudar seu jeito de ser. Ou “Quem tudo quer, tudo perde” para curar a ganância. “Nessa vida é um para fazer e cinco para conferir” que era o preferido do meu pai para chamar a atenção das pessoas bisbilhoteiras que ficam cuidando da vida dos outros. Meu pai era meio desorganizado e quando alguém ia cobrar dele algo mais dentro das normas ele saia com essa. Minha vó Albertina declarava com frequência que a pessoa “guarda o que fazer, mas não guarda o que comer”. Esse eu nunca entendi direito, mas concordava porque nunca consegui guardar comida.
Sempre que alguém negava fazer um favor era sentenciado com “deixe estar jacaré, um dia a lagoa há de secar”. Diante de uma ameaça dessa, logicamente que a gente voltava atrás e fazia o que era pedido. Mas os provérbios também consolavam. Quantas vezes escutamos “o que é do homem o bicho não come” quando achávamos que estávamos sendo vítimas de alguma injustiça ou alguém estava tomando algo que era nosso por direito. Tinha peso de lei, vinha na gente a certeza de que a justiça prevaleceria no final.
Porém, se todos os anciãos e todas as matriarcas da família pudessem estar reunidos nesses dias tumultuados pelo coronavírus… Se eles estivessem assistindo esse vai e vêm da política, a hesitação dos mandatários do país em implementar medidas fundamentais para o funcionamento da nação, com certeza diriam em alto e bom som: “cedo é hora, tarde talvez não haja mais tempo”!
* É jornalista, servidor público aposentado e diretor-administrativo do Notícias Gerais